11 de setembro: O que Mudou?
20 anos depois do 11/9 já podemos resumir no que o Mundo se tornou
O atentado terrorista que vitimou o coração da América marca o apogeu do imediatismo da informação e uma mudança do paradigma das liberdades e garantias dos cidadãos nas democracias ocidentais. 20 anos depois muita da nossa atualidade é resultado desse episódio.
Lembro-me bem do dia 11 de setembro de 2001. Era uma terça-feira normal para um jovem jornalista. Tinha acabado de chegar a casa para um almoço à velocidade do som mas assim que liguei a televisão fui atingido pela velocidade da luz.
Surpreendido com o desenrolar das notícias, foi no momento em que vi em direto o embate do segundo avião na torre sul do World Trade Center que cheguei à conclusão que o séc. XXI começou naquele exato momento e que, daí em diante, a velocidade como as coisas se movem ganhou um salto de proporções paranoicas.
Se há uma temática que nos pode ajudar a construir um resumo dos acontecimentos que advém deste episódio é a da velocidade com que a informação, verdadeira, falsa, manipulada ou não editada nos alcança.
Aos meus alunos de comunicação costumo ensinar que o primeiro grande episódio que marca a globalização da comunicação é o assassinato, a 15 de abril de 1865, do presidente norte-americano Abraham Lincoln. Nesse tempo, a notícia levou 13 dias para chegar à Europa e cerca de 20 para dar a volta ao mundo. Em 1929, na célebre “quinta-feira negra” de 24 de outubro de 1929, a queda da Bolsa de Nova Iorque levou dois dias e o “crash” da Bolsa de Hong-Kong, em 23 de outubro de 1997 demorou apenas 13 segundos até os alarmes soarem em Londres, Nova Iorque, Tóquio. Os atentados de 11 de setembro: o mundo inteiro absorveu a cascata de acontecimentos no momento.
Se anteriormente já tínhamos assistido em direto à chegada do Homem à Lua ou à guerra do Kuwait, os acontecimentos da manhã de Nova Iorque e Washington precipitaram a sociedade para uma nova e assustadora realidade, um mundo que só agora começamos a entender, depois de desvanecida toda a histeria que assolou a sociedade.
Se a comunicação instantânea é resultado dos acontecimentos de 2001, provavelmente é entrar no limiar do exagero, mas a perceção de que todas as nossas mensagens são controladas, desde a mais simples notificação, passando pelos mais inocentes “posts” em alguma rede social, são a consequência de uma diminuição do direito à privacidade, outrora símbolos das democracias ocidentais e agora extirpadas em nome da segurança, a favor da luta contra o terrorismo. De uma sociedade libertária, nascida do pós-guerra e das manifestações dos anos 60, passamos para uma realidade securitária, xenófoba, em que à mínima visão de um cidadão de pele escura, barba longa e, na pior das hipóteses, com um turbante, logo nos pomos a pensar, invadidos pelo temor, se não estamos perante um potencial bombista. Simplesmente neurótico. E é esse estado de constante ansiedade e medo com que o terror se vai alimentando à medida que outros acontecimentos igualmente hediondos, como os atentados de Madrid, de Londres, de Paris e tantos outros, se vão desenrolando, transferindo para as mãos dos governos a autorização para que se encontrem cada vez mais razões para essa visão policial, quase militarizada da sociedade, em que o simples toque de um telemóvel ou uma mochila esquecida num banco se torna motivo de temor.
Contudo, o impacto vai muito para além da forma como vivemos o dia-a-dia e como o medo do terrorismo controla, encapuçado, os passos, as conversas, as viagens, as compras, a formação que obtemos, quem são os nossos amigos. O atentado às Torres Gémeas e ao Pentágono provocou uma guerra, que apesar de não ser mundial, ganhou contornos que produziram eco à volta do globo, a partir do momento em que o Ocidente invade o Afeganistão ou engendra um novo conflito com o Iraque.
A partir daqui as próprias forças que fazem mover o globo oscilaram. Novas personagens no concerto das nações tomam o seu lugar rumo a um novo equilíbrio de forças, onde a China e outras economias emergem, a Rússia procura resgatar, sobretudo no plano da informação estratégica e de espionagem, a sua antiga glória, enquanto que os Estados Unidos e a Europa optam (com mais ênfase para o país que viu Trump ser eleito presidente) por um isolacionismo galopante, exacerbado pelo momento de pandemia a que o mundo assiste atualmente.
E entretanto o mundo acordou para a crise das alterações climáticas, temos cada vez mais carros elétricos, saídos da inspiração de um homem que nos quer ver pisar Marte, sem antes resolver os problemas da casa de partida.
Mas se agora o mundo nos parece mais fechado, apesar de estarmos à distância um dos outros por apenas um clique, também é verdade que enquanto seres sociais também temos optado por nos isolarmos, atrás de um ecrã (cada vez menos atrás das páginas de um livro), buscando companhia em publicações supérfluas de alguém que viajou milhares de quilómetros só para ganhar uma selfie ou que conta as calorias que ingeriu ao almoço. Não me lembro o que almocei naquele início de tarde de terça-feira de 11 de setembro de 2001, recordo-me apenas que me caiu mal, por culpa da velocidade da luz.