
Sempre a Família
“A comunicação está para uma relação, como a respiração está para a vida”
Virgínia Satir
Em Psicologia e considerando as relações humanas como um todo, nunca podemos “fugir” do núcleo de base, da sua célula mãe — a família e os seus contextos — tenha ela a configuração que tiver, nela se nasce, se cresce ou adoece.
O fundamento de toda a saúde mental são os vínculos humanos, ou melhor dizendo a qualidade dos vínculos humanos. Tendo em conta esta premissa, é o meio, o individual, o familiar, o social e o económico que gera ou favorece o adoecimento, assim como o que facilita ou dificulta a prevenção, o controlo e/ou a cura e o tratamento das doenças e os seus padecimentos.
Como defende a Psicóloga portuguesa Ana Paula Relvas a família “é complexidade, a família é teia de laços sanguíneos e, sobretudo, de laços afetivos. Família gera amor e gera sofrimento. A família vive-se. Conhece-se e reconhece-se”. No caso do reconhecimento, lembramos que este não é algo dado à priori, mas é sempre uma possibilidade, uma vez que grande parte do sofrimento psíquico presente e futuro considerando a sua linha de desenvolvimento decorre precisamente pelas lacunas aí instaladas, ou seja, a falta, a carência, e a ambiguidade no processo de reconhecimento valorativo do próprio por parte dos outros significativos e importantes. A máxima seria: olha para mim e reconhece-me.
Reconhece-me como sou e pelo que sou, assim poderei ser mais livre e com rosto próprio e reconhecido.
De acordo com Virgínia Satir, em família existem sempre quatro aspetos na vida e na dinâmica que nos chamam a atenção e que devemos considerar:
• A autoestima;
• A comunicação que se estabelece;
• O sistema familiar;
• O laço, ou a qualidade do vínculo que se estabelece com a sociedade.
Ou seja, a comunicação: refere-se aos métodos que as pessoas utilizam para expressar as suas ideias aos outros; o sistema familiar, refere-se às regras que usam os indivíduos para nomear o que experimentam e os modos de como se devem sentir e atuar; o laço com a sociedade: a maneira como as pessoas se relacionam com os outros indivíduos e instituições.
Para trabalharmos com as famílias no sentido de uma mudança que se apresenta como necessária é preciso considerar que em todas as famílias com problemas regra geral persistem os seguintes fatores:
• Autoestima diminuída;
• A comunicação indireta, conflituosa, violenta, vaga, e pouco sincera;
• Regras rígidas, inumanas, fixas e imutáveis;
• O vínculo familiar com a sociedade é temeroso, submisso e culpado. Não existe uma verdadeira afirmação individual e coletiva salutar.
Por outro lado, nas famílias saudáveis, interessadas e com vitalidade, observa-se um padrão diferente:
• A autoestima é elevada e adequada a um respeito relacional mútuo;
• A comunicação é direta, clara, específica e sincera;
• As regras são flexíveis, humanas, adequadas e sujeitas a mudanças;
• O vínculo com a sociedade é aberto, baseado na escolha e na confiança.
É na família que as crianças aprendem as primeiras mensagens sobre si, sobre o outro e o sobre mundo em geral, não só por aquilo que o pai e a mãe dizem, mas também pela forma como se comportam nas variadas situações de vida.
Todos os pais devem considerar que o que as crianças veem, as crianças fazem.
Que exemplo queremos ser para os nossos filhos? Que marcas emocionais queremos deixar como herança? Filhos, crianças e jovens, serão tanto ou mais saudáveis, apenas com pais, adultos, maduros e maioritariamente saudáveis. Estes são Pais que sabem que apesar das vicissitudes que a vida acarreta serão sempre um porto, um encontro e uma “almofada” para as necessidades das suas “crias”.
Estes são Pais que sabem reconhecer quando precisam de ajuda, são pais que sabem mobilizar-se no sentido do cuidado de si, de modo a quebrarem padrões doentios e destrutivos que se instalam, que se fixam e que minam os vínculos. Quando não o fazem estes só terão como destino o isolamento e o sofrimento, o seu e o dos outros, de familiares e de amigos.
Todos os pais oferecem-se como modelos emocionais. Para um pai ou uma mãe, gerir as emoções emergentes na relação parental é perceber os sentimentos do/a filho/a, é sentir empatia e ser capaz de sossegar e orientar a sua criança, adolescente ou jovem mobilizando-os afetiva e emocionalmente para outros destinos possíveis.
Em todas as famílias circulam um conjunto de direitos e deveres relacionais, a saber, no que concerne aos deveres, todos os membros da família devem uns aos outros: disponibilidade; presença efetiva; respeito pelo espaço da/o outro; e cuidado (para cuidar do outro é necessário em primeiro lugar cuidar de si).
Nesta dinâmica de direitos e deveres é necessário conhecer as necessidades de pais e filhos para poder satisfazê-las. É importante procurar a necessidade por detrás da emoção.
Sugestões de leitura |
• Relvas, A.P. (2004). O ciclo vital da família: perspectiva sistémica. Afrontamento.
• Satir, V. (2005). Nuevas Relaciones Humanas En El Nucleo Familiar/The New Peoplemaking. Editorial Pax México.
• Satir, V. (2006). Vivir Para Amar: Un Encuentro Con Los Tesoros De Tu Mundo Interior. Editorial Pax México.
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...