Como Reconhecer e Prevenir Relações Abusivas?
Quando saudáveis as relações humanas fazem circular poder e liberdade. O poder é a potência de ser, a força que dá forma ao gesto vital, ao conteúdo do desejo, ao comportamento, à palavra. Falamos da palavra humana, da palavra que se faz fala no encontro entre dois seres humanos, uma palavra que pode vir a ser maiúscula, porque saudável e amorosa. Numa relação entre humanos, Poder é possuir energia que se pode concretizar nas possibilidades realizáveis do existir. É algo realizável quando assume a escolha da pessoa firmada no seu momento existencial quotidiano.
A liberdade entre pessoas, é quando se experimenta o deixar ir espontâneo, o deixar ir que gesta o movimento da emoção, do afeto e do sentimento. É livre quando o movimento vital corre sem entraves ou limites que o oprimem, mas que o modelam na conduta humanizada e humanizante entre pares.
No entanto convém lembrar que nem sempre poder é sinónimo de saúde, e nem sempre a liberdade é assumida como possibilidade de ser e deixar ser.
Quando é que um relacionamento é abusivo?
Um relacionamento é abusivo quando uma pessoa da relação tem um poder excessivo sobre o outro, quando este poder transborda e ultrapassa os limites necessários ao bom entendimento, quando não há respeito pela legitimidade de o outro ser outro, ser de outro modo, de outro jeito. Quando assim é as atitudes e ordens verbais que humilham e causam dano começam a ocorrer e vão se instalando.
Muitas pessoas vivem um relacionamento abusivo e não sabem. Parece inusitado, mas acontece, existe uma tendência a desvalorizar os comportamentos excessivo que se vão anunciando na relação, isso ocorre porque ainda existem muitas pessoas que acreditam que uma relação só é abusiva quando existe violência física ou verbal. Mas, um relacionamento familiar, amoroso, com amigos e colegas de trabalho onde haja intimidação, abuso de poder, manipulação, perda da liberdade, punição, jogos de poder, violência psicológica ou humilhação pode ser considerado abusivo.
Existem sinais de alerta e alarme aos quais devemos prestar atenção, nomeadamente quando estamos sobre a presença de comportamentos que revelam: chantagem, mentira, engano, desprezo, ignorância do outro, ciúmes excessivos, ofensa, humilhação, intimidação, ameaça, diminuição, proibição e controlo. À medida que o abuso se instala, ele cresce, intensifica-se e aumenta na gravidade dos comportamentos manifestos.
Existem frases relativamente comuns que considerando devidamente o contexto e situação são sinais reveladores de abuso e mal-estar relacional. São expressões que devemos saber identificar. Trata-se de frases que muitas vezes são consideradas como “normais”, mas que na verdade são um alerta:
• “Não tens jeito nenhum”
• “Se saíres não voltes mais”
• “Não te deixo ir”
• “Eu não quero que saias com fulano ou beltrano”
• “Mais ninguém vai-te amar como eu”
• “Isso é uma coisa só nossa, ok?” (sobre as discussões e agressões).
Quando o outro diz que não tem capacidade, inteligência, beleza ou expressa qualquer outro comentário negativo dito repetidas vezes e em tom sério, podemos estar num comportamento que se enquadra naquilo que chamamos de abuso relacional.
Trata-se de algo que devemos aprender a cuidar, educar, prevenir, denunciar. Estamos todos implicados, pois como tão bem nos recordava o nosso Almada Negreiros:
“cada um é o resultado de toda a gente”.
Ser humano é ser na relação que se estabelece entre pessoas. "A interação humana estabelece-se entre pessoas, cada uma das quais tem a característica de ser um eu para si mesmo e cada uma das quais vê o outro como um tu. (...) Não pode haver um eu sem um tu, nem um eles, sem um nós".
Existem características de estrutura de caráter e personalidade que são ilustrativas das pessoas que tendem a envolver-se em relações de cariz abusivo, nomeadamente, a vulnerabilidade emocional acentuada, uma vulnerabilidade que vira fragilidade. São pessoas que tendem a afastar-se das relações familiares e de amizade que as poderiam alertar para a situação em que encontram. São pessoas que quando entram nesse padrão relacional abusivo tendem a ignorar os sinais observáveis e denunciantes que estão presentes no outro que pratica o abuso. São pessoas que apresentam características de dependência emocional e afetiva por medo de ficarem sós, e que quando se apercebem da situação em que estão pelo mal-estar e pelas consequências que se revelam, já estão enredas num lugar de inferioridade e numa teia do abuso.
São pessoas que ainda não possuem os parâmetros do que se enquadra naquilo que é uma relação saudável e de qualidade. Uma relação de qualidade é uma relação que qualifica e aumenta aquilo que se é, trata-se de uma relação em que se ambos se permitem ser quem são, e onde ambos se transformam, ou seja, encontram outras formas para agir e ser sempre que necessário.
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