Sushi: Um Fenómeno Culinário Controverso

Sushi: Um Fenómeno Culinário Controverso

Um estilo gastronómico ou uma seita secreta?

Sei que hesitou bastante ao clicar neste artigo. Numa fração de segundo, pensou numa série de prós e contras e na lista de afazeres que tem em mente. Bem sei que o seu tempo é precioso. Neste momento, posso dizer-lhe que tomou a decisão certa; sem dúvida, este artigo é para si. Perdoe-me a indiscrição, mas tenho a certeza que das duas, uma: você é um “sushi lover” ou um “sushi hater”. Neste assunto, não há nada no meio. São duas espécies que, felizmente, coabitam em harmonia. Ao escrever este artigo, não ambiciono cultivar nenhum extremismo e, consequentemente, colher ódios. Muito pelo contrário, vou tratar as pessoas como pessoas que são, quer adorem ou detestem esta iguaria de origem japonesa.

Decerto já reparou que, à medida que o tempo passa, existem cada vez mais restaurantes de sushi à sua volta. Pode-se mesmo dizer que é o maior fenómeno culinário do século XXI (até ao momento). Prova disso é o número de vezes que tem sido desafiado a ter este tipo de refeição, seja por parte de amigos, colegas de trabalho ou mesmo familiares. Goste ou não goste, ninguém consegue ficar indiferente; há que reconhecer que o número de adeptos está a aumentar.

Não é um fenómeno apenas nacional ou transversal a todas as gerações. Estou em crer que nem os muito novos nem os mais velhos são grandes apreciadores; as gerações do meio é que, claramente, foram conquistadas por esta iguaria nos últimos anos.

A origem deste prato remonta a uma época em que não havia energia elétrica para conservar e manter o peixe. O sushi parece ser uma derivação do “narezushi”, uma técnica em que o peixe era prensado entre duas camadas de arroz com sal, passando por fermentação e gerando ácido como subproduto. O “narezushi” demorava entre dois meses e um ano para ficar pronto. Por ser submetido a um processo lento e obrigar ao descarte do arroz (ficava impróprio para consumo), à época, era um produto caro. O método em si surgiu no século VII, no sudeste Asiático, e, no ano de 718, teve o seu primeiro registo em documentos no Japão. A popularização do sushi no Japão já tem 200 anos. Começou na década de 1820, quando foi iniciada a tradição de servi-lo de forma rápida e eficiente, enquanto o peixe ainda era considerado fresco. Por essa altura, começaram a surgir barracas ou bancas portáteis onde o produto era vendido e consumido, sendo os precursores dos atuais “sushi bar”.

Atualmente, o sushi é um prato que se come fresco, sem necessidade de conservação. A adição de vinagre ao arroz do sushi é uma alusão aos sabores originais, recriando em pequena escala a acidez que resultava do processo fermentativo tradicional.

Já ouviu dizer, e com razão, que o sushi que degustamos no ocidente é bastante diferente do que se come atualmente no Japão. É natural que a localização geográfica de cada país, bem como a disponibilidade de ingredientes, provoquem mudanças significativas na abordagem ao prato. Na Europa, o peixe mais usado é o salmão, ao contrário do Japão, onde o atum (maguro) é rei. Outro aspeto a ser considerado é a inclusão de outros frutos do mar, como polvo, lula e ouriço-do-mar, que são bastante utilizados no sushi do Japão, enquanto na Europa são proteínas pouco exploradas. O leitor certamente já deu conta de que o creme de queijo tem uma presença assídua no sushi em Portugal, o que não acontece no Japão. Os japoneses, por apreciarem muito o sabor dos peixes, evitam usar esse tipo de produtos, que por vezes impedem que o peixe seja “a estrela principal” do prato.

Por fim, chegou o momento de falarmos do elefante na sala… Comer com pauzinhos! Bem sei que não fomos formatados para isso e que provavelmente é um dos maiores argumentos dos “haters”, mas não andamos sempre à procura de experiências diferentes? Fugir à rotina? Os pauzinhos ou hashi são normalmente de bambu e têm um comprimento de 30 centímetros. O par é tradicionalmente manuseado com a mão direita, entre o dedo polegar e os dedos anelar, médio e indicador. Acredita que os hashi são mais higiénicos do que as colheres e garfos metálicos? É verdade!

Se alguma vez der por si nalgum país asiático, e de forma a evitar que inadvertidamente ofenda os que partilhem a refeição consigo: nunca cruze os pauzinhos, pegue na comida lateralmente e não na posição vertical, e não espete o hashi nos alimentos. É considerado falta de educação apontar pessoas e/ou objetos com o hashi.

Sushi é uma refeição normal? Um ritual? Uma seita “secreta” que exige wasabi, gengibre e molho de soja? Tudo isso ou nada disso, o leitor é livre para dar o rótulo que achar melhor! Se é um “lover”, aposto que já está a pensar na próxima refeição de sushi (creio que será para breve). Se, pelo contrário, é um “hater”, talvez esteja aberto a dar mais uma oportunidade a esta iguaria. Também há a possibilidade de, neste momento, estar a falar mal de mim e a lamentar-se pelo tempo que perdeu ao ler este artigo. Seja como for, quando o assunto é sushi, há sempre grandes emoções no ar; ninguém fica indiferente!


Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário... smiley


Ver também |

A Nova Era da Laranja: Docinha ou Azeda?

A Nova Era da Laranja: Docinha ou Azeda?

Nova lei facilita aquisição de casa própria aos jovens

Nova lei facilita aquisição de casa própria aos jovens

Pronto para embarcar na próxima aventura? Garanta seu alojamento com o Selo Draft World Magazine e descubra o mundo connosco!  Reserve agora