Casa: um bem essencial

Casa: um bem essencial

Atualmente vivemos tempos de carência provocados pela abundância. É um paradoxo, é certo, mas aquilo a que assistimos hoje como carência de recursos e desigualdade de oportunidades, decorre essencialmente dos excessos de lucro, do acumulo de rendimentos, da exploração desmesurada dos meios naturais, da má distribuição dos bens disponíveis para a humanidade como um todo.

Embora muitas vezes escutemos o contrário, o certo, é que os recursos estão mal distribuídos e o pior é que continuamos a teimar num comportamento egoísta, eurocêntrico e verdadeiramente pouco solidário para com quem necessita. Apesar da sobrepopulação que temos a nível planetário, esta entra em contradição com zonas de globo em que existe baixa densidade populacional. Somos muitos, mas mal distribuídos, tal como os recursos disponíveis. Claramente necessitamos de uma economia à escala humana baseada em recursos eticamente distribuídos. Acresce que o modo de vida consumista que se instalou, quando não se verifica, ainda continua a ser uma aspiração para a maioria das pessoas. Tudo ao mesmo tempo para todos, o que é verdadeiramente insustentável, apesar do “mantra” da sustentabilidade que nos habituamos a ouvir, que regra geral aponta sempre para a frente embora nunca se alcance, pois é perversamente irrealizável deste modo e deste jeito. Quem pode sabe, mas pouco faz. A sustentabilidade é para o agora, não para depois.

O rumo dos acontecimentos planetários segue o seu curso sem um verdadeiro sentido de sustentabilidade presente que tenha efetiva repercussão no futuro. Ou seja, as decisões que escolhemos assumir, sejam escolhas governamentais, coletivas ou individuais influenciam o rumo dos acontecimentos e da vida das pessoas. Embora existam indicadores esperançosos, são muito morosos e burocráticos.

O que vivemos hoje decorre de irresponsabilidade, negligência, ignorância ou má-fé ocorrida no passado que cristaliza no presente. Há responsáveis.

Somos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer, sabendo que podemos e devemos fazer diferente hoje e no futuro.

Embora não pareça, do que falamos é de Psicologia e do que está por detrás de comportamentos humanos que condicionam a vida das pessoas concretas, mas, mais do que procurar desocultar e compreender o que se esconde ou o que se insinua em tais comportamentos, vamos analisar e refletir sobre as consequências atuais de instabilidade, da imprevisibilidade e da insegurança. Sobre o que elas representam para as famílias, para as pessoas e para os jovens em particular.

Vamos falar sobre o que representa para as pessoas não poderem vislumbrar horizontes de futuro, não poderem identificar destinos que sejam promissores e concretizáveis potencialmente e num prazo realístico para com a sua esperança de vida. Nomeadamente na estruturação de um projeto de vida seja ele de que jeito for, só ou acompanhado. 

Abordaremos essencialmente o impacto de não se poder vir a ter casa própria para viver e desse modo desenvolver o seu projeto existencial, seja pelo aluguer, seja pela compra. Não falaremos aqui da perversão da especulação que cresce, falaremos essencialmente do impacto que esta realidade tem sobre o bem-estar psíquico e social das pessoas, em particular nos jovens.

Uma casa representa essencialmente um espaço para viver. Viver com tudo o que a vida tem, autonomia, afirmação, descanso, alimento, recriação, relação, encontro, privacidade, intimidade, lazer, segurança, acolhimento, identidade, afeto, memória e recordação. Tudo isto pautado com tudo o que pode ser o seu habitar, ou seja, com todo o colorido emocional que tem quem a habita e que o traz para o espaço casa.

Privar alguém a longo prazo e recorrentemente deste direito reconhecido constitucionalmente é privá-lo de tudo o que é humanamente necessário para se poder desenvolver um projeto existencial e ou parental digno de nome (se for essa a sua escolha), no tempo oportuno e admissível existencialmente, pois bem sabemos que não temos todo o tempo do mundo. 

Arrancar estas possibilidades aos jovens, essencialmente a eles, é privá-los do seu potencial de cidadania em plenitude, pois veem-se privados do sonho-projeto que os alimenta, que os desenvolve numa comunidade, que potencia uma sociedade e que enriquece um país. As consequências são danosas como já se veem, nomeadamente o aumento da ansiedade, do pânico, o incremento da depressão e do vazio existencial. Atualmente testemunhamos por grande parte da humanidade ao aumento da indiferença existencial e a um deambular desbussolado rumo a um futuro sem norte.

É urgente cuidar de um presente com futuro para todos. Necessitamos de criar e garantir condições de sustento, saúde e sabedoria, para que a bondade, o belo e o bem possam verdadeiramente florescer. Desse modo promovemos saúde, essencialmente pelo chão existencial comum feito de horizontes de futuro. Um chão que desse modo se fundamenta num cuidado ontológico e essencial. Todos precisamos de um chão comum para caminhar, um chão que possa ser um jardim onde cada um e cada uma, ao seu modo e ao seu jeito possam jardinar em benefício de todos, por todos e pelos que virão.


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