JMJ de 1989 marca o renascimento das peregrinações a Compostela
Por estes dias a cidade de Lisboa recebe a décima sexta Jornada Mundial da Juventude (JMJ), uma iniciativa da igreja católica fundada pelo Papa João Paulo II. A JMJ de 1989, realizada em Santiago de Compostela, marcou o regresso definitivo e em força das peregrinações jacobeias.
Lisboa recebe o Papa Francisco para participar na Jornada Mundial da Juventude, um evento religioso organizado pela Igreja Católica, que reúne jovens católicos de todo o mundo para celebrar a sua fé e espiritualidade. Na visita anterior do pontífice argentino a Portugal, em maio de 2017, o Papa deslocou-se apenas a Fátima, por ocasião do centésimo aniversário das aparições marianas.
A história da JMJ começou em 1984, por iniciativa do Papa São João Paulo II, e, desde então tornou-se um evento emblemático para os jovens católicos, que vai já na sua décima sexta edição. A primeira JMJ aconteceu em 1986, na cidade de Roma (que voltou a receber a iniciativa no ano 2000). O evento foi proposto pelo Papa João Paulo II como uma oportunidade para a juventude católica reunir-se para celebrar a fé cristã. Após o sucesso da primeira JMJ, o Papa João Paulo II decidiu tornar o evento internacional e itinerante. A partir de então passou a ser realizada a cada dois ou três anos em diferentes cidades do mundo, tendo já passado pelos cinco continentes, em destinos tão diversos como Buenos Aires, Częstochowa, Denver, Manila, Paris, Toronto, Colónia, Sydney, Madrid, Rio de Janeiro, Cracóvia e Panamá.
A JMJ tornou-se um fenómeno global, gerando um impacto significativo nas cidades anfitriãs, impulsionando, inclusivamente, o turismo religioso e incentivando a tolerância e o diálogo intercultural, resultando, ainda, comprovadamente, numa maior aproximação dos jovens à fé católica. Milhares e, em alguns casos, milhões de jovens de diversas nacionalidades têm-se juntado para celebrar com os pontífices que experienciaram a JMJ (João Paulo II, Bento XVI e Francisco) a juventude no seio da vida católica, simbolizados pelos dois signos que identificam esta iniciativa: a Cruz Peregrina (de mais de três metros de altura), também conhecida como a “Cruz do Jubileu”, “Cruz dos Jovens”, entre outros”; e o Ícone de Nossa Senhora, também apelidado de “Ícone das Jornadas”, que recupera a tradição iconoclasta mariana presente na basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, a primeira basílica do mundo dedicada à mãe de Jesus. Em todas as JMJ estes símbolos são expostos como referencial da importância de Cristo e Maria para o caminho de um cristão.
Fotografia | Chegada de João Paulo II à Catedral, em agosto de 1989, envergando as vestes de peregrino (com esclavina ornada de conchas de vieira e um bordão em forma de tau). Fonte: Pastoral Santiago.
Uma das mais impactantes e concorridas JMJ de sempre foi a que aconteceu com João Paulo II, em 1989, na cidade de Santiago de Compostela, que juntou mais de um milhão de peregrinos em apenas dois dias (19 e 20 de agosto). Esta foi a segunda vez que o 265º sucessor de S. Pedro visitou o túmulo do Apóstolo Santiago, com a primeira a ter lugar em 1982, ano Xacobeo.
Nessa anterior experiência compostelana, a primeira de um papa por terras galegas, João Paulo II deslocou-se como “peregrino pelas terras de Espanha”, terminando na cidade do Apóstolo um périplo de 10 dias pelo país de Santo Isidoro de Sevilha, São Domingos de Gusmão, Santo Inácio de Loyola, Teresa de Ávila e tantos outros nomes fundamentais do cristianismo.
Em plena catedral de Santiago, João Paulo II haveria de proferir a declaração que muitos dos amantes e estudiosos do “Caminho” acreditam ser o “rastilho” para a realidade que a peregrinação a Compostela vive até aos dias de hoje:
“Eu, Bispo de Roma e Pastor da Igreja Universal, de Santiago, envio-te, velha Europa, um grito cheio de amor: reencontra-te. Sê tu mesma. Descobre as tuas origens. Revive as tuas raízes”.
Esta mensagem encontra-se imortalizada numa lâmina de bronze que se encontra no interior da catedral.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos
Vários encontram no apelo do Papa (que ascendeu à categoria de santo em 2014) uma analogia à também histórica frase atribuída ao poeta germânico Johann Goethe “A Europa nasceu em peregrinação e a sua língua materna é o cristianismo”.
Volvidos sete anos (e já depois da UNESCO ter classificado o centro histórico de Santiago como Património Mundial, em 1985, e do Conselho da Europa ter atribuído ao Caminho de Santiago o título de primeiro itinerário cultural europeu, em 1987), João Paulo II haveria de reforçar a importância da peregrinação a Compostela como fonte de unidade cultural da Europa, desta feita na JMJ de 1989. No Monte do Gozo, nas cercanias da cidade (o lugar onde, pela primeira vez, os peregrinos do Caminho Francês avistam as torres da catedral), a 12 de agosto e perante um “mar” de jovens (muitos deles peregrinos que haviam realizado a rota jacobeia), Karol Józef Wojtyła partilhou a seguinte mensagem:
“Hoje, no mundo, a prática da peregrinação conhece um período de renascimento, sobretudo entre os jovens. Vós sois entre os mais sensíveis a reviver, hoje, a peregrinação como ‘caminho’ de renovação interior, de aprofundamento da fé”.
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