Da brevidade e da demora

Da brevidade e da demora

Em férias há que” limpar o campo”. O que é isso? Poderia sem dúvida ser uma boa imagem agrícola, e até a podemos evocar, embora o Campo que temos em mente é o do ambiente psíquico que nos habita e no qual nos movemos interna e externamente. O Campo é composto por sensações, emoções, sentimentos, perceções, apreensões, afetos, no fundo tudo o que circula no e entre o espaço de fronteira das relações humanas. Ele acontece entre as pessoas e os seus contextos, situações e ambientes físicos. É ele, o Campo psicológico, que vai colorir e temperar a dinâmica relacional e afetiva de cada um e de cada uma.

Tendo em conta a sua dinâmica, em regra trata-se do modo próprio de habitar e circular no quotidiano dos dias. O jeito que cada um vai utilizando. Quando salutar, é arejado, flexível, diverso, disponível, aberto, fluido. Quando enfermo, é pouco firme, pesado, tenso, saturado, rígido, rotineiro, monótono, originando a sensação de ser sempre o mesmo — é o já famoso — outra vez!

Ora em férias, e não só, os ritmos vitais ganham outras nuances, pedem novos e renovados ajustes vitais, e claro que só se ajusta quem já o sabe e pode fazer. Só há criatividade vital quando existe disponibilidade para a abertura que o quotidiano dos dias é e traz, mesmo quando este se disfarça de rotina. Pois como diz Abel Cortese: “o quotidiano é mudança disfarçada de rotina”. É genial quando nos confrontam com o obvio que teimamos em não ver.

Ah! Pois é…como nunca me tinha dado conta?

Coitado, está cego para o presente, pois teima em olhar para o retrovisor da vida. Olha para o que está e quando olha para a frente assusta-se, turvasse-lhe a visão e tremem-se-lhe as pernas, não avança, cristaliza.

Mas há outra forma de caminhar sem cair ou colidir que não seja sentir os passos e olhar para a frente?

Não.

Então?

Caminhemos.

As férias… não é que elas por vezes nos inquietam, incomodam, irritam, mesmo sem disso nos darmos conta. Triste sina a de não saber estar, não habitar a vida na plenitude possível. A vida das férias pede-nos acolhimento de outros ritmos, pede-nos o exercício da presença, a vivência da brevidade e da demora, e um olhar que perscruta horizontes. Um olhar que adivinha longuras que se saboreiam na partilha de caminhares conjuntos.

Apenas nas férias? Não na vida, e por inteiro. Brevidade para o que não pede demora, e disponibilidade para a lentidão, quando necessária e oportuna.

A vida como ócio, não pode ser negócio,
pois ela afirma e confirma um pulsar
que se quer livre afirmação,
não negação.

Relação não é balanço de contas,
é encontro criativo.
Atividade não é utilidade,
é ação e jogo.

Praia não é bronze, é maresia,
é tempero salino do mar,
e mergulho no oceano,
é sabor de Berlim,
do doce que bola tem,
do doce que vida tem.

Entre a chegada e a partida, brevidade, demora, longura, horizonte.

Boas férias, boa vida.


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