
Verões de Mudança: A Saga das Dietas
Pegadas no deserto!
Os dedos de uma mão são suficientes para contar o pouco que falta para o verão de 2024. É certo que já fomos presenteados com alguns dias de calor, que serviram para matar as saudades da praia, mas não foram mais do que uma pequena amostra do que aí vem. Certamente já constataste que o calor exige uma nova rotina na tua cozinha, convidando a uma sazonal mudança de hábitos para dar resposta às exigências específicas do clima mais quente.
O calor convida a refeições mais leves, as sopas cedem gentilmente o seu lugar à frescura das saladas, as comidas de conforto deixam-nos desconfortáveis e sonolentos, para além de exacerbarem o calor. Ao mesmo tempo, as frutas renascem e a água ganha uma nova vida.
Após um inverno de sofá e uma generosa massa gorda amealhada, chegou a altura de acordar, sair da caverna e enfrentar uma nova estação. Em Portugal, por tradição, estamos na “época alta das dietas”. A alimentação e a atividade física tornam-se nos dois maiores eixos de investimento.
É imperativo ir ao supermercado e, ao contrário das visitas anteriores, desta vez um cestinho não dá conta do recado. Com um sorriso pateta, sigo a conduzir um carrinho cromado, orgulhoso do quão saudável ele contém. Risco do mapa os corredores de inverno, hoje é dia de descobrimentos, conhecer e circular em corredores nunca antes visitados. Passados 30 minutos, o carrinho afinal não é tão grande quanto parecia. Tenho mais de cinco quilos de cinco tipos de frutas diferentes, cerca de vinte variedades de vegetais, quatro paletes de quatro marcas de iogurtes anticalóricos, meio quilograma de queijo flamengo ultra-magro, uma embalagem de quatro queijinhos frescos, cinco peitos de frango sem pele, meia dúzia de pudins proteicos, um salmão transformado em postas finas, e uma cesta de brócolos. Cem euros de investimento!
Segue-se uma visita à loja de artigos desportivos do centro comercial mais próximo. Inimaginável voltar ao ginásio com a penugem do ano anterior. Como ficariam as “selfies”? E os “reels”? Que horror! É necessário adquirir o último grito do “outfit” desportivo da marca do momento, porque branca só mesmo a “t-shirt”. Duzentos euros resolvem o problema.
Começar quando? Já! Inscrição no ginásio? Mais uma, o meu currículo já leva 10 inscrições e 10 desistências. Trezentos euros depois, estão reunidas todas as condições para começar uma verdadeira mudança de hábitos, ou será que não? Não sendo possível comprar alguma força de vontade, motivação e capacidade de sofrimento em prol de um objetivo nobre, a prata da casa vai ter de ser suficiente.
Primeiro dia de dieta, objetivo: eliminar tudo. A balança parece gostar de passar fome. Hidratos de carbono? Nem pensar, só de pronunciar essa palavra sinto-me logo a ganhar volume. Uma hora de treino? Poucochinho, para ter um gasto calórico minimamente excitante são necessárias pelo menos duas horas. Aulas de grupo orientadas? Isso é para velhos, nada bate a passadeira e o ferro, o “oldschool” continua na ordem do dia.
72 horas depois, a balança anuncia menos dois quilogramas, mas, apesar da boa notícia, sinto-me deprimido. Tenho os gémeos doridos e sou invadido por uma fraqueza e um vazio profundo. Em cima da mesa jazem frutas podres, o frigorífico apresenta brócolos amarelados e iogurtes fora de prazo, no congelador alguns quilogramas de salmão esquecidos. Metade das roupas desportivas, apesar de bem arrumadinhas na gaveta, ainda está com a etiqueta.
Entretanto, passaram-se vinte anos. A minha penugem a cada dia que passa está mais branca, as entradas do couro cabeludo estão a migrar para trás, em jeito de uma maré vazia na areia. Vinte dietas depois, continuo fofo demais, os outros dizem que estou “forte”, continuo a detestar ginásio mas não resisto a uma nova inscrição. O sorriso pateta de outros tempos tem sido gradualmente substituído por rugas pouco experientes. Tenho a sensação que ando perdido, mas não consigo localizar o momento em que comecei a desviar-me. Todos os verões vejo e sigo as minhas pegadas do ano anterior e continuo a achar cómico e estranho ao mesmo tempo!
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