Sagres a navegar há mais de 50 anos com pavilhão português
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A História dos Navios-Escola Sagres I, II e III...

Nasceu alemão, foi “aprisionado” por americanos, vendido aos brasileiros (que lhe chamaram Guanabara) e, finalmente, é adquirido pela Marinha Portuguesa em 1961. Assim é a história do atual Navio-Escola Sagres III, a terceira versão “Sagres”. 

Artur Filipe dos Santos com o enfermeiro-chefe do NRP Sagres III, Henrique Boulhosa, em outubro de 2017

Fotografia | Artur Filipe dos Santos com o enfermeiro-chefe do NRP Sagres III, Henrique Boulhosa, em outubro de 2017.

Após 25 anos de ausência, o NRP (Navio da República Portuguesa) Sagres III voltou a aportar na ribeira do Porto. Acompanhado pela fragata “D. Francisco de Almeida” e o navio de patrulha oceânica “Sines”, o famoso navio-escola da Armada regressou à cidade banhada pelo Douro por ocasião das comemorações do Dia da Marinha, 20 de maio, data que celebra a chegada das naus de Vasco da Gama a Calecute, inaugurando o caminho marítimo para a Índia.

No gurapés encontra-se visível o pavilhão de Portugal

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | No gurapés encontra-se visível o pavilhão de Portugal, versão marítima da bandeira nacional de Portugal.

Perseguindo a história dos seus antecessores, o terceiro navio português a ostentar o nome que recorda a lendária escola náutica de Sagres, e em cujas velas adeja a cruz da Ordem de Cristo, tem um passado “quiçá” só comparável ao de outro mítico veleiro, o Cutty Sark cuja história pode ler aqui.

Depois da “Sagres I”, uma corveta construída de propósito para a marinha real portuguesa, nos estaleiros ingleses da Messrs. Young, Son and Magnay, de Limehouse, em 1858 e que esteve ao serviço da marinha (também como navio-escola), seguiu-se o Sagres II, veleiro originalmente de fabrico e bandeira do império alemão. Lançado às águas em 1896 com o nome de “Rickmers Werft”, foi apresado, no porto da Horta, nos Açores, pela Marinha Portuguesa, em 1916, por alturas da I Guerra Mundial, quando o navio ostentava o nome de “Max”. Emprestado aos britânicos até ao final da guerra, foi rebatizado em 1924 como NRP Sagres II, sendo finalmente convertido em navio-escola pela Armada três anos depois. Grande notoriedade mundial alcançou a segunda versão do “Sagres”, ao vencer, em 1958 a célebre regata “Tall Ships Race”. Em 1962 viria a ser substituído pelo atual veleiro-escola, mas a história do Sagres II não termina nesse “render de posto”. Ganhou o nome de Santo André e em 1986 foi cedido à associação alemã Windjammer für Hamburg que o transformou em navio-museu, restaurando o seu nome original, “Rickmers Werft”, e que ainda hoje pode ser visitado na cidade de Hamburgo.

A história do NRP Sagres III, que sempre conheceu um único papel, o de “navio-escola” é tão “colossal” com os seus mastros e velas e começa, à semelhança do seu predecessor, na Alemanha, nos estaleiros Blohm & Voss, Hamburgo, no ano de 1937. Projetado para se tornar em navio-escola ao serviço da Alemanha Nazi, foi batizado com o nome de “Albert Leo Schlageter”, um soldado germânico que se notabilizou na primeira Grande Guerra e que viria a ser executado pelo exército francês, alcançando o estatuto de mártir, num claro esforço propagandístico do III Reich.

A 14 de novembro de 1944, o veleiro (que naquela época já tinha propulsão mista, isto é, a vela e a motor diesel) viria a ser atingido por uma mina soviética, junto à costa alemã de Sassnitz. Restaurado em Swinemünde, foi aprisionado (como indemnização de guerra) pela marinha americana na altura em que se encontrava aportado em Flensburg. Quatro anos mais tarde a marinha americana vendeu-o à congénere brasileira, pelo preço de cinco mil dólares, valor considerado simbólico para a época. 

Alcançando o Rio de Janeiro a seis de agosto de 1948, rebocado desde a Alemanha, da região de Bremen, foi incorporado na marinha brasileira a 27 de outubro desse mesmo ano, sendo rebatizado como NE Guanabara, numa cerimónia que contou com a presença do presidente da República Federativa de então, Eurico Gaspar Dutra. 

Com o pavilhão brasileiro, cruzou a costa de terras de Vera Cruz por diversas vezes, visitando, inclusive, a cidade de Montevideu, no Uruguai, em várias ocasiões. 

Num período da história do Brasil do séc. XX caracterizado por enorme instabilidade política e militar, o NE Guanabara rapidamente foi votado ao abandono.

Em 1961, um dos fundadores da “Tall Ships Race” e um dos maiores entusiastas internacionais dos grandes veleiros, o embaixador Pedro Teotónio Pereira (importante diplomata e político português que esteve presente na assinatura do Tratado do Atlântico Norte, documento que estaria na base da criação da NATO/OTAN, em 1949) logo se apaixonou pelo navio nascido alemão, aprisionado por americanos e vendido aos brasileiros. Sabendo que o NRP Sagres II se aproximava do seu fim de vida, empreendeu forte magistratura de influência para garantir a compra do NE Guanabara para a Armada Portuguesa, nesse mesmo ano, por um valor fixo de 150 mil dólares.
Em 1962 entraria ao serviço como navio-escola NRP Sagres III. 

NRP Sagres III aportado na ribeira do Porto

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | NRP Sagres III aportado na ribeira do Porto, acompanhado pela fragata NRP D. Francisco de Almeida e barco patrulha-oceânica NRP Sines.

Com o Infante D. Henrique como figura de proa a enfeitar o gurupés, três mastros (o traquete e o grande de 45 metros de altura; e a mezena, que se encontra na popa, com cerca 43 metros de comprimento), as velas a ostentar a Cruz da Ordem de Cristo, o NRP Sagres já completou três voltas ao mundo e só não terminou uma quarta, em 2020 — que tinha como objetivo marcar os 500 anos da viagem de Circum-Navegação de Fernão de Magalhães — devido à pandemia de COVID-19. Em 1992 participou na gigantesca regata Colombo, que visou recordar a chegado do “Almirante dos Oceanos” à América. No ano seguinte aportou em Nagazaki, na comemoração dos 450 anos da chegada dos Portugueses ao Japão. Em 2000 participou nas comemorações do “Achamento” do Brasil. 

Nos 50 anos que leva já ao serviço da Armada, o NRP Sagres III já visitou 60 países, recebeu 50 cursos da Escola Naval e foi comandado por 22 comandantes, levando, tal como no passado, a história e o pavilhão português pelos “sete mares”.


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