Vacina contra o vírus do papiloma humano
Prevenção do cancro do colo do útero
O cancro do colo do útero é um tumor maligno que afeta mulheres em várias idades e épocas de vida e que continua a ser o 4º tipo de cancro feminino mais frequente, sendo responsável por cerca de 8% das mortes femininas em todo o Mundo. Isto apesar de todo o conhecimento científico sobre esta doença que existe atualmente e que possibilita programas de prevenção primária e secundaria, amplamente difundidos e reconhecidamente eficazes.
Apesar disso, os números a nível mundial da doença são ainda muito importantes: cerca de 600 mil novos casos (300 mil mortes) e mesmo na Europa onde estes programas estão estabelecidos e aplicados ainda surgem cerca de 58 mil novos casos anuais e cerca de 25 mil mortes.
Este cancro é um dos poucos cuja causa é conhecida – uma infeção persistente por vírus de HPV de tipo oncogénico.
O HPV é um vírus muito frequente – 75 a 80% das pessoas sexualmente ativas entram em contacto com o vírus em alguma fase das suas vidas. Prevenir a infeção com HPV continua a ser a forma mais eficaz de combater as doenças com ele relacionadas.
Uma outra forma de prevenção (prevenção secundária) é a realização de rastreios para a deteção e diagnóstico precoce de lesões pré-malignas ou até mesmo da doença maligna em fase inicial, de forma a tratar a doença numa fase inicial. Por isso é aconselhado o exame ginecológico regular.
A descoberta desta relação entre cancro do colo do útero e HPV deve-se a um investigador alemão – Harald Zur Hausen, a quem e pela qual foi atribuído o prémio Nobel da Medicina em 2008. Esta descoberta permitiu o desenvolvimento de vacinas contra o HPV que protegem de forma comprovada contra o desenvolvimento das lesões relacionadas com estes vírus – a primeira vacina profilática contra um cancro.
Estas foram sendo melhoradas e atualmente a vacina nonavalente – que contem partículas que permitem a defesa contra nove tipos de HPV, provou a sua eficácia não só contra o desenvolvimento de cancros do colo do útero, mas também contra outras lesões cuja relação com o HPV está igualmente provada. Estas lesões são cancros e lesões pré-malignas da vagina, vulva, ânus, pénis e orofaringe.
Esta vacina confere uma proteção estimada em 90% para o Cancro do Colo do Útero, 95% para o Cancro do Ânus, 90% para o Cancro da Vulva, 85% para o Cancro da Vagina e 90% para verrugas genitais.
Os números de cancro do colo do útero em Portugal são também ainda muito significativos: cerca de 850 novos casos por ano e cerca de 350 mortes anuais, em média morre 1 mulher por dia vitimada por esta doença.
Embora nesta época pandémica estes números não sejam significativos nem chamem muito a atenção, interessa referir que, ao contrário doutras doenças contra as quais não há prevenção com eficácia demonstrada, as doenças relacionadas com os tipos oncogénicos de HPV têm atualmente uma arma de defesa eficaz: as vacinas.
As vacinas contra o HPV fazem parte do PNV em Portugal desde 2008 e integra o Programa Nacional de Vacinação (PNV) desde 2008 e contempla, desde então, todas as raparigas e mulheres nascidas após 1992. Embora numa primeira fase o foco da vacinação da população feminina fosse fundamental, a partir do ano passado foi aprovada a vacinação dos rapazes a partir dos 10 anos.
Porque é que se justifica e em que se baseia a defesa da vacinação masculina?
Pois bem, várias são as razões pelas quais é de toda a lógica que assim seja.
1 - A vacina Nonavalente provou eficácia na defesa contra nalguns cancros e doenças pre malignas que também afetam o homem: cancro do pénis, cancro anal, cancro da orofaringe;
2 - A vacina Nonavalente protege contra as verrugas genitais e condilomas;
3 - E contra a papilomatose respiratória juvenil – incidência em ambos os sexos;
4 - Os parceiros não vacinados de pacientes tratadas por lesões a HPV – nomeadamente lesões precursoras de cancros podem constituir um reservatório permanente do vírus, e uma fonte de reinfecção de impossível controlo ou tratamento;
5 - Embora a vacina não tenha um efeito curativo, a estimulação do sistema imunitário e a produção de anticorpos que ajudam o organismo a libertar-se do vírus, é um efeito constante e consistente desta vacina.
Este efeito permite um mais rápido desenvolvimento de imunidade de grupo e possibilita vislumbrar num futuro próximo a eliminação do cancro do colo do útero como doença que compromete a saúde pública e torná-lo uma doença rara, sem a repercussão dramática que ainda tem na vida e bem-estar da humanidade.
Autora | Teresa Fraga - Ginecologia e Obstetrícia
Fotografia de capa | Agência Brasília