Regressos: e depois das férias?

Regressos: e depois das férias?

Regressar, voltar, retornar, reviver, estes são alguns dos sinónimos da palavra regresso. Acabaram-se as férias, e agora? Para onde regressamos e como regressamos? Estamos de volta a casa, mas que casa? Como a habitamos? Quem a habita? De volta ao trabalho, mas que trabalho? Como trabalho? (quando há trabalho).

As malas não são apenas para sair e seguir de viagem, mas também para os regressos. O que trazemos de volta na bagagem? Como regressamos a casa? Como voltamos ao hábito dos dias?

Regressos são também reencontros, voltar a encontrar. Se as relações estão bem, que bom. Se o trabalho é prazeroso, motivante e reconhecido (boas relações e com remunerações dignas), tanto melhor. Acontece é que nem sempre tais condições se encontram reunidas.

Regressos são muitas das vezes trazer na bagagem mais do mesmo, ou seja, a teimosa e desatualizada forma de ser e estar, porque quando assim é, a pessoa não se atualizou no ato criativo do novo, no instante que se apresenta. Se se atualiza regressa doutro jeito, com abertura para o novo, para o que está e há de vir.

Na partida para férias aspira-se renovação, arejamento, experiência do novo. No regresso deveria ser o mesmo, se não, o habitual e rotineiro modo de ser e estar impregnado de expectativas frustradas e entediantes.

Mais do mesmo, sem abertura, apenas corrói. O mesmo trajeto pode ser novo, a mesma casa pode ser revivida e renovada. Quando a pessoa não se ajusta aos impulsos salutares e criadores inerentes à humanidade de cada um e cada uma, só tem um destino e uma emoção: o tédio. Sendo que a única função do tédio é incomodar, instalar o desconforto para que se inicie uma mudança, e agita-nos para o ensaio de novos caminhos.

O desafio é acolher o possível, abrir-se ao novo que as relações são, à novidade que cada dia traz, há mudança que a rotina anuncia, pois, o “quotidiano é mudança disfarçado de rotina” (Abel Cortese), como muitas vezes temos dito.

Neste regresso também se inicia um novo ciclo de trabalho, um novo ano escolar, entre outras novidades. As “férias grandes” (para quem as tem e pode), marcam sempre estas passagens. Janus, o deus das transições e dos portais, começa a anunciar que o passado do Ano presente é maior, e a porta de passagem para o ano novo está cada vez mais próxima. Novos ciclos, pedem sempre promessas, possibilidades, auroras. Como posso contemplar a aurora se não olho o sol. Como posso iniciar se não dou o primeiro passo? Como posso criar uma nova coreografia na dança da vida se não arrisco um novo gesto, um novo balanço no movimento vital.

Acolher o novo do novo só é possível com ajustes criativos, com autoatualização, com disponibilidade para aprender, pois como diz a letra da canção “Tocando em Frente” de Almir Sater: “só levo a certeza de que muito pouco sei ou nada sei”, mas transporto em mim a curiosidade necessária para olhar o que se apresenta como novo, para aquilo que se apresenta no instante que passa. Esse momento quando vivido é nosso, se assim não é, já foi. Por isso como diz o nosso grande Vergílio Ferreira “vive o instante que passa (…), é um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E, no entanto, ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro”.


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