Ouro Verde: O nosso Azeite
Em Moura, no Alentejo, o trator leva-nos pelos campos plantados com oliveiras, onde se vão preparar as “redes” para a apanha da azeitona.
Ana Amaral, 63 anos, residente em São Miguel de Machede (Évora) conta que “quase todos os anos faço a apanha da azeitona para meu consumo, o excesso entrego no lagar para receber o azeite”.
“Geralmente o tempo é que manda, mas, no Alentejo, a partir de finais de outubro, princípios de novembro é quando se começa a apanha da azeitona”.
Mais cedo, apanha-se a azeitona para fazer conservas.
“Que eu conheça há dois tipos de apanha da azeitona: o tipo manual, que é o mais normal aqui no nosso Alentejo, que é com umas varas, esticam-se os panos debaixo das oliveiras, depois tem um pano à ponta, nós batemos nas árvores com uma vara, a azeitona vai caindo, depois tira-se as folhas, ensaca-se e vai para o lagar. Depois, há a apanha mecânica, pode ser também nestes olivais mais pequenos, já temos umas varejadoras a gasolina, batem nas oliveiras, a azeitona cai à mesma, vai para cima dos panos, é ensacada e vai para o lagar. E depois há os olivais intensivos, que produzem muito mais azeitonas do que o olival normal, as oliveiras são regadas todo o ano para produzirem mais, a apanha é diferente, é tudo com máquina”.
Ana Amaral, apanhadora de azeitona, reconhece que “o olival tradicional está muito envelhado e dá muito mais trabalho, a produção já não é a mesma e é tudo feito à mão”.
Explica também que “a primeira azeitona que costumamos apanhar é a azeitona para provar, que geralmente nunca é varejada para não ficar mole. Apanhamos à mão, no Alentejo até costuma ser para dentro de um guarda-chuva, puxa-se o raminho, esta azeitona está sempre boa”.
Depois, a segunda parte da azeitona “já é para conserva, apanha-se mais tarde, já está mais madura, é uma azeitona mais pequena”.
A última fase da azeitona “é a que se faz o azeite, é uma azeitona já mais gasta, mais velha, mais mirrada, já não precisa ser escolhida, no lagar é que fazem a limpeza das folhas e dos ramos, fazem a lavagem, fazem essas coisas todas para se tirar o azeite”.
Na Coolma – Cooperativa Oleícola de Machede, as azeitonas são descarregadas, vão para a lavadora para tirar as folhas, e depois são pesadas. Este relato já é feito por Eloi Padeiro, tem 78 anos e trabalha desde os 26 no lagar. O espaço é preenchido com várias máquinas, que conhece e controla para o processo de produção do azeite.
A azeitona é “sugada” pelas máquinas, passa por um tapete, por água, é sacudida, passa por tubos…
“Aqui é o depósito em que entra a azeitona, depois é que vai para ser moída, ali em cima, com moinho de martelos. Aqui são duas caixas térmicas onde a massa é quente, com temperatura de 20 e poucos graus”.
Há ainda um painel com luzes, “tem de chegar às 4 mil e 500 e qualquer coisa de rotações”, e aponta para os números que vão crescendo.
“Já está a entrar a massa no tubo, e vai aparecer ali o azeite, demora um bocadinho, e aí está ele!” E vê-se um líquido amarelado que vai depois “às 7 mil rotações na centrifuga”. Agora, sim, já se vê o azeite virgem, corre pelo tubo e vai ser despejado dentro dos depósitos.
Eloi Padeiro explica que “a melhor azeitona para nós é a galega tradicional, que dá o azeite melhor. Os espanhóis têm a arabequina, que dá uma grande percentagem de azeite, mas a qualidade não é boa nem comparável com a nossa azeitona tradicional”.
Em Portugal, a referência à oliveira data do tempo dos Visigodos, no Séc. VII, mas foram os árabes, na conquista da Península Ibérica, no Séc. VIII, os grandes impulsionadores do cultivo e exploração da olivicultura.
Nos forais das antigas províncias da Estremadura e do Alentejo, durante o final da Idade Média, constava que a maior produção de azeite em Portugal era atribuída às regiões de Coimbra e Évora.
No Séc. XVI, o azeite começa a ser utilizado para iluminação e para exportação, para destinos na Europa do Norte e ultramar, em especial para a Índia.
A longevidade da Oliveira é grande, e há registo de árvores com mais de 2 mil anos de existência.
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Reportagem vídeo | Moisés Romão (produtor)
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