Personalidades que Definiram os Caminhos Portugueses
Reis, Nobres, Clérigos, Doutos e Artistas: as personagens Históricas dos Caminhos Portugueses a Santiago...
Para construir o futuro é fundamental descobrir o passado do Caminho. Ao longo dos séculos, personalidades marcantes da História têm moldado a face cultural e identitária dos Caminhos Portugueses de Santiago, ajudando a descobrir este itinerário desde a idade Média até aos nossos dias. Descubra as personagens que rumaram a Compostela cruzando as vias portuguesas a Santiago.
Parte 1...
Ao longo dos séculos, os caminhos portugueses a Santiago foram percorridos por reis, nobres, clérigos e artistas que deixaram a sua marca indelével na tradição, na cultura, na arte e na arquitetura das regiões por onde passa o Caminho. A compreensão do legado histórico não apenas enriquece a experiência da peregrinação, mas também cimenta a importância cultural desses caminhos.
Conhecer as figuras históricas associadas a esses trajetos tem sido fundamental para uma apreciação completa da tradição e do significado cultural das peregrinações jacobeias em território português, quando o objetivo é preservar a história, valorizar o seu património como foco promocional de um turismo sustentável com impacto positivo nas pulações, fortalecendo laços entre os povos transfronteiriços, num exercício de diálogo intercultural e inter-religioso.
No contexto da dinâmica atual dos Caminhos Portugueses a Santiago, demonstrou-se ser de fundamental importância estudar as personalidades marcantes da história, mas também relatos de peregrinos anónimos que, ao longo dos séculos, percorreram estradas romanas e caminhos serranos, com o objetivo de realizar a marcação das rotas atuais, de forma que estas pudessem refletir com a maior autenticidade possível os traçados originados na Idade Média.
Se atentarmos à experiência da marcação do Caminho Central Português, cujos esforços tiveram início nas vésperas do Ano Santo Compostelano de 1993, podemos descobrir que o traçado teve como suporte histórico registos documentais que relatam a peregrinação jacobeia de personalidades cuja importância histórica e a sua relação com a devoção a “Santiago da Galiza” se encontram bem documentadas. A título de exemplo refira-se o relato de Giovanni Battista Confalonieri, (sacerdote, secretário de D. Fábio Biondi, núncio apostólico em Lisboa), que acompanhou o representante da Santa Sé em Portugal na sua peregrinação a Santiago em 1594. A narração da mesma podemos encontrá-la na “Memoria di alcune cose notabili accorse nel viaggio fatto da me, Giovanni Battista Confalonieri, Sacerdote romano da Roma in Portogallo”, incluída por Gregorio Palmieri na sua obra Spicilegio vaticano di documenti inediti e rari, Volume 1, publicada em Roma no ano de 1891. A descrição de Confalonieri foi essencial para a marcação do Caminho desde Lisboa até à cidade do Porto.
Fotografia | Capa do livro Veridica historia o’ sia Viaggio da Napoli à S. Giacomo di Galizia que relata a peregrinação de Nicola Albani.
Outras narrativas como as de Jerónimo Muenzer (médico e humanista germânico, peregrinou a Compostela em 1495), a de Nicola Albani em 1745 (“Veridica Historia al sia viaggio de la Napoli à S. Giacomo dice Galizia" e cuja tradução foi publicada em livro pela Xunta de Galicia em 2007), do militar e diplomata Erich Lassota de Steblovo (1581) e ainda do príncipe e Grão-Duque da Toscana Cosimo III de Médicis (1669, e cuja descrição de Angel Sanchez Rivero foi publicada em 1933, com ilustrações das terras que Cosimo visitou, da autoria de Angela Mariutti) ajudaram a fundamentar e a legitimar o traçado proposto para o Caminho Central. Retratos que foram mais tarde incluídos na proposta de candidatura dos Caminhos Portugueses a Património Cultural da Humanidade, apresentada em 2010, no seguimento da redação da “Carta de Grijó” que teve lugar no Fórum Peregrinação, promovido pela Associação Espaço Jacobeus em dezembro de 2009, precisamente no mosteiro de Grijó, em Vila Nova de Gaia.
Mas para além das narrativas históricas daquele que é o caminho português mais concorrido (também apelidado de Via Lusitana), encontramos descrições que permitiram o desenho de outras rotas que alcançaram importante relevo na atual dinâmica jacobeia em território português.
Fotografia | Diego de Torres Villarroel. Fonte: Wikipedia.
A “Peregrinatio Hispanica” de Edme de Saulieu, abade de Claraval (1531-1533) narrada por Cláudio de Bronseval, foi determinante par o desenvolvimento do Caminho do Interior. Exilado em Portugal por questões políticas, Diego de Torres Villarroel, importante professor de matemática da Universidade de Salamanca, descreveu a rota que empreendeu em 1737 até Compostela na sua crónica “Peregrinación al Glorioso Apóstol Santiago de Galicia”. Deste texto foi possível desenvolver um novo percurso, conhecido precisamente como o “Caminho de Torres”, que parte de Salamanca em direção a importantes localidades do interior centro e norte de Portugal como Trancoso, Lamego, Amarante, Guimarães, Braga até encontrar o Caminho Central em Ponte de Lima.
Outras memórias peregrinas de personalidades históricas perduraram até aos nossos dias, contudo sem a profundidade descritiva das narrações anteriormente citadas, à exceção da jornada empreendida pelo rei D. Manuel I em 1502 e relatada por Damião de Góis na obra “Crónica do Felicissimo Rei D. Manuel”, publicada pela Universidade de Coimbra em 1926. A narração desenvolvida por aquele que foi um dos mais importantes humanistas do seu tempo bem como o contributo de outros autores quanto à viagem do rei “Venturoso” foram o cimento para a marcação do Caminho Português da Costa desde o Porto até Valença.
Fotografia de capa | Nicola Albani — Fonte Xacopedia
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...
Ver também |
A boa diversidade do Cristianismo unido
Maus-Tratos a Idosos: Aspetos Jurídicos
Pronto para embarcar na próxima aventura? Garanta seu alojamento com o Selo Draft World Magazine e descubra o mundo connosco! ► Reserve agora