Pedro nasce para a História Mundial

Pedro nasce para a História Mundial

A véspera da viagem

2ª Parte

Vasco da Gama, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, regressou a Portugal em setembro de 1499, pouco tempo depois da morte do seu irmão Paulo da Gama na passagem pelo arquipélago dos Açores, na ilha Terceira. Não existem momentos cem por cento de felicidade ou de tristeza, a receita da vida normalmente passa por um doseamento simultâneo de alegrias e tristezas, bem o pode dizer Vasco da Gama. Ainda a fazer o luto do seu irmão, 3 meses após a chegada, em dezembro, recebe do Rei D. Manuel a concessão da sua terra natal, a vila de Sines e de todos os seus rendimentos, ou seja, tornou-se um homem rico. Apesar de ter nascido nobre, não deixou de ser um momento muito importante, para além de começar a receber uma renda anual, foi integrado no Conselho do Rei e conquista do titulo de “Dom” e “Almirante da Índia”.

Ainda na ressaca da bem-sucedida primeira viagem à Índia, o pensamento do Rei D. Manuel já estava numa segunda viagem, não era fácil conter a ambição. Uma vez aberta a caixa de Pandora que era os descobrimentos, a nação não poderia parar por aqui, o orgulho Nacional estava em alta e o contributo Português para o mundo mal havia começado. 5 meses depois, por carta régia datada de 15 de fevereiro de 1500, Pedro Álvares (ainda Gouveia), na altura já com 33 anos de idade, foi nomeado capitão-mor da 2ª Armada à Índia. A missão tinha caráter diplomática, comercial e militar, com licença de uso de força se necessário, e claro está, regressar com o máximo de riquezas possíveis.

Figura 1 | Corte do Rei D. Manuel I

Não está muito claro o que motivou D. Manuel a escolher alguém completamente inexperiente a comandar grandes expedições, Pedro Álvares. No decreto real, sem entrar em detalhe, as razões dadas foram "méritos e serviços", nada mais se sabe sobre estas qualificações, mas percebe-se que são de tal forma generalistas que provavelmente haveria motivos que não foram nem poderiam ser oficializados. Provavelmente o sobrenome Cabral e ter 2 irmãos na corte do Rei ajudou. Enfim, seja o fruto de intrigas políticas na corte, manobras ocultas relacionadas com a ordem de Cristo ou uma tentativa de equilibrar os interesses de frações rivais, Pedro Álvares foi o escolhido, era sem dúvida o homem do momento. Cheirava a mudança, os holofotes que até então estavam focados em Vasco da Gama começam a iluminar Pedro Álvares Cabral, o desconhecido filho do gigante das beiras, aos 33 anos nasce para a história mundial.

Figura 2 | Pedro Álvares Cabral

 

Cabral tornou-se o líder da expedição, enquanto navegadores mais experientes como é o caso de Bartolomeu Dias e de Nicolau Coelho, foram destacados para a expedição para ajudá-lo em assuntos navais. A comitiva era vasta, cerca de 1500 homens, dos quais 700 eram soldados e considerados pouco experientes, mas também incluía cientistas, astrónomos, nobres, elementos do Clero e o escrivão Pedro Vaz de Caminha.

8 de março de 1500, ano bissexto que havia começado numa quarta-feira e que marcava o final do século XV. Decorria uma missa solene na capela de São Jerónimo no Restelo, entre os fiéis presentes eram figuras de destaque o Rei D. Manuel I e a sua corte e, o pouco experiente navegador Português, Pedro Álvares Cabral.

Figura 3 | Capela de São Jerónimo, Restelo

Fotografia | João Martinho


Hoje fica bem falar da coragem ou dos possíveis motivos nobres de Cabral, mas a busca de riqueza e de prestigio parecem ter sido o maior estímulo. Uma viagem bem-sucedida iria render a Cabral 10 mil cruzados (cerca de 35 kg de ouro), para não falar que podia comprar 30 toneladas de pimenta e 10 caixas de qualquer outro tipo de especiarias, tendo a liberdade para as vender livre de impostos.

Em busca de proteção divina, Cabral e a sua comitiva assistiram à cerimónia e comungaram, esta era uma parte importante da preparação para o que viria a ser uma viagem de memória eterna. As cerimónias oficiais continuam, Cabral recebe das mãos do Rei o estandarte real, um símbolo de poder.

Com o apoio do Rei, de Deus e de uma nação inteira, estes homens finalmente estavam prontos para se lançar ao desconhecido.

Figura 4 | Partida de Pedro Álvares Cabral


Figura 5 | Viagem de Pedro Álvares Cabral