Os Mitos contam, os Mitos cantam
Os Mitos contam, os Mitos cantam
Os Mitos contam, os Mitos cantam

Os Mitos contam, os Mitos cantam

Segundo Campbell, os mitos são histórias da nossa vida, da nossa procura pela verdade, da busca pelo sentido de estarmos vivos. Os Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, são indicadores daquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente. O Mito é o relato, a experiência da vida. Eles ensinam que nós podemos voltar-nos para dentro. Assim sendo os Mitos têm como tema principal e fundamental a procura pela espiritualidade interior de cada um de nós.

Quem és tu? De onde vieste e que fazes aqui? Para onde vais?

A origem dos mitos perde-se na noite dos tempos, sem que ninguém possa dizer de onde vieram. São narrativas fascinantes, porém absurdas para quem quiser neles observar algo palpável e "real". E não adianta procurar-lhes verdades científicas quem tentar fazê-lo fará com que o mito perca toda a sua beleza e fascínio, além de desperdiçar o seu tempo (Viktor Salis).

Mas, se são absurdas fantasias, para que servem então? Para levar-nos para longe da realidade e embalar-nos em sonhos impossíveis? 

Mesmo que aparentemente absurdos, além do entendimento racional e concreto, ainda assim ficamos por eles apaixonados e maravilhados, pois eles arrancam-nos do mundo concreto, por vezes duro pela sua crueldade, para iniciarmos uma viagem pela imaginação mítica, claro que esta viagem pede asas e raízes para que não nos perdamos numa imaginação sem corpo e sem ligação à experiência de estarmos vivos, esse sim, segundo Joseph Campbell o principal motivo da mitologia, auxiliar a viver a experiência radical de estamos vivos. Os Mitos falam de coisas que nos dizem respeito e parecem responder a tantas e tantas perguntas que temos sobre o mistério, sobre o absurdo e o sem sentido da existência e da vida. 

Diz-nos Campbell parece que quando conhecemos um mito, "já o sabíamos sem saber", por vezes soa-nos tão familiar e, principalmente toca-nos o coração, se o nosso realismo permitir e não exigir que o descartemos como tolice ou simples mentira (Viktor Salis). Na Antiguidade, longe de serem conotados como algo falso, os mitos eram considerados a linguagem que os deuses utilizavam para nos ensinar (a nós, pobres mortais), a arte de viver, amar e assim deles nos aproximarmos. Eram narrativas fantásticas e ambíguas porque os deuses nunca comunicam de forma direta connosco (Viktor Salis).

Os mitos não podem — e nunca quiseram — competir com a ciência e a razão. Eles abrem-nos as portas para uma outra realidade: o mistério do viver, com seus dramas individuais e coletivos, as suas angústias, os seus medos, alegrias e anseios. Eis onde a ciência e a razão vêm fracassando. Como nos questiona Viktor de Salis: alguém se atreve a explicar sua própria existência exclusivamente de modo científico, racional e previsível? Nada abarca por completo a enigmática realidade humana, por isso é que na sua compreensão os saberes devem ser múltiplos, inter e transdisciplinares. 

Eis a beleza dos mitos que tanto nos fascina e apaixona: eles não preveem, abrem portas e possibilidades para a nossa vida. Por isso são fantásticos e ambíguos; exigem a nossa participação e uma tomada de posição, enfim, exigem-nos a coragem de viver e não simplesmente de vegetar (Viktor de Salis). Assim, cada um tem o desafio de recriar um mito — qualquer mito — para a sua própria vida de acordo com sua visão e compreensão. Ontem como hoje, eles desempenham o papel dos oráculos e videntes da nossa intimidade (Viktor de Salis).

Joseph Campbell, um dos maiores mitólogos de todos os tempos, afirmava sabiamente – “a mitologia é como o sonho. Os mitos são sonhos públicos e os sonhos são mitos privados”.

Vejamos novamente o exemplo dos Gregos na antiguidade clássica, para os gregos o mito estava prenho de uma importância radical. Na Grécia Antiga os jovens eram educados debaixo dos plátanos, de onde nasceu a palavra plateia — eram educados através do canto, da dança e do mito (Formação de Base).

Escutemos a sua voz, deixemos que ela ecoe em nós, vinda de tempos imemoriais, para isso consideremos o celebre Mito das cinco Idades do Homem.

As idade de Ouro, Prata e Ferro

Os gregos antigos diziam que os deuses imortais criaram a raça humana não apenas de uma vez, mas em cinco etapas — em cinco idades.

A primeira raça-idade, acreditavam eles, era feliz e semelhante aos deuses, por isso denominaram-na Geração de Ouro, e seu tempo, Idade do Ouro. A vida daqueles homens, conforme diziam, era uma sequência contínua de prazeres. Conviviam em perfeita harmonia, sem preocupações e tristezas, não conheciam a guerra nem os desastres naturais. Não sabiam o que era o cansaço, a doença ou a dor. Nem mesmo a velhice os podia atingir: permaneciam jovens e fortes até ao fim; após longos anos de felicidade, a morte chegava-lhes sob a forma de um suave adormecer.

A Geração de Prata foi a seguinte a habitar o mundo. Esta categoria de homens era diferente da Geração de Ouro. Fracos e tolos, não eram capazes de administrar suas próprias vidas, muito menos de ajudar aos outros. Durante os primeiros cem anos de vida, eram indefesos como crianças, necessitando dos cuidados da mãe, e até isso frequentemente lhes faltava. Quando enfim cresciam, restava-lhes pouco tempo, porque não conseguiam distinguir o bem do mal, nem o benéfico do nocivo, e assim suas vidas eram cheias de dor e tristeza.

Não tinham disposição para trabalhar e desconheciam o amor. Viviam do que tomavam pela força e era comum matarem-se em disputas sangrentas. Não obedeciam aos deuses imortais e nunca lhes ofereciam sacrifícios. Irado com suas más ações e falta de respeito pelos deuses, Zeus enviou-os todos para as soturnas profundezas do mundo subterrâneo. Com essa punição pôs fim à Idade da Prata.

Então Zeus, filho de Cronos, criou os homens da Geração de Bronze. A Idade do Bronze produziu homens muito altos e fortes. Tinham uma aparência ameaçadora e eram guerreiros destemidos. Moldados em bronze, estavam sempre prontos para guerrear. Suas armas eram forjadas em bronze, assim como as ofuscantes armaduras e ferramentas, pois naquela época os homens ainda não tinham aprendido a usar o ferro.

Não cultivavam a terra; viviam da caça e da coleta de frutos silvestres, e a guerra era sua constante companheira. Contudo, apesar de sua poderosa força e estatura serem uma dádiva dos deuses, e não obra deles, aos poucos ficaram arrogantes e vaidosos, cheios de um tolo orgulho. Seus modos tornaram-se rudes e dominadores, e o seu coração duro como pedra. 

Por fortes e ameaçadores que fossem, não escaparam da destruição. Enraivecido com sua insolência, Zeus enviou-os para o tenebroso mundo das sombras. Assim, estes também foram afastados da superfície e da radiante luz do Sol.

Viktor de Salis, eminente psicólogo e mitólogo grego radicado no Brasil, defende que a estas idades devemos acrescentar uma outra, a idade de Plástico, que é a nossa idade atual, onde tudo é feito para usar e deitar fora, com os fortes impactos que isso acarreta para o nosso planeta e para a nossa vida enquanto humanos. 


Aprender com os Mitos: uma Psicologia da Antiguidade
Parte I Aprender com os Mitos: uma Psicologia da Antiguidade

Sugestões de Leitura |
 Campbell, J. (2020). O Poder dos Mitos. Lua de Papel.
 da Silva, A. (2002). Estudos sobre Cultura Clássica. Âncora.
• Mircea, E. (2006). O sagrado e o profano: a essência das religiões. Livros do Brasil.
 Salis, V. D. (2018). Mitologia viva: aprendendo com os deuses a arte de viver e amar. Editora Nova Alexandria.

Fotografia de capa | Homero de Jean-Baptiste Auguste Leloir (1809-1892) ► Coleção Museu do Louvre 

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