O Mistério do Milagre do Sol
O Mistério do Milagre do Sol

O Mistério do Milagre do Sol

104 anos depois o Milagre do Sol ainda nos transporta para a metafísica do mistério de Fátima

Após um ano de interregno Fátima volta a celebrar o 13 de outubro e novamente com uma enchente de crentes a acercarem-se do lugar onde em 1917 terá ocorrido o célebre “Milagre do Sol”, testemunhado por milhares de fiéis e noticiado por vários jornalistas presentes na Cova de Iria.

“Como o Sol bailou ao meio dia em Fátima” publicaria o jornal “O Século” a 15 de outubro, título com que iniciava uma cobertura exaustiva dos acontecimentos ocorridos dois dias antes, no lugar de Cova de Iria, em Fátima, e ilustrada com uma fotografia onde surgiam três crianças que relatavam a aparição, por seis vezes, entre maio e outubro, de Nossa Senhora. Ficaram eternizadas para a História os nomes de Jacinta, Francisco e Lúcia, os Três Pastorinhos.

Estátua dos três Pastorinhos

Avelino de Almeida foi o jornalista responsável pela cobertura daquele que era conhecido como um dos mais respeitáveis periódicos do país. Na sua crónica relatava que mais de trinta mil pessoas haviam assistido a um acontecimento espantoso: a “dança” do astro-rei em plena luz do dia.

Avisados pelos pastorinhos de que naquele dia 13 de maio de 1917 algo de milagroso ia acontecer, a multidão, ávida por uma mensagem de esperança, acorreram ao local, enquanto no centro da Europa se ouviam os canhões de batalha e os relatos do triste fado vivido pelas tropas portuguesa nas trincheiras da I Guerra Mundial.

Houve relatos para todos os gostos. Desde a cura de paralíticos e cegos, passando pela aparição da Sagrada Família, de Nossa Senhora do Carmo abençoando a multidão desde o cimo de uma nuvem, entre outros testemunhos emocionados, mas todos confluindo para o facto de que tudo começou com uma enorme chuvada e que logo passou, surgindo um “disco” no céu, uns defendendo que seria o Sol, outros diriam que mais semelhante à Lua. Certo é que a grande maioria dos crentes, mas também alguns jornalistas, juravam que tinham visto um “baile” celestial”.

Logo a Cúria romana tratou de investigar um caso que suscitou, à época, enorme curiosidade e impacto na sociedade portuguesa e internacional, surgindo histórias análogas, envolvendo inclusivamente papas que relatavam terem vivenciado semelhante milagre em lugares como os jardins do Vaticano.

Em 1930 Pio XI haveria de declarar o acontecimento como um milagre oficial.

Dez minutos, bastaram, ao que parece, para colocar Fátima no patamar de lugar santo do Cristianismo, a par com Aparecida, no Brasil, Lourdes, Jerusalém, Roma ou Santiago de Compostela.

Ainda hoje, cento e quatro anos depois, ouvem-se os ecos desses acontecimentos que se tornaram luz na escuridão do mundo, assolado, naquela época, pela gripe espanhola, o tifo, o primeiro dos dois grandes conflitos à escala planetária, o surgimento dos nacionalismos extremos, as ditaduras, o antissemitismo. As aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos, os mistérios confessados pela irmã Lúcia de Jesus a João Paulo II e o próprio "Milagre do Sol" foram episódios cruciais para explicar a história da igreja e da fé cristã no mundo, encontrando apenas paralelo na importância do concílio Vaticano II na ação transformadora da ortodoxia católica, iniciada por João XIII, optando por uma via progressista que adequasse a mensagem e o próprio comportamento do prelado aos anseios da sociedade da segunda metade do séc. XX.

Ano após ano, milhares de peregrinos vindos de todos os cantos do mundo enchem o recinto do santuário de Fátima, procurando cumprir as suas promessas, velando pela proteção maternal de Nossa Senhora.

Desde 2014 Portugal celebra, precisamente a 13 de outubro, o Dia Nacional do Peregrino, comemoração que se estendeu a todos os exemplos de peregrinação que ainda hoje subsistem um pouco por todo o país, como a peregrinação à Igreja de Santa Rita, em Ermesinde, no concelho de Valongo, a Senhora dos Remédios, em Lamego ou o Caminho Português de Santiago.

"Milagre do Sol" ou não, o extraordinário filósofo português dos inícios do séc. XX, Leonardo Coimbra, conhecido pelo seu contributo para a educação portuguesa quando ocupou o cargo de ministro da Instrução Pública, advogava a natureza dos milagres como fundamentos de uma ciência da espiritualidade, defendendo que a razão sem a fé nunca jamais poderá ter a capacidade de explicar, em termos metafísicos, o lugar do Homem no Mundo.