O respeito pelas diferenças textuais bíblicas

O respeito pelas diferenças textuais bíblicas

Quem não conhece Bart Ehrman? O historiador e filólogo autor do famoso livro que, em português, teve o infeliz nome “Os Monges que Traíram a Bíblia”? Famosa obra, de facto, pois não disse nada de novo, deu-lhe fama e dinheiro e depois de quase 300 páginas menciona, numa discretíssima nota de rodapé algo, que (digo-o de memória) nenhuma das milhares de variantes presentes nas centenas de manuscritos do Novo Testamento, que foram sendo escritas até ao surgir da Imprensa na Europa, altera o que quer que seja à mensagem e credibilidade dos manuscritos originais — aos quais se consegue chegar por métodos históricos rigorosos.

E sabem que mais? O extraordinário não é haver, em 1400 anos de manuscritos, tantas variações, mas existirem tão poucas. Pode parecer paradoxal, mas é a verdade face às condições em que se escrevia. Sim: essas variantes existem. Como não haveriam de existir? Ponhamos 20 pessoas, uma a seguir à outra, a copiar os “Os Lusíadas” à mão. Alguém tem a mais pequena dúvida de que — mesmo com o máximo de cuidado, a iluminação e o material de escrita de que dispomos nos nossos dias iriam surgir falhas na cadeia de transmissão textual?

De certeza que alguns t’s que passariam a f’s (e vice-versa); p’s que tornar-se-iam g’s (e vice-versa); a’s que surgiriam como o’s (e vice-versa); i’s que seriam escritos como j’s (e vice-versa); etc.; etc. A isto somar-se-ia os lapsos de ditografia e de omissão. Posto isto, será que partiríamos imediatamente para se afirmar que teria havido alguma intenção malévola ou perversa nessas falhas? Não creio.

Como afirmei, os métodos histórico críticos textuais permitem-nos embrenhar com segurança nessa floresta de alterações textuais e aferir qual a mensagem primitiva que os autores do Novo Testamento desejaram comunicar. Não é possível apresentar aqui todos os estratagemas usados para se lograr isso, mas não me furto a indicar os mais salientes critérios: o da antiguidade; o de, entre os textos mais antigos, haver mais consistência em manuscritos de proveniência geograficamente diversa; o da consciência explícita; o da variante que causa mais embaraço; e, para não me estender muito mais, o da descontinuidade com o que seria expectável.

Mas tal como referi noutro texto publicado recentemente aqui na “Draft World Magazine” [A boa diversidade do Cristianismo unido] acerca da diversidade de relatos sobre a existência de Jesus, nunca houve a tentação de se esconder, ou até reduzir a uma só versão “oficial”, as mencionadas variantes. Elas não só nos ajudam no processo delineado no parágrafo anterior, como nos dão a conhecer os meios de transmissão textual; os métodos de tradução de um idioma para outro; e as, por vezes, interessantíssimas variantes que surgiram e jeito de glosas textuais como, por exemplo, verter “Reino de Deus” por “Reino dos Céus” (quando os destinatários eram vindos do judaísmo e tinham pudor em usarem a palavra “Deus”) ou “Reino de Amor” (dado que o Deus cristão, e só Ele, é Amor e nada mais do que Amor).

Escritos Bíblia

Fotografia do catálogo de imagens de Alexandre Freire Duarte

Eis, justamente e no que fui dizendo, a razão de, quando se compra uma versão crítica dos textos do Novo Testamento, como, entre outras, a que começou a ser elaborada por Nestle-Aland (e já vai na 28.ª edição à medida que se vão descobrindo mais variantes), todas estas variantes virem, de modo codificado, indicadas em rodapé. E isto, fruto de um trabalho de amor pela verdade.


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