Comemorar a Paz em Dose Dupla em Tempo de Guerra
A Guerra da Ucrânia persiste apesar dos constantes apelos ao fim do conflito. Esta semana recordamos as duas datas que o mundo dedica ao esforço de preservação da paz: 21 de setembro e 1 de janeiro. Conheça a história destas duas datas que buscam manter viva a necessidade de abolir o belicismo e a violência no mundo.
Na viragem para um novo ano, entre as passas, as rabanadas e o champanhe, a sociedade contemporânea habituou-se a exultar a paz no primeiro dia de janeiro. Mas, talvez, grande parte da sociedade desconhece que, afinal, o Dia Internacional da Paz comemora-se, de facto, a 21 de setembro. Porquê a existência de duas datas para a mesma temática? A resposta tem, obviamente, origem histórica.
Não há dúvida que a mais assinalada é a de 1 de janeiro. Contudo, a sua fundação tem uma natureza religiosa, já que esta data foi proposta pelo Papa Paulo VI, em 1967, um ano marcado pela escalada, sem procedentes, do conflito do Vietname (1959-1975), no auge da Guerra Fria, e ainda pela Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho), que opôs Israel aos seus vizinhos árabes (Egito, Síria, Jordânia e Iraque). Com a tarefa de levar a bom porto a reforma da Igreja Católica iniciada por João XIII, no contexto do concílio Vaticano II, o Papa, nascido Giovanni Battista Enrico António Maria Montini, viu, no decurso do esforço do seu antecessor em iniciar uma nova era de reflexão sobre a paz no mundo, uma oportunidade para despertar as consciências quanto à necessidade de por fim ao militarismo no globo. Paulo VI buscou dedicar o primeiro dia do ano à paz sem “a pretensão de ser qualificada como exclusivamente religiosa ou católica”, escreveu. Numa mensagem datada de oito de dezembro de 1967, o Pontífice declarou a intenção da igreja em criar o “Dia da Paz”, com o objetivo de encontrar “todos os verdadeiros amigos da paz”, a ser comemorado por “todos os homens de boa vontade, para os exortar a celebrar, em todo o mundo, no primeiro dia do ano civil”. O sucessor do trono de S. Pedro assinalou o compromisso da Igreja em criar esta iniciativa “com a esperança de que ela venha não só a receber o mais amplo consenso no mundo civil, mas que também encontre por toda a parte muitos promotores, a um tempo avisados e audazes”. Desde então, todos os anos, a Igreja Católica tem proposto temas para reflexão. A título de exemplo, em 2020, o Papa Francisco escolheu como pano de fundo “A Paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica”.
Já o dia 21 de setembro surge como uma proposta lançada pelas Nações Unidas (ONU), como forma de sensibilizar os estados beligerantes para o fim dos seus conflitos, de forma a promover a ausência da guerra e a violência entre os povos, e, ao mesmo tempo, alertar para a necessidade de se criarem períodos de cessar-fogo nos territórios em guerra, para que possa ser prestada ajuda humanitária às populações.
Comemorado, pela primeira vez, em 1981, a data começou por ser celebrada a cada terceira terça-feira de setembro. Foi em 2001, dez dias depois do ataque terrorista às Torres Gémeas e a Washington, que o dia 21 de setembro foi decretado, pela ONU como “feriado” fixo.
Todos os anos o Dia Internacional da Paz arranca, na sede principal da organização, em Nova Iorque, com o toque do “Sino da Paz”. Oferecido pela Associação das Nações Unidas do Japão, em 1954, por iniciativa do ativista e político nipónico Chiyoji Nakagawa, tem a forma de um “bonsho”, um típico sino de um templo budista da ilha de Shikoku (conhecida pelo seu importante caminho de peregrinação, sendo apelidado por muitos como o “Caminho de Santiago Japonês”) de um metro de altura e 60 centímetros de diâmetro, com o peso de 116 quilos. Feito a partir de bronze de moedas doadas por crianças de todos os continentes à exceção de África (aludindo à realidade de pobreza que este continente tem vivido ao longo dos anos) mas também de balas, medalhas e placas de cobre que Chiyoji Nakagawa foi recolhendo à volta do mundo, o “Sino da Paz” conta ainda com nove moedas de ouro oferecidas pelo Papa Pio XII. Inscrita no sino, em caracteres japoneses, podemos encontrar, ainda, a mensagem “Viva a paz mundial absoluta”.
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