As Judiarias da Cidade do Porto
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1º Capítulo

Um povo em eterna diáspora. Desde o antigo Crescente Fértil até Canaã, conduzidos pelo patriarca Abraão; das planícies do Nilo até ao cárcere na Babilónia; da expulsão da sua Israel até incontáveis manigâncias às mãos da inquisição e dos fascismos, os judeus souberam construir uma cultura riquíssima, muitas vezes incompreendida, legando um contributo extraordinário à História da Humanidade.

Os judeus são originários dos israelitas e hebreus do Israel e Judá históricos, dois reinos relacionados que surgiram no Levante (Crescente Fértil, território entre os rios Tigre e Eufrates, que correspondem ao atual Iraque durante a Idade do Ferro.

Um povo de origem semita, os hebreus, descendem da mesma linha dos babilónios, assírios, caldeus, fenícios e árabes.

O nome “hebreu” vem do hebraico "Ivrim", que significa "povo do outro lado do rio". No ponto de vista bíblico (Antigo Testamento), Abraão foi o primeiro hebreu, o primeiro patriarca, a primeira a pregar uma religião monoteísta, a religião de um único Deus. Abraão, que terá vivido entre os séculos XXI e XVIII a.C., terá sido ordenado por Deus como o primeiro patriarca dos hebreus e a conduzir o seu povo até à terra “onde corre leite e mel”, deixando a cidade de Ur para trás. O seu primeiro filho, Ismael (teve-o com a sua serva Agar), será o primeiro líder dos ismaelitas. Isaac (teve-o com a sua esposa Sara, aos 100 anos de idade), um dos três patriarcas de Israel, teve Jacó, precursor das Doze Tribos de Israel. A Abraão (outros referem Moisés) atribui-se os primeiros capítulos da Torá (um dos três livros sagrados do Judaísmo, a par com o Talmude e a Cabala) e a sua guarda. A Torá é o livro que está na base dos textos da Bíblia, o Antigo Testamento para os Cristãos. Abraão é considerado o pai das três mais importantes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, conhecidas também como religiões abraâmicas.

Embora a menção mais antiga de Israel esteja inscrita na Estela de Merneptah por volta de 1213–1203 a.C., a literatura religiosa conta a história dos israelitas desde pelo menos até 1500 a.C.

A Estela de Merneptah, também conhecida como a Estela de Israel ou a Estela da Vitória de Merneptah, é uma inscrição de Merneptah, um faraó do antigo Egito que reinou de 1213 a 1203 a.C. Descoberto pelo egiptólogo britânico Sir Flinders Petrie em Tebas em 1896, está agora no Museu Egípcio do Cairo. A Estela representa a referência textual mais antiga a Israel e a única referência do antigo Egipto. É uma das quatro inscrições conhecidas da Idade do Ferro que datam da época e mencionam o antigo Israel pelo nome, sendo as outras a Estela Mesha, a Estela Tel Dan e os Monólitos Kurkh.

Terá sido David, em 3000 a.C. a fundar a cidade de Jerusalém (do hebraico yerushalayim, que significa “fundação da paz”.). De acordo com a Bíblia hebraica, o rei David conquistou a cidade aos jebuseus e estabeleceu Jerusalém como a capital do Reino Unido de Israel. É considerada a primeira cidade sagrada do Judaísmo e do Cristianismo e a terceira para o Islamismo - em 660, aqui terá o profeta Maomé ascendido ao paraíso: Noite da Ascensão e encontrados os “profetas anteriores do Islão – Adão, Nu (Noé), Ibraim (Abraão), Ismail (Ismael), Muça (Moisés), Solimão (Salomão), Iália (S. João Baptista) e Issa (Jesus).

As guerras judaico-romanas, uma série de revoltas mal - sucedidas contra os romanos nos séculos I e II d.C. resultaram na destruição de Jerusalém e do Segundo Templo, e a expulsão de muitos judeus, originando aquela que é conhecida como a Diáspora Judaica original, com o povo judeu a espalhar-se pelas principais províncias do império Romano. Nos séculos seguintes, as comunidades da diáspora fundiram-se em três grandes subdivisões étnicas de acordo com o local onde seus ancestrais se estabeleceram: Os Ashkenazim (ou askenazis) na Europa Central e Oriental, os Sefarditas (Sefarad “Terra Longínqua”) na Península Ibérica (Hispania) e os Mizrahim, conhecidos como os judeus do Médio Oriente e Norte da África.

O termo "sefardita" é derivado do hebraico "Sefarad", que significa Espanha ou terra longínqua. Os judeus sefarditas tiveram uma presença significativa na Península Ibérica por cerca de 1.500 anos, desde a época romana até o final da Idade Média.

Durante este tempo, eles desenvolveram uma cultura distintiva e mantiveram uma presença influente na sociedade ibérica, desempenhando um papel importante na vida cultural, económica e política da Península Ibérica, contribuindo para o desenvolvimento da medicina, da poesia, da filosofia e da literatura.

Foi durante a Idade Média que a presença judaica em Portugal se tornou significativa.

No século XII, o rei Afonso Henriques de Portugal conquistou a cidade de Santarém e permitiu que os judeus se estabelecessem na cidade. Durante os séculos seguintes, os judeus desempenharam um papel importante na economia e na cultura portuguesa, com destaque para a sua atividade como comerciantes, banqueiros e médicos.

Porto

Fotografias de Artur Filipe dos Santos | 1 ► Rua de Sant'Ana (antiga Rua das Aldas), provavelmente a mais antiga rua do Porto. A judiaria Velha estendia-se desta artéria até à Rua Chã (antiga Chã das Eiras). 2 ► Rua Chã, onde terá funcionado uma albergaria judaica. 3 ► Escadas da Vitória (antigas Escadas da Esnoga), um dos acessos da Judia Nova do Olival.

A chegada dos judeus à cidade do Porto deve-se ao crescimento da cidade enquanto importante entreposto comercial entre a bacia do Mediterrâneo e o norte da Europa.

No Porto há registo de três judiarias: a Judiaria Velha, próxima da Sé Catedral, a Judiaria de Miragaia (ou de Monchique) e a Judiaria do Olival.

Judiaria Velha do Porto

A Rua Escura (que já se chamou Rua Nova) teria sido uma das artérias mais importantes da Judiaria Velha.

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | A Rua Escura (que já se chamou Rua Nova) teria sido uma das artérias mais importantes da Judiaria Velha.

Durante os séculos XIII e XIV, a comunidade judaica prosperou no Porto, com a maioria dos seus membros envolvidos no comércio, artesanato e finanças. A Judiaria Velha tinha sinagogas, banhos rituais, cemitérios e outras instituições judaicas importantes.

A Rua de Sant'Ana (antiga Rua das Aldas) é uma das ruas mais antigas e históricas da Judiaria Velha do Porto. Chegou a ser chamada de Rua da Sinagoga (Esnoga em “ladino” judaico”), conforme atesta um documento datado do séc. XIV, quando Afonso Pires de Soveral era o bispo da cidade.

Apesar de não haver vestígios arqueológicos na Rua de Sant'Ana, sabe-se, em documentos do Cabido, sobretudo ao tempo do Bispo Afonso Pires de Soveral (1359-1372) e da Vereação do Porto que havia várias casas e estabelecimentos comerciais pertencentes aos judeus, incluindo lojas de tecidos, ourivesarias, padarias e açougues. Era habitual, em outras localidades com uma importante comunidade judaica, que casas de ricos judeus poderiam ser usadas para sinagogas (bastando que se juntassem 10 judeus adultos “Sefer Torá”), havendo inclusive relatos de uma possível sinagoga na Ribeira, provavelmente na antiga “Rua da Munhata”. Situada na parte alta do morro da Sé, dentro da "cerca velha", espalhava-se pelas Aldas, até à Rua Chã (antiga Chã das Eiras) e, provavelmente ao Largo do Colégio de S. Lourenço, contudo sem qualquer evidência do ponto de vista arqueológico, apenas de natureza documental. Mas a importância da "Comuna dos judeus” como um agrupamento importante de artesãos, de comerciantes, entre outras atividades, levou à criação de documentação relevante sobre a Judiaria Velha. No tempo de D. Afonso V (1455, a propósito da compra dum chão, dá-se a entender que a Judiaria Velha estava entre a Rua Escura e a Rua Chã, onde, terá funcionado uma albergaria para judeus.


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