Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português
Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português
Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português
Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português
Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português

Serra da Labruja: a jornada mais dura do Caminho Português

Antes de alcançar a fronteira em Valença, há que ultrapassar mais 400 metros de altitude, por entre caminho florestal, cruzes e vistas deslumbrantes. O Caminho alcança a Serra da Labruja, a etapa mais desafiante do Caminho Central.

Ponte de Lima amanhece com promessa de um dia de sol. A vila banhada pelo “rio do Esquecimento” vê as suas águas fluírem lentamente por debaixo da ponte romano-medieval, construída inicialmente por volta do séc. I, reconstruída por altura do foral de D. Teresa, já no séc. XII. Ao abandonar o albergue municipal da localidade minhota, vislumbramos os primeiros raios do astro-rei sobre a capela do Anjo da Guarda, edificação sobranceira à margem norte, cenóbio de enorme veneração para as gentes limianas, edificada no séc. XIII e consagrada a S. Miguel. É património nacional desde 1978.

Ainda não refeitos da etapa do dia anterior (34 km desde Barcelos a Ponte de Lima, naquela que é, reconhecidamente, a mais extensa etapa do Caminho Central), os peregrinos já sabem, que neste dia, vão enfrentar a mais dura, mas também provavelmente a mais especial (em termos naturais) das jornadas da rota jacobeia portuguesa: a subida ao alto da Serra da Labruja. Quase 18 quilómetros desde Ponte de Lima até Rubiães, passando por caminhos ladeados por ribeiros, logo à saída da vila, em Antepaço, cruzando caminhos cobertos por ramadas de vinha e daí até à Igreja de Santa Marinha de Arcozelo, igreja secularíssima que já fez parte do bispado de Tui (doada por D. Afonso Henriques) e, no tempo de D. João I chegou a ser um templo dirigido pela diocese de Ceuta. É parte da diocese de Viana do Castelo desde 1977, ano da fundação desta delimitação administrativa católica.

Vale a pena, e muito, parar no café “Oásis do Caminho”, promovido por uma comunidade italiana que se dedica, entre outras, à pesca fluvial, bem como a saudar todo o peregrino que por ali passa. 

Cascata no Rio Toca

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Cascata no Rio Toca.

Seguindo o curso do rio Toca, deparamo-nos com pequenas cascatas, mas como não há tempo para banhos, deixamo-nos, ao invés, fascinar por um dos entornos naturais mais especiais do todo o Caminho Central Português.
Eis-nos chegados à capela e cruzeiro da Senhora das Neves, na aldeia de Cepões, que ladeia precisamente a rua do Caminho de Santiago. Construída no séc. XVII, dizem as crónicas, por um cidadão autóctone, terá sido reconstruída em 1970, conforme uma inscrição que podemos descobrir numa das paredes laterais. Esta capela, já na freguesia da Labruja, parece marcar, tradicionalmente, a ansiada (ou temida, sobretudo pelos ciclistas) escalada ao topo da serra, até ao Alto da Portela Grande. Mas não sem antes avistarmos, ali perto, a igreja matriz da Labruja (consagrada a S. Cristóvão e cujas origens podem remontar ao séc. IX, ao tempo da edificação de um mosteiro beneditino) e enchermos o cantil com a água fresca da Fonte das Três Bicas (há quem diga que a sua origem é romana).

Igreja de Arcozelo e caminho à saída de Ponte de Lima

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Igreja de Arcozelo e caminho à saída de Ponte de Lima.

Esculpido pelo calcar dos passos e da erosão natural, o caminho florestal leva-nos a subir 400 metros em direção ao alto da serra, conhecida como um nome que mais identificamos com o dicionário espanhol do que o das terras lusitanas: La Bruja. Segundo os onomastas, que, estudam, entre outras, a origem da toponímica, o nome da serra (e da freguesia) não vem de “bruxa”, mas provavelmente da palavra latina “labrugia”, de múltiplos significados. E porque muitas vezes a lenda parece-nos bem mais apetecível do que o relato histórico, certo é que esta serra está imersa em mistério e lendas, como a da sétima das sete filhas que se tornou “Pieira (ou peeira) dos Lobos” e que por arte de beleza humildade terá levado a que o primeiro conde e senhor da Torre de Refoios de Lima, Afonso Ansemondes, a doar toda a sua riqueza ao mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.

Moledro no Caminho e a Cruz dos Franceses

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Moledro no Caminho e a Cruz dos Franceses.

É dura, mas proveitosa a subida. Miramos ao longe o imponente Santuário da Senhora do Socorro (obra em barroco rococó, datada do final do séc. XVIII e lugar de importante romaria) e toda a manta de arvoredo, composta, maioritariamente por pinheiros. E como já ouvimos falar nessa peça de história e de importância atual para a realidade do Caminho, ansiamos avistar a Cruz dos Franceses, também conhecida como a cruz dos Mortos. 

Perdida no meio da floresta e embrulhada pelas oferendas (algumas delas, diga-se, realmente exageradas) dos peregrinos, a Cruz, edificada por populares, recorda a peleja entre os soldados da ordenança do exército português, apoiados pela população local, frente a um grupo de retardatários das tropas napoleónicas, episódio ocorrido no contexto da invasão de 1809 e a tomada de Ponte de Lima pelos Franceses.

E como tudo o que sobe, acaba, eventualmente, por ter de descer, eis-nos enfim, no Alto da Portela Grande. Depois de alguns minutos para respirar fundo e descansar, logo nos deixamos apaixonar pelas vistas para a Serra do Corno do Bico. Uma enorme cisterna, junto à casa do guarda vai ajudar a arrefecer os pés antes de seguir para Rubiães, já no concelho de Paredes de Coura.

Albergue

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Albergue.

Sempre a descer, aproveitamos para deixar uma última prece no cruzeiro de Agualonga (também este coberto de ofertas peregrinas), até finalmente chegarmos a Rubiães, e entrarmos dento da velha escola primário, desta vez não para estudar mas sim para encontrar o merecido descanso.


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