Porto Iluminado: Roteiro pelas Lojas Tradicionais
Porto Iluminado: Roteiro pelas Lojas Tradicionais

Porto Iluminado: Roteiro pelas Lojas Tradicionais

1ª parte...

O Natal está à porta e nada melhor que descobrir o património do comércio tradicional da cidade do Porto, viajando pela história de espaços emblemáticos como “A Favorita do Bolhão”, o “Bazar Paris”, “Camisaria Porto” ou a famosa “Livraria Lello”, sem esquecer alguns dos cafés mais emblemáticos que durante o séc. XX ajudaram promoveram a cultura na Invicta. Descubra durante as próximas semanas (até ao Natal) estes e outros espaços emblemáticos da Invicta num roteiro inédito pelo comércio tradicional tripeiro.

O comércio tradicional da cidade do Porto desempenhou, ao longo do tempo, um papel fundamental na construção da identidade e na preservação da herança cultural da cidade, desde o século XIX até os dias atuais, destacando a sua importância na comunidade, com impacto profundo no património cultural do Porto.

No século XIX, o Porto estava no epicentro de um florescente comércio. As ruas estreitas e movimentadas abrigavam uma variedade de estabelecimentos comerciais, desde pequenas mercearias até lojas especializadas. A economia local era impulsionada pela atividade portuária, mas também industrial, e o comércio tradicional começava a florescer como uma parte essencial da vida quotidiana. 

Durante as primeiras décadas do século XX, o comércio tradicional enfrentou desafios significativos, como as duas guerras mundiais e as mudanças nos padrões de consumo, como por exemplo o hábito generalizado de beber café, ao que contribui o mais antigo café do Porto, o Progresso, inaugurado em 1899, na rua Actor João Guedes, entre a Praça Carlos Alberto e a Praça de Guilherme Gomes Fernandes, também conhecido como o “café dos professores”, colaborando para o aparecimento de tantos outros que se tornaram históricos. 

Espaços como o café A Brasileira (inaugurado em 1903 por Adriano Soares Teles do Vale, um do ricos portuenses de “torna viagem”) o Piolho (1909, o primeiro a ter luz elétrica e uma máquina da empresa “La Cimbali”, oferecendo ao café portuense a alcunha de “cimbalino” em oposição à “bica” lisboeta), o Majestic (1921, inicialmente conhecido como “Elite”, provavelmente o mais famoso café do Porto da atualidade, constantemente inundado de turistas), o  Astoria (1932, na esquina do Palácio das Cardosas com a Praça de Almeida Garret) ou os extintos Palladium (1940, entre a Rua de Santa Catarina e a Rua de Passos Manuel, encerrado em 1974) e o Imperial (aberto nos anos 40, na Praça da Liberdade, onde agora se encontra o mais bonito restaurante da cadeia Macdonald’s em todo o mundo, de acordo com a opinião de várias revistas americanas). 

No entanto, a resiliência dos comerciantes locais e a sua ligação com a comunidade permitiram que muitos estabelecimentos não apenas sobrevivessem, mas também se adaptassem às mudanças em curso, teimando em existir num tempo de incerteza, onde apenas o turismo parece querer contribuir.

lojas do Porto

Fotografias de Artur Filipe dos Santos

Começando junto à entrada do Mercado do Bolhão sito na Rua Fernandes Tomás, caminhamos em direção à primeira das lojas do roteiro, mais precisamente o espaço da “A Favorita do Bolhão”. Estabelecida em 1933 pelos visionários Alexandre Santos, Manuel Lobato e José da Cunha Araújo, a mercearia rapidamente se tornou uma referência no cenário das mercearias finas na cidade do Porto. Até hoje, preserva os produtos clássicos de mercearia, como farinhas, óleos, vinagres e azeites, enlatados e conservas diversas, especiarias, sementes e chocolates notáveis, especialmente as amêndoas nas suas variadas formas, muito apreciadas pelos portuenses na altura da Páscoa.

Antes de seguir caminho rumo a sul, vale a pena recordar a história de uma loja que não fica muito longe da “Favorita”, desta feita, a Casa Natal. Agostinho Francisco Cabral estabeleceu o espaço na transição do século XIX para o século XX, precisamente em 1900. Inicialmente situada na Rua do Bonjardim, a loja mudou-se para a sua localização atual na Rua de Fernandes Tomás, em 1971. O nome do estabelecimento reflete a sua associação aos produtos tradicionalmente vendidos na época natalícia, como o bacalhau, azeite e frutos secos. Atualmente, a Casa Natal dedica-se a comercializar bolachas e biscoitos, doçaria regional, chocolates, conservas, enchidos de Viseu, alheiras de Mirandela e tantos outros produtos tradicionais, sem esquecer a variada seleção de vinhos.

Contornando o renovado mercado do Bolhão, alcançamos a Rua Formosa, onde se encontra a Pérola do Bolhão, fundada por António Rodrigues Reis, que ainda hoje conserva a fachada pitoresca original (em arte nouveaux, numa decoração inspirada na rota das especiarias) e que ainda hoje faz as delícias dos fotógrafos. Para encontrar bom fumeiro e o sempre apreciado queijo da serra, para além das frutas cristalizadas, era aqui que os tripeiros peregrinavam na altura de fazerem as suas compras. 

A próxima loja é a perdição das crianças oriundas das famílias mais tradicionais, que invadem, por alturas do Natal, o Bazar Paris, na rua de Sá da Bandeira, junto à praça D. João I, mesmo em frente ao edifício do antigo Banco Português do Atlântico. Inaugurada em 1903 pela família Villas-Boas, o Bazar Paris é, provavelmente, a mais antiga loja de brinquedos ainda em operação na cidade do Porto, e que ainda hoje se mantém nas mãos da mesma família que a fundou.

Um pouco mais abaixo, depois de cruzar a rua Passos Manuel, alcançamos a antiga Camisaria Porto, cuja história nos faz viajar até ao fatídico ano de 1914, marcado pelo eclodir da Primeira Guerra Mundial. Originalmente como Camisaria Gomes, ao longo dos anos, a loja passou por diferentes proprietários e, no final, esteve sob a gestão de Aida Maria Rosas. Na “Porto” encontrávamos camisas de algodão, algodão e fibra, toda uma variedade de acessórios, como laços, gravatas, botões de punho, meias e écharpes, todos, garantia a proprietária, com o selo de origem nacional. Fechada atualmente, de acordo com a proprietária, para obras, teme-se que seja mais uma casa com fim à vista.

Seguindo a Rua de Sá da Bandeira alcançamos a loja das Cutelarias Finas, fundada em 1952 por Francisco de Sousa Magalhães e Mário Bento Borges e cujo ato de escritura da sociedade teve honras de referência em Diário da República, publicado no dia 2 de fevereiro desse mesmo ano.


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