Descubra o Charme do Comércio Tradicional Tripeiro
Conhecer a Invicta a partir do seu comércio tradicional é uma experiência inesquecível que nos coloca em contacto com o melhor dos produtos regionais, com selo de autenticidade nacional e sorrisos hospitaleiros. Nesta quarta crónica vamos viajando pela história de espaços emblemáticos agora extintos ou que ainda existem como o Armazém dos Linhos, os Armazéns Nascimento, ou a famosas Galerias Palladium, sem esquecer alguns dos cafés mais emblemáticos, como o Guarany ou o Majestic que durante o séc. XX promoveram a cultura na Invicta. Descubra estes e outros espaços emblemáticos da Invicta num roteiro inédito pelo comércio tradicional tripeiro.
5ª parte...
Na esquina com a Avenida dos Aliados não podemos esquecer o Café Guarany. Conhecido por ser o “Café da Música” é um dos muitos cafés que surgiram na cidade do Porto por alturas dos anos 20 e 30. Estabelecido pelo arquiteto Rogério de Azevedo (autor da remodelação do espaço), a decoração do interior do café merece destaque, sobretudo os altos-relevos em mármore indiano da autoria do escultor Henrique Moreira (mestre de obras célebres espalhadas pela cidade como “Os Meninos”, “Padre Américo” ou o “Lobo do Mar”, entre outras). Sem esquecer os dois painéis que retratam “Os Senhores da Amazónia”, obras de Graça Morais, que procuram homenagear a tribo nativa que habitou a região fronteiriça entre o estado brasileiro do Paraná com o Paraguai e o Uruguai. Em 1994 o recém-falecido empresário Agostinho Barrias adquire o Guarany, 11 anos depois de ter adquirido outro importante café da cidade, o Majestic.
Cruzamos a Avenida, em direção à rua de Passos Manuel, e ficamos felizes por saber que o Armazém dos Linhos ainda se encontra em atividade. Fundado em 1905, dedicou-se, desde sempre, à venda de tecidos, sobretudo linhos (alguns deles vindos da aldeia de Agra, na serra da Cabreira) e chitas (famosos os de Alcobaça). Atualmente nas mãos das irmãs Leonor e Filipa Pinto Basto, dedicam-se também à reprodução de padrões e estampados tradicionais portugueses.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Guarany Café.
Com as pernas já pesadas depois de percorrer quase seis quilómetros por entre ruas e mais ruas da Invicta, não se avizinha fácil subir o resto da “Passos Manuel” até Santa Catarina, onde já nos espera o Majestic, espaço fundamental do Porto, que, ao domingo, é motivo de desalento dos turistas pois é nesse dia que o café goza o seu merecido descanso. É, seguramente, um dos mais belos cafés do mundo, não ficando atrás de um “New York” de Budapeste ou de um “de La Paix” de Paris. É também outro arquiteto (à semelhança do Guarany), de seu nome José Pinto de Oliveira que, em 1921, idealizou aquele que chegou a chamar-se inicialmente de “Elite”. Cedo se destacou por receber a “nata” da cidade, à procura da sua decoração em arte nouveaux (tão em voga nas décadas de 20 e 30 em Portugal), com destaque para as paredes forradas com espelhos de cristal flamengo e os tetos em estuque trabalhados. Um ambiente completamente belle epoque que se estendia ao intimista jardim de inverno que se encontrava nas traseiras do café, com entrada para a Rua de Passos Manuel, em frente à antiga Casa Inglesa, loja de pronto-a-vestir que em 1930 ocupou o edifício onde atualmente está a relojoaria Marcolino. Olhando para a direita, e antes de seguir viagem rumo ao final do roteiro, avistamos, no seu todo, o edifício de outro espaço incontornável na história do comércio tradicional portuense, os Grandes Armazéns Nascimento, que abriram portas a 13 de junho de 1926. É um extraordinário edifício desenhado por um dos mais importantes arquitetos dos finais do séc. XIX e inícios do séc. XX português, Marques da Silva, autor, entre outros do projeto da Estação de comboios de S. Bento. Casa especialista em decoração e mobiliário deixou marca na cidade apesar do seu curto tempo de vida. Viria a fechar portas em 1934, depois de um incêndio que destruiu a fábrica daquele que se notabilizou como o maior produtor de móveis da Península Ibérica, António do Nascimento, obrigando os seus herdeiros a cessar a atividade dos armazéns. Pouco tempo depois, em 1940 o edifício veria nascer o luxuoso café Palladium e, mais tarde, as galerias de moda que está na base do nome pelo qual este espaço é ainda hoje conhecido, precisamente onde agora se encontra a cadeia de lojas da Fnac. Todos os dias é alvo de romaria por parte dos turistas e habitantes da cidade que se encontram pela Rua de Santa Catarina, para contemplar as figuras do relógio instalado a partir da segunda metade da década de 70, que de, três em três horas, brindam os transeuntes com uma aparição de dois minutos ao som de um pequeno carrilhão de sinos. E não falamos de figuras quaisquer, são personagens fundamentais da história do Porto, nada mais nada menos que (da esquerda para a direita) Almeida Garret, S. João Baptista, o Infante D. Henrique e Camilo Castelo Branco.
Cruzamos a Rua de Santa Catarina em direção à Rua Formosa e, ao passar no elegante Grande Hotel do Porto, lembramos a soma 4.500$00 reis que o imperador D. Pedro II do Brasil ainda deve ao antigo Grande Hotel do Louvre (que se encontrava junto à ala mais recente do Hospital de Santo António. Um “Porto” de má memória para o monarca que viria, anos mais tarde, a exilar-se e assistir à morte, em 1889, da sua esposa, a imperatriz Teresa Cristina Maria precisamente no hotel que acabamos de passar.
Novamente na rua Formosa é impossível esquecer as merecidas referências à Farmácia Almeida Cunha, fundada em 1890 e, mais abaixo, a típica confeitaria do Bolhão, aberta em 1896 que ainda hoje mantém muito da traça original, apesar de ter mudado de mãos, em 1998.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Majestic Café.
O roteiro termina de frente para a impressionante entrada do Mercado do Bolhão (autêntico “pulmão” do comércio tradicional da Invicta), encimada pela escultura “Mercúrio e Flora”, obra de Bento Cândido da Silva, bisavô do autor desta crónica.
Construído no lugar onde existia um “bolhão” de água, o atual Mercado do Bolhão abriu portas em 1914, num edifício idealizado por Correia da Silva (autor, entre outros, do projeto da Câmara Municipal do Porto). Desde sempre dedicada aos produtos frescos, encontra-se de cara lavada, fruto de um profundo restauro a que foi votado.
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