Roteiro pelas lojas tradicionais da cidade do Porto
Em época de festas nada melhor que descobrir o património do comércio tradicional da cidade do Porto, viajando pela história de espaços emblemáticos agora extintos ou que ainda existem como o “Bazar dos Três Vinténs”, os “Armazéns Cunhas”, ou a famosa “Livraria Lello”, sem esquecer alguns dos cafés mais emblemáticos que durante o séc. XX ajudaram a promover a cultura na Invicta, como o café Progresso, reconhecido como o primeiro café do Porto. Descubra estes e outros espaços emblemáticos da Invicta num roteiro inédito pelo comércio tradicional tripeiro.
4ª parte...
Agora já não é uma loja histórica, mas ainda hoje os cidadãos mais experientes da cidade, aqueles que contam muita da história do Porto do séc. XX, elogiam a fachada daquele que um dia se chamou de Bazar dos Três Vinténs, também na rua que vai dar à pequena capela românica em honra a S. Martinho. Desde 1965 fazia as delícias das crianças que aqui encontravam algumas das coleções de brinquedos mais bonitas da cidade. A tradição diz que foi nesta loja que os portuenses viram, pela primeira vez, o Pai Natal vestido de vermelho (versão criada pela Coca-Cola em 1931) e que ainda hoje podemos ver, todos os dias, num azulejo criado pelo reconhecido pintor poveiro Fernando Gonçalves e produzido na extinta Fábrica Carvalhinho (Vila Nova de Gaia) que se encontra na fachada.
De Carlos Alberto fletimos para direita para a rua Actor João Guedes para recordar a memória daquele que foi conhecido como o café mais antigo do Porto, o Progresso, conhecido também como o “café dos professores”, fundado em 1989. Neste espaço não conviviam só “doutos” do ensino. No Progresso discutia-se arte, poesia e filosofia. Apesar de encerrado em 2018 (adquirido mais tarde pela Casa Guedes, na parede do antigo café podemos ainda ler, em inglês, “The Oldest Cafe in Town”, competindo com o mural de Joana Vasconcelos (que se encontra mais à frente) por uma foto “instragamável” de um qualquer turista-fotógrafo.
Ao chegarmos à Praça Gomes Teixeira, vulgo Praça dos Leões, importa sublinhar a importância de dois armazéns que fizeram história: os Armazéns Cunhas, idealizado por José de Almeida Cunha que, em 1917, iniciou uma atividade que ainda hoje se encontra nas mãos da família e que continua a laborar a partir de um edifício em estilo arte déco, desenhado pelo arquiteto Manuel Marques; e a sucursal dos Armazéns do Chiado, que, desde 1906 detinham nesta praça um espaço há muito encerrado, laborando numa ala mais pequena do antigo estabelecimento, ainda durante algum tempo, o Chiadinho, loja que se dedicava à venda de roupa para crianças.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Livraria Lello.
Já na rua das Carmelitas alcançamos aquela que é uma das mais famosas livrarias do mundo, a julgar pelas dezenas de turistas que fazem fila para entrar na Lello. Fundada em 1881 pelos irmãos José e António Lello, notabilizou-se por ser um ponto de encontro para escritores e intelectuais ao longo dos anos. Entre os seus visitantes ilustres, destaca-se J.K. Rowling, autora de Harry Potter, que se terá inspirado na atmosfera mágica da livraria enquanto morava no Porto. Para além da história de um espaço onde pontificaram figuras como Guerra Junqueiro ou o cineasta e fotógrafo Aurélio da Paz dos Reis, merece destaque o edifício idealizado por Francisco Xavier Esteves, com uma fachada em estilo neogótico e duas imagens pintadas por Joseph Bielmann, representando a "Arte" e a "Ciência". O interior é inesquecível. Em arte déco e com uma escadaria que será, sobejamente, das mais fotografadas a nível mundial, leva-nos a viajar para tempos e atmosferas que nunca mais regressarão.
Adentrando na rua das Galerias de Paris importa chamar a atenção para as montras ainda rústicas da antiga Fábrica e Armazém das Carmelitas, em funcionamento desde 1886, hoje nas mãos da Fernandes, Matos & Companhia, que soube preservar muito da traça original do exterior e interior da antiga casa.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Livraria Moreira da Costa.
Em direção à Rua de Avis paramos na incontornável Livraria Moreira da Costa, uma das mais importantes moradas portuenses no que diz respeito à preservação de livros antigos. Alfarrabista desde 1902, a casa fundada por José Moreira da Costa chegou a funcionar na Travessa da Rua da Fábrica, passando anos mais tarde para a localização onde agora se encontra. Impressiona o acervo de livros antigos com destaque para a importante coleção de edições das obras de Camilo Castelo Branco. Atualmente esta livraria é gerida por Ângelo Miguel Gonçalves Carneiro, trineto do fundador.
Mesmo em frente, e ainda com o som das bolas de bilhar a bater uma nas outras, encontramos o Café Avis, aberto desde 1947. Era conhecido pelos engraxadores que, ao longo dos anos, convidavam os clientes a polirem os sapatos, ao mesmo tempo que lhes alugavam os jornais.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Salão Veneza.
Passando ao lado do primeiro hotel de luxo da Invicta, o Infante Sagres (mandado construir pelo importante empresário Delfim Ferreira, em 1945), descemos a Praça de Filipa de Lencastre e espreitamos na montra para nos deliciarmos com o bordeaux das cadeiras do Salão Veneza, uma das últimas barbearias típicas da cidade e que leva mais de 90 anos de vida. Há quem diga que era aqui que vinham Oliveira Salazar e Américo Tomás arranjavam o “peinado” quando se deslocavam ao Porto.
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