O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago
Capítulo VIII – Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto tanto património para descobrir – Parte 4
Com ou sem o “Graal” na mão, deixamos Tomar sem encontrar o fabuloso tesouro dos templários, desta feita rumo a três jornadas pesadas até Coimbra.
Três etapas de mais de 30 quilómetros cada nos esperam antes de alcançarmos a “pérola do Mondego”. À medida que vamos percorrendo o Caminho em direção Alvaiázere, abandonamos a paisagem moldada pelo rio Tejo para iniciar uma escalada que levará o peregrino até à elevação máxima de mais de 300 metros acima do nível do mar, num percurso que nos leva a seguir o curso do rio Nabão, desde o Parque de Mouchão até ao lugar da Pedreira, onde abraçamos uma paisagem povoada por campos de cultivo e largas extensões de olival, sobreiros e pomares até alcançarmos a Igreja de Nossa Senhora do Reclamador, em Casais. Ainda nem vamos a meio da trilha que nos separa de Alvaiázere, conhecida como a “capital do chícharo” e já o caminho se mostra exigente ao longe, quando alcançamos uma intensa zona florestal e daí sempre a subir até ao fim da etapa.
Chegados à vila, merece a nossa atenção a Igreja matriz de Alvaiázere, com a sua arquitetura já marcadamente coimbrã, mas também apetece pedir boleia para conhecer a vizinha e bonita Ferreira do Zêzere dar um salto à aldeia de Dornes, plantada num istmo com vista para o rio Zêzere, fronteira natural entre os distritos de Leiria e Castelo Branco e cuja paisagem cultural é marcada pela torre pentagonal de origem templária.
E porque ainda faltam uns desafiantes 60 quilómetros até à cidade onde repousa a Rainha Santa é tempo de rumar até Rabaçal, trepando manhã cedo até aos 500 metros de altitude até descer à meta, não sem antes de realizar demorada paragem em Santiago da Guarda, onde o culto ao Apóstolo perdurou desde os tempos da reconquista até aos dias de hoje e prova a antiguidade da rota jacobeia por estas paragens. Aqui podemos encontrar o solar dos Condes de Castelo Melhor, conhecido como o “Castelo” pela sua torre, num complexo monumental onde se destaca ainda os vestígios de uma “villa” tardo-romana.
Ao chegarmos ao Rabaçal, freguesia do concelho de Penela, descobrimos a sua relação profunda com arte de produzir o queijo, que tem honras de produto tradicional de denominação de origem protegida, que deve o seu sabor especial a uma espécie de tomilho conhecido como a “Erva de Santa Maria”, que serve de alimento para as ovelhas que produzem o leite que está na base desta célebre iguaria.
Nesta vila saliente-se os vestígios romanos que datam do séc. IV da nossa era, a igreja da Misericórdia e a paisagem que se vislumbra do alto do castelo de Germanelo. E por falar em castelo, vale a pena dar um salto à sede do concelho para descobrir o imponente castelo de Penela antes de nos fazermos novamente ao Caminho para adentrarmos de forma grata nas planícies férteis do rio Mondego.
À medida que nos aproximamos de Coimbra, o peso da história começa a despejar-se sobre os ombros do peregrino até alcançarmos o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, edificação que marca a introdução do gótico no território português e que, mediante a época do ano em que realizamos a demanda a Compostela pode muito bem-estar alagado por um repentino galgar das margens pelo rio ali tão perto.
Atravessamos a ponte e alcançamos o largo da portagem da cidade dos estudantes, antiga capital do reino e primeiro panteão nacional. No reduto deste burgo que um dia esteve sob o jugo muçulmano repousam os dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I, na maravilhosa igreja de Santa Cruz “feita de pedra morena, dentro de ti vão rezar uns olhos que me dão pena”.
Fotografia | Torre da Universidade de Coimbra
De mãos dadas com o Mondego, a mais antiga universidade portuguesa marca o perfil da paisagem de Coimbra, à medida que vamos subindo até à “alta” da cidade, cruzando o arco de Almedina, passando pela Sé Velha de Coimbra ao som da guitarra dos estudantes de capa e batina até alcançarmos a Porta Férrea que marca a entrada do Paço das Escolas. Aqui vislumbramos o antigo palácio da Alcáçova, convertido na Faculdade de Direito, descobrimos a biblioteca Joanina (uma das mais belas do mundo), sentimos a atmosfera académica quando adentramos na sala dos Capelos, despertamos a audição com o som da velha “Cabra”, o famoso sino da torre da Universidade, fundada por D. Dinis em 1290 e que viajou entre Lisboa e a cidade onde agora se encontra até se fixar definitivamente em Coimbra no ano de 1537, no reinado de D. João III.
E se D. Dinis, neto de Afonso X O Sábio, ficou famoso pela criação dos primeiros estudos universitários em Portugal assim como pelas muitas cantigas de amigo e de amor, obra poética apenas comparável às célebres “Cantigas de Santa Maria” da autoria do seu avô, a esposa do rei “Lavrador” marca a história eterna desta cidade: a rainha Santa Isabel.
Fotografia | Painel de azulejos com representação de S. Isabel de Aragão, Rainha de Portugal, operando o "Milagre das Rosas" no largo do Castelo do Sabugal, em Portugal. Autor: Rick Morais
A vida de Isabel de Aragão dava um ou mais filmes, um tesouro na história de Portugal, marcada para a eternidade pelo “milagre das Rosas” e pelas suas duas peregrinações a Santiago de Compostela, tema fundamental do nosso próximo capítulo.
Ultreia et Suseia!
Lê toda a rubrica |
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
Blog do Autor
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação...