Os Caminhos que Ligam o Porto a Santiago
Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago
Cruzar a ponte Luíz I (construída entre os anos 1881 e 1886) leva-nos a entrar numa nova realidade do Caminho. Ao parar no meio do tabuleiro para contemplar a visão sublime da margem de Vila Nova de Gaia (que agora deixamos para trás), com os armazéns do Vinho do Porto em primeiro plano e, algum tempo depois surpreendermo-nos com a cascata que a paisagem cultural do centro histórico do Porto (classificada como Património Mundial em 1996), logo percebemos que o Caminho Português para Santiago ganha uma nova dimensão.
Assim que ultrapassamos o rio Douro, entramos na antiga Portus Cale do cavaleiro galego Vímara Peres, uma cidade que respira, na atualidade, “Caminho” por todos os poros, com setas amarelas pintadas em quase todas as esquinas do “casco” antigo”. Velho e orgulhoso burgo que, à época dos romanos, não conseguia fazer sombra ao poderoso “Conventus Bracarensis” (atual cidade de Braga), sede fundamental da antiga província imperial da Galécia, o Porto soube crescer à custa do comércio e da sua posição privilegiada e, mercê do seu trabalho e fé, transformou-se no embrião do que viria a ser um dia Portugal.
A tradição diz-nos que o primeiro bispo da cidade teria sido Basileu, que, a par com S. Pedro de Rates (lendário primeiro bispo de Braga), foi discípulo do Apóstolo Santiago, encarregado por este a evangelizar os povos da região. Não terá tido tarefa fácil.
Certo é que que a palavra de Cristo entrou forte no coração das gentes do Porto e, com o carisma de bispos como Viator (tido como o primeiro bispo, de facto, da cidade) D. Hugo (antigo arcediago da diocese compostelana), D. Pedro Pitões, ou D. Diogo de Sousa (que se tornaria mais tarde arcebispo de Braga), a Sé Catedral do Porto tornou-se um farol da fé e um bastião do poder da Igreja na cidade.
E é precisamente da Sé do Porto que partem não um mas três caminhos rumo ao túmulo do Apóstolo: o Caminho Central rumo a Braga (tido como o caminho histórico ou original), o Caminho Central por Barcelos (que começa a ganhar grande preponderância a partir do séc. XIV por via da construção da ponte sobre o rio Cávado, que permitiu aos peregrinos encurtar a jornada rumo a Santiago em mais de uma dezena de quilómetros) e o Caminho da Costa, que ganhou fundamental importância a partir do séc. XVI, legitimado pela peregrinação que o rei D. Manuel I realizou em 1502, a partir desta via.
Cada um destes caminhos permite-nos descobrir, numa fase inicial os vários “rostos” do Porto medieval, barroco, neoclássico e industrial. Assim que cruzamos os limites desta que é uma das “mecas” essenciais dos atuais caminhos portugueses que conduzem à Galiza, entramos num misto de desenvolvimento urbanístico desenfreado, a dinâmica industrial do Portugal orgulhosamente nortenho, misturada com campos de cultivo em direção a uma natureza que tarda mas não falha.
Vamos descobrir nas próximas crónicas o que o Porto tem para oferecer a um peregrino que, apesar de ter pouco tempo para contemplar as muitas maravilhas do burgo, certamente guardará para sempre a memória de uma cidade que não deixa ninguém indiferente. A partir daí, e com o rio Minho (fronteira natural entre o norte de Portugal e a Galiza) cada vez mais perto do horizonte, descobriremos, juntos, a história, o património e a natureza dos três Caminhos que nos levarão a Santiago de Compostela.
Lê toda a rubrica |
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo X – O Caminho na rota da Gastronomia
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
O Caminho Ganha Nova Dimensão
Blog do Autor
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação...