Uma Viagem Cativante de Porriño a Mos
De Porriño a Mos, com um salto a África do Sul...
O Caminho de Santiago é uma autoestrada cultural, de multinacionalidades. São muitos os peregrinos que das mais distantes partidas do mundo acorrem a Compostela pelo Caminho Português Central.
Depois da ponte das Febres, onde S. Telmo, padroeiro de Tuy, conheceu o seu fim, a rota jacobeia segue o curso do rio de San Simón até alcançar o caminho de “Gaiteros” (numa homenagem aos gaiteiros de Ribadelouro que levaram as foliadas desta terra a outras paragens) e daí ao Calvário de Magdalena, a poucos metros da Igreja de Santa Comba. Cruzamos a ponte romana sobre o rio Louro, afluente do Minho e alcança-se Orbelle. Aqui deixamo-nos deter por largo tempo a contemplar o mural “O Vello Peregrino”, obra do pintor viguês Xai Oscar, inaugurado em 2017, composto por uma pintura a óleo a retratar um peregrino ancião e ainda duas telas: a primeira com uma representação do Pórtico da Glória e a segunda com uma foto da escultura do Apóstolo Santiago que s encontra na fachada principal (do Obradoiro) da Catedral de Santiago de Compostela. Poucos metros à frente e encontramos os tais dois marcos do Caminho a indicarem outras tantas vias: para a direita o caminho original que cruza o polígono industrial de Porriño, e, para esquerda, o complementar, este bem mais simpático, que nos fará ultrapassar o Regato do Folón pela ponte do Barranco de Orbelle. E foi nesse regato, a caminho de Centeáns, que avistei a peregrina Joey Van Der Walt, uma das personagens mais simpáticas que conheci dos muitos passos que levo do Caminho e cujas redes sociais ainda me ajudam a manter contacto, depois de tantos anos.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | A peregrina Joey Van Der Walt, de África do Sul.
É verdade que, ao longo do tempo, enquanto peregrino jacobeu, tenho tido a sorte de encontrar gentes das mais variadas proveniências, como o velho atleta olímpico italiano que conheci no Monte do Gozo (e que me ofereceu um canivete suíço que ainda preservo com carinho) ou o vetusto japonês (parecia o mestre Myagi, do “Karaté Kid”) que num tasco me perguntou qual a bebida alcoólica fresca (que não cerveja) ideal para enfrentar os duros quilómetros da Labruja, sem esquecer o simpático alemão que encontrei nas cercanias de Ponte de Lima, Karl-Heinz Lentes, e a sua esposa, casal de quem logo me tornei amigo (quis o destino que anos mais tarde encontrasse uma foto do Karl no café Mineiro do companheiro Tó Lima Alves, de Valença) e que logo me convidaram a descobrir o mercado de Natal da sua cidade, Trier. Podia continuar a elencar um sem-número de exemplos multinacionais e étnicos, mas como a Joey há poucos. De África de Sul, logo a química dialogante descambou para um caderno pleno de conversas à volta de histórias das nossas vidas, as vivências únicas do Caminho, o património e a paisagem que descobrimos na senda portuguesa, numa experiência gratificante que o tempo não há de apagar.
E num piscar de olhos alcançamos a Ermida da Virxe da Guia, datada de 1640, conforme indica a seguinte inscrição que se encontra no lintel da capela:
“Esta obra mando hazer Juan Alonso Foxeomundo i Dominga Carreira su muger. Ano 1640”.
Aproximando-nos a passos largos de O Porriño e damos conta de outra capela, a de S. Sebastian, cujo retábulo foi restaurado, pela última vez, em 2012. Este pequeno templo está relacionado com a própria origem do nome desta vila galega. Diz a tradição que junto a este lugar, o estalajadeiro Xan Porro terá construído uma série de casas, entretanto demolidas. A alcunha deste galego era precisamente a de “O Porriño”.
E das capelas, poucas centenas de metros à frente, para uma igreja, a de Santa Maria de Concepción, edificada no séc. XVI, primeiramente consagrada à Nossa Senhora do Ó. Em 1809 passou a dedicar-se a outra importante iconografia mariana, a da Imaculada Conceição.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Miniatura da Capela de S. Sebastião.
Pode ser um daqueles pequenos vilarejos da fronteira galego-portuguesa, mas quando alcançamos o casco histórico de O Porriño ficamos com a sensação de ter alcançado uma urbe de assinalável importância, a julgar, desde logo pelo imponente edifício da Casa Consistorial. Construída entre os anos de 1919 e 1919, esta obra magnífica, projetada por Antonio Palacios (porriñés de gema, é o autor, entre outros, do monumental Palácio das Comunicações, também conhecido como de La Cibeles, em Madrid) é uma joia da arquitetura conhecida como “regionalista”, com traços de pendor neomedieval.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Ponte romana sobre o rio Louro.
Mas a verdade vem ao de cima: afinal a povoação, banhada pelo rio Louro, é mesmo um pequeno núcleo, já que, pouco depois do albergue de peregrinos, alcançamos o parque, a fonte e a Capela do Cristo: juntos formam uma fronteira entre o exíguo centro deste município e a ruralidade a norte.
Para trás ficou O Porriño, o concelho de Mos vem já a seguir mal alcancemos a capela das Angústias, levantada em 1551. Logo a seguir, um painel informativo faz-nos viajar no tempo, quando este lugar era conhecido como a terra das Moas, origem do topónimo “Mos”.
A cada passo logo outro motivo de inegável curiosidade, desta feita uma escultura em homenagem à poetisa popular galega Maria Magdalena Dominguez, falecida em 2021 (com 99 anos!). Na pedra que sustenta a escultura alusiva à escritora encontra-se um dos muitos poemas que a autora dedicou à tradição jacobeia, redigido no mais autêntico galego:
“Desde o confin do mundo polo ceo
hai um camiño branco
que guia o peregrino
desde o confin do mundo ata Santiago”.
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