
7 formas de criar felicidade
Como desenvolver habilidades para uma vida feliz?
Como comentei no meu artigo anterior, Como ser feliz em tempos de incertezas, aqui na Draft World Magazine, a felicidade é uma habilidade e não um traço de personalidade ou uma condição.
Ressalto que para as pessoas mais felizes do mundo, o estado de contentamento e alegria é uma habilidade que elas praticam e que qualquer um pode aprender.
Neste artigo, vamos tratar de 7 habilidades que podemos desenvolver em nós mesmos e que nos ajudarão a lidar melhor com as circunstâncias da vida.
Shawn Achor, em seu livro, Por Trás da Felicidade, defende que para que possamos ser felizes e bem-sucedidos, precisamos, primeiro, ser capazes de enxergar que mudanças positivas são possíveis.
Todos temos uma inteligência lógica, outra emocional e outra social. Apesar disto, elas não são habilidades suficientes para encontrarmos a felicidade e o sucesso que tanto almejamos.
A magia da felicidade tem mais a ver com a forma como enxergamos o mundo.
Quais são, então, as habilidades que podemos desenvolver para nos sentirmos mais felizes?
A Neurociência e a Psicologia Positiva nos apontam mais de 7 habilidades, entretanto, nesse artigo vamos abordar as seguintes:
1. Gratidão - Exercitar de forma deliberada a gratidão
A felicidade é sentida e transferida para todo o nosso corpo à medida que inúmeras endorfinas são liberadas pela medula espinhal e pela corrente sanguínea toda vez que estamos ao lado daqueles que amamos, quando ouvimos nossa música favorita ou simplesmente quando damos um passeio e exercitamos a atenção plena naquela situação. Dessa maneira, percebemos uma melhora em nosso humor e até uma redução da intensidade de certas dores.
Como escrevi no artigo anterior: Quando focamos nas coisas às quais somos gratos, treinamos o nosso cérebro para dar ênfase às coisas, pessoas e circunstâncias que liberam os neurotransmissores do bem-estar e felicidade!
Para cada experiência que vivenciarmos, se estivermos a exercitar deliberadamente o estado de gratidão, nos conectaremos connosco mesmos e quando menos esperarmos, estaremos felizes sem “saber porquê”.
2. O perdão liberta
Nada bloqueia mais o sentimento de gratidão quando você está com raiva ou com ressentimento de alguém. Por isto o perdão é tão importante na prática da gratidão.
Não conseguimos receber as dádivas de uma relação que se encerrou, por exemplo, enquanto ainda nos sentimos feridos pela traição ou magoados pela deceção. Não adianta nem forçar a gratidão.
O ditado diz que “o perdão liberta”. Não ao outro. A nós mesmos.
Eu mesma vivi isso com meu pai. Por vinte anos ele ficou sem falar comigo (longa história) e decidi perdoá-lo. Viajei até onde ele morava e antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se antecipou e me pediu perdão. Foi lindo. Eu não esperava por isto. Eu me senti tão feliz e tão leve. E ele também. Jamais esquecerei este momento. Por isto, encorajo a todos o exercício do perdão.
Consoante pesquisas, o perdão está relacionado ao bem-estar e a felicidade em nossas vidas. A capacidade de perdoar significa um alívio de mágoas antigas que, quando presentes, acabam por levar a pessoa a uma vida curta por comprometer sua saúde mental, sua saúde física e seu bem-estar.
Sei que é difícil. Experiência própria. Recomendo que você escreva uma carta a alguém que lhe machucou muito e coloque tudo para fora. Não. Não precisa enviar a carta. Serve para sua reflexão. Relate, também, o que aprendeu com esta situação e depois escreva uma carta para você mesmo, a se perdoar por não ter estabelecido seus limites.
O perdão leva a um lindo movimento de cura, a um transbordamento de gratidão por tudo o que antes foi doloroso e por todas as lições que lhe ensinaram a ser esta pessoa mais forte, amorosa e que cuida melhor de si.
3. Desenvolver a resiliência
Essa é uma das habilidades mais importantes para ter uma vida feliz. Essa habilidade está relacionada com a capacidade de se recuperar e crescer após sofrer algum trauma ou situação emocionalmente impactante.
Segundo o dicionário, “é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica”. Quando fazemos uma analogia deste conceito com o desenvolvimento humano, é possível constatar que com uma mente flexível aprendemos que as lições não são para nos derrubar, mas para nos fazer mais fortes, mais corajosos, despertos de nossa potência e desta forma, enfrentamos as adversidades com protagonismo e determinação. Evoluímos com as dificuldades, aprendemos com cada acontecimento.
Às vezes leva tempo, outras vezes dá muito trabalho, mas, definitivamente, é uma capacidade que todos nós podemos desenvolver com força de vontade e empenho suficientes.
“A resiliência aumenta a autoconfiança, e esta aumenta a segurança. Ou seja, três pelo preço de uma”.
Autor desconhecido
4. Savouring
Da palavra inglesa “savour” e muito usada na psicologia positiva, “savouring” é simplesmente desfrutar de uma experiência lentamente, a fim de apreciá-la o máximo possível.
Saborear os momentos da vida faz bem para a saúde e isto pode ser feito durante e depois de um acontecimento positivo.
Um dos benefícios desta simples prática é que está provado que pessoas inclinadas a saborear seus momentos positivos são mais autoconfiantes, extrovertidas e contentes, e menos desesperadas e agressivas.
Quem for capaz de capturar a alegria do momento presente têm menos probabilidade de sentir depressão, stresse, culpa e vergonha.
E como você pode praticá-lo? Simples:
► Celebre as pequenas vitórias;
► Curta a beleza da natureza enquanto faz uma caminhada. Aprecie a vista, os pássaros, a chuva, a natureza em ação;
► Deguste uma iguaria que você ama (eu amo sushi) com todo o prazer que puder;
► Esteja com a atenção plena ao estar com seus amigos e pessoas amadas e desfrute deste momento.
Aplique a atenção plena associada ao prazer ao longo do seu dia-a-dia e você verá quanta diferença fará em seu quotidiano.
5. Compaixão
Segundo o Dalai Lama, a compaixão e o amor caridoso são as características principais da realização plena da felicidade.
A compaixão é a habilidade que temos de compreender o sofrimento do outro e corresponde ao desejo de aliviar e reduzir esse sofrimento.
O psicólogo e pesquisador Paul Gilbert, criador da terapia centrada na compaixão, aponta que sentir compaixão não quer dizer sentir pena das outras pessoas. É mais uma motivação que nos dá energia para ajudar as outras pessoas, de maneira que elas mesmas consigam aliviar seu próprio sofrimento com a nossa ajuda.
Tão importante quanto a compaixão é a autocompaixão, uma vez que nos conduz a uma atitude compreensiva connosco mesmos, especialmente quando as coisas não saem como esperamos.
Aprenda a desenvolver a compaixão e a autocompaixão. Isto lhe ajudará a sentir mais felicidade e satisfação com a sua vida diária.
6. Atenção plena
A atenção plena é uma prática milenar, com origem no budismo e somente a partir de 1979 se difundiu pelo mundo.
O “Mindfulness”, como é chamada a técnica de atenção plena ao momento presente, traz benefícios à saúde comprovados cientificamente e com esta técnica nós podemos acolher os sentimentos que surgem, mesmo sendo difícil.
► Controle do stresse e ansiedade
Um estudo feito por professores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, comprovou que a meditação “mindfulness” pode ser muito efetiva na diminuição de sintomas relacionados ao stresse e à ansiedade, inclusive até em crianças. A explicação estaria, consoante o levantamento, diretamente ligada com a redução do cortisol, hormônio relacionado com o stresse físico e emocional.
► Diminuição da insónia
Já em outra pesquisa, divulgada em um jornal suíço sobre saúde mental, foram obtidos resultados intrigantes no que diz respeito à relação entre sono e atenção plena.
Conforme esse levantamento, foi possível constatar que aquelas pessoas adeptas à técnica “mindfulness” conseguem controlar melhor a sua rotina, o que lhes permite resolver todas as questões pendentes ainda durante o dia. Isto lhes proporcionava um sono melhor e mais reparador.
► Forma de autoconhecimento
Em um artigo publicado pelos pesquisadores Joseph Ciarrochi e John T. Blackledg, é possível comprovar também que os benefícios da atenção plena não se encerram somente nos praticantes da meditação, mas se estendem às pessoas de suas relações, uma vez que a pessoa adepta à técnica desenvolve a sua inteligência emocional e passa não só a controlar melhor sua relação consigo mesma, como, da mesma forma, usar seus atributos positivos para melhor conviver com o próximo.
7. Generosidade – Pratique-a sem limite
Uma das mais fascinantes áreas de pesquisa que aborda essas questões é buscar as origens de certos tipos de qualidades virtuosas como ser gentil com o outro, que acaba por ser um dos estímulos ou situações mais fortes para produzir felicidade.
As pesquisas apontam que quando as pessoas se engajam nesse tipo de prática para fortalecer esses atributos emocionais, ocorrem alterações no cérebro.
A generosidade faz você uma pessoa mais feliz, segundo o cientista da Universidade de Winsconsin (USA), Dr. Richard Davidson. O estudo comprovou que as pessoas engajadas no bem do próximo são mais felizes do que aquelas que focam apenas em si. A prática da gentileza, da atuação voluntária promove um sentimento de bem-estar e de satisfação com a vida que perdura por semanas e até meses.
Com base em um estudo conduzido pelo Dr. Richard Davidson, a ideia de que, se aprendermos a ativar, por meio de atos generosos, a área esquerda do lobo pré-frontal do cérebro com frequência, podemos aprender a ser felizes.
E o melhor de tudo é que para ativar essa área, responsável pela felicidade de acordo com esse estudo, você não precisa fazer nada muito complicado. Se você fechar os olhos, respirar com atenção plena, relaxar as tensões e pensar e sentir emoções positivas como bondade, compaixão, perdão, gratidão, apreciação dos momentos bons, a felicidade fluirá mais facilmente para você.
Conclusão:
O importante é saber que existem formas de reprogramar novas rotas neurais para uma felicidade sustentável pela prática diária.
Procure exercitar algumas das habilidades que partilhei com você, e quem sabe até todas elas! Você se surpreenderá com os resultados. Tenha em mente que elas não são desenvolvidas da noite para o dia. É necessário decisão, empenho e consistência.
Ao praticar essas habilidades, você irá criar uma fonte renovável de positividade, motivação e engajamento que permitirá que atinja todo o seu potencial em tudo o que fizer.
Eu acredito que o sentimento de felicidade só é pleno quando é compartilhado e por isto, sinto-me imensamente feliz em ter partilhado este conhecimento com você.
Espero ter contribuído um pouco para que você se sinta melhor com a vida neste momento e nos próximos vindouros.
Com amor e gratidão!
Autora | Ana Bacellar - Chief Happiness Officer formada pela Florida International University; Certificada pela Universidade de Yale no curso The Science of Well-Being, PNL Practioner pelo The Next Level Institute e Coach Integral Sistêmico pela FEBRACIS. Alia sua experiência como executiva premiada, ao longo dos seus 38 anos de carreira, aos conhecimentos técnicos e agora dedica-se a criar um efeito multiplicador do sentimento de felicidade por meio da conscientização das pessoas.
Fotografia | Jill Wellington