O Caminho na rota da Gastronomia
Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago
De Coimbra à Mealhada, um outro Caminho a descobrir: o Gastronómico
Capítulo X – Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto tanto património para descobrir – Parte 6
A noite da etapa do Caminho que passamos em Coimbra é inesquecível. Visitamos o centro histórico da cidade dos estudantes e, de quando em vez, somos conduzidos pelo som da guitarra dos universitários e acorremos ao Arco de Almedina, ao largo da Sé Velha (então se for em maio, na semana da Queima das Fitas, vamos descobrir a grande tradição estudantil, com a Serenata Monumental a ter lugar junto às portas da antiga catedral, num mar negro de capas e batinas), ou mesmo junto à célebre Porta Férrea da Universidade. Pena teremos, se estivermos cansados, de não cruzar a desafiante rua de Quebra-Costas, cuja toponímia já coloca em sentido o peregrino que no dia seguinte terá obrigatoriamente de seguir viagem, desta a caminho da Mealhada, a terra do famoso leitão da Bairrada.
E ao pensar no fausto manjar, é bom lembrar que quem realiza o Caminho Português de Santiago irá vivenciar um outro caminho igualmente fecundo em experiências avassaladoras, o da gastronomia portuguesa.
Fotografia | Bacalhau à Braga - Autora valakirka
País de Sol e Mar, Portugal é reconhecidamente um dos países mais ricos ao nível turístico, hoteleiro e gastronómico. São muitas as iguarias lusas que se conhecem um pouco por todo o mundo, com grande destaque para os pastéis de Belém de Lisboa, as Tripas à Moda do Porto e as Francesinhas do Porto ou o Bacalhau à Braga.
Mas se quisermos acompanhar as etapas do Caminho desde Lisboa até precisamente ao Porto, porque da gastronomia do Minho haveremos de falar quando adentrarmos nas terras do Galo de Barcelos, então há muito que falar.
Fotografia | Pastel de nata
Desde logo, na capital, o peregrino mais “comilão” começa por provar os típicos caracóis, passando pelas “Ameijoas à Bolhão Pato”, as pataniscas de Bacalhau ou a “Mão-de-Vaca” com grão, sem esquecer as saladas à base de muita alface (não esquecer que a alcunha dos lisboetas é precisamente a de “Alfacinhas”) e, claro, para sobremesa, os famosos pastéis de Belém.
Já em Santarém temos o “Pernil de Porco Assado”, na Golegã a “Caldeirada de Feijão” e como doçaria os típicos “Toureiros”. Na terra dos Templários, em Tomar, nada melhor do que provar as “Morcelas de Arroz” (servidas tradicionalmente com grelos), o “Coelho na abóbora” e ainda a “Feijoada de caracóis”. E para adocicar o paladar nada melhor que as “Fatias de Tomar”, uma das receitas mais conhecidas da doçaria conventual portuguesa, originária precisamente do Convento de Cristo, edificado precisamente pelos cavaleiros do Templo, no séc. XII.
No Rabaçal, como já vimos em crónica anterior, experimentamos o intenso queijo e quando chegarmos a Coimbra espera-nos os típicos pratos da região centro de Portugal: o “Arroz de Carqueja”, o “Bucho Recheado” (uma iguaria semelhante ao famoso Haggis escocês) ou a “Perdiz Frita à Moda de Coimbra” e, para sobremesa, merecem destaque as “Barrigas de Freira” e o “Pudim de Abóbora”.
Fotografia | Leitão assado
Na Mealhada, depois de ultrapassarmos 23 km de etapa, em grande parte seguindo o curso do rio Mondego, e alcançarmos o famoso marco miliário romano do séc. I, que indicava a milha 12 da Via XVI, estrada que ligava a antiga Olissipo, agora Lisboa, a Portucale (atual cidade do Porto) e Bracara Augusta (a contemporânea Braga), vamos descobrir a “Casa Quinhentista”, conhecida como a “Casa dos Melos”, para além de ficarmos a conhecer ainda a Estação da Mala-Posta de Carqueijo (estação onde paravam as antigas carruagens de transporte de pessoas, bens e correio até ao final do séc. XIX).
Se o peregrino tiver chegado cedo, pode ainda adentrar pela mata do Buçaco e descobrir o palácio neogótico hoje convertido em unidade hoteleira, conhecido como o Palace-Hotel do Buçaco. Deslumbrante. E, no final, então voltar ao caminho gastronómico e deliciar-se com o famoso “Leitão da Bairrada” ou o “Arroz de Pato à Antiga”, pontuado com um bom vinho da região finalizando a jornada degustando outro excelente exemplo da doçaria conventual portuguesa, as cavacas da Mealhada.
Lê toda a rubrica |
Capítulo I – Entre a história e a Tradição, um nome para a eternidade
Capítulo II – Antes do Caminho de Santiago, o Caminho pré-cristão
Capítulo III – Fernando I de Leão, o primeiro peregrino do Caminho Português
Capítulo IV - Os Caminhos Portugueses a Santiago
Capítulo V – Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa
Capítulo VI – Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários
Capítulo VII – Tomar: O bastião Templário que salvou Portugal
Capítulo VIII – O Tesouro da Rainha Santa na cidade dos Estudantes
Capítulo IX – Em Santiago para Agradecer o Milagre das Rosas
Capítulo XI - O Caminho passa pela Rua Colorida
Capítulo XII - O Caminho Ganha Nova Dimensão
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