As Festas de San Fermín de Pamplona
O relógio marca meio-dia do dia 6 de julho e, em Pamplona, a explosão do chupinazo ecoa pelas ruas, marcando o início de uma semana de pura adrenalina e tradição. Pamplona, uma cidade com uma história rica que remonta a tempos pré-romanos, transforma-se num epicentro de celebração durante as Festas de São Firmino, ou Sanfermines, como são carinhosamente conhecidas.
Pamplona, também chamada “Iruña” em basco, tem cerca de 203 mil habitantes e uma história que se estende por milénios, desde as primeiras ocupações humanas até à era romana, passando pela Idade Média e os tumultuosos séculos de guerras e mudanças políticas. Fundada pelo general romano Pompeu em 74 a.C., a cidade tem sido um palco de batalhas, unificações e desenvolvimentos que a moldaram na metrópole vibrante que é hoje.
A origem das Festas de São Firmino remonta a tempos antigos, celebrando o santo padroeiro da comunidade autónoma. São Firmino (apelidado “de Amiens”), filho de um senador romano, converteu-se ao cristianismo por mérito de Santo Honesto, discípulo de São Saturnino, que viria a batizar Firmino em Toulouse, no lugar que ainda hoje é conhecido como “poço de San Cernin”. Ordenado sacerdote, tornou-se o primeiro bispo de Pamplona e, durante uma viagem de pregação, foi martirizado em Amiens no século III. A devoção a São Firmino começou a ganhar força no século XII, quando o bispo Pedro de Artajona (ou “de Paris”) trouxe uma relíquia do santo para a cidade.
As Sanfermines, celebradas de 6 a 14 de julho, são uma combinação de tradições religiosas, feiras comerciais e touradas.
O evento começa com o chupinazo, um foguete lançado da sacada do Palácio Consistorial, antecedido pelo grito inicial vociferado pelo alcaide (ou alcaldesa): “Pamploneses, pamplonesas! Viva San Fermin, Gora San Fermin”!
Fonte | El Mundo
Logo a seguir, saem pela porta principal do magnífico edifício camarário em direção à Plaza del Ayuntamiento cerca de 200 gaiteiros, acompanhados por txistularis (tocadores de txistu, uma espécie de flauta, semelhante às de bisel, desta feita de origem basca), bombos e caixas para interpretarem La Pamplonesa, mais conhecida como "Animo Pues".
Fonte | Navarra TV
É um momento único e espetacular para quem experiencia o arranque das Sanfermines, com o mar de gente (imagem que se repetirá pelos nove dias de festa) a levantar os braços, a saltar e a dançar ao mesmo tempo que cantam, em uníssono, a seguinte letra:
"Ánimo, pues! ¡Ánimo, pues! Que la victoria nos sonríe
¡Ánimo, pues! ¡Ánimo, pues! Que la victoria nuestra es
Si no tienes un duro, no te hace caso nadie, rumba la rumba la run
Si no tienes un duro, no te hace caso nadie, rumba la rumba la run
En cambio, si lo tienes, amigos a millares
rumba la rumba la rumba la rumba del cañón
¡Qué pedo llevas, Calatayud! ¡Qué pedo llevas, Calatayud! ¡Qué pedo llevas, Calatayud!
Si l'has cogido, si l'has cogido, peor p'a tú."
Está dado o mote para uma jornada épica de eventos que incluem o icónico encierro — a corrida de touros pelas ruas da cidade.
Fonte | Gaiteiros, acompanhados por txistularis.
O encierro é, sem dúvida, a atividade mais emblemática e célebre dos Sanfermines. Todos os dias, às 8 horas da manhã, seis touros são conduzidos por um percurso de 849 metros que atravessa o centro histórico de Pamplona até à praça de touros. Este evento, que dura apenas três a quatro minutos, atrai participantes de todo o mundo que se arriscam na corrida, movidos pela adrenalina e pelo desafio. Desde 1922, mais de 15 pessoas perderam a vida nesta corrida, lembrando-nos constantemente do perigo e da coragem envolvida.
Ernest Hemingway, o famoso escritor norte-americano, desempenhou um papel crucial na propagação da notoriedade das Festas de São Firmino. Através do seu livro "The Sun Also Rises", Hemingway imortalizou Pamplona e as Sanfermines, captando a atenção internacional para esta celebração. Desde então, esta festa memorável tem atraído mais de um milhão e meio de visitantes anualmente, transformando a cidade numa vibrante mistura de culturas e línguas, entre a alegria esfuziante e o caos urbano.
As Festas de São Firmino são também conhecidas pelas suas três datas de celebração: 7 de julho, em honra das Sanfermines; 25 de setembro, celebrando o martírio do santo; e no domingo seguinte a 13 de janeiro, comemorando a chegada da primeira relíquia de São Firmino a Pamplona. Estes eventos religiosos foram, ao longo dos séculos, combinados com feiras e touradas, formando a festa complexa e multifacetada que conhecemos hoje.
Outra tradição marcante é o Riau-Riau, um evento não oficial que ocorre na tarde de 6 de julho. Recuperada a partir de 1992, recorda a antiga procissão (conhecida como “Marcha às Vésperas”) que a Corporação Municipal de Pamplona realizava desde a edilidade até à Igreja de San Lorenzo, onde se encontra a capela de San Fermín. A corporação acabou por abandonar este rito em 1991 devido a desacatos provocados por franjas mais radicais da população. Ainda hoje a população recria a antiga marcha da corporação, transformando um percurso de 500 metros numa jornada que pode durar horas e cujo ponto alto é a interpretação da “valsa Astráin” por bandas de música, com centenas (por vezes milhares) de pessoas a dançar ao som contínuo dessa peça musical.
Ao cair da noite, a cidade que durante o dia é um turbilhão de corridas e música, acalma-se ao som da melancólica “Pobre de Mí”. Uma vez mais, milhares de pessoas, desta vez quase só pamploneses, despedem-se da festa no último dia do arraial, a 14 de julho, em conjunto com a edilidade, com o alcaide a proclamar, precisamente à meia-noite e, de novo, a partir do balcão da casa consistorial, o epílogo das comemorações, recordando que já falta menos de um ano para Pamplona voltar a estar em festa. Depois de o edil gritar “Viva San Fermin, gora San Fermín”, o mar de gente canta “pobre de Mí, Pobre de Mí, que se han acabado las fiestas, de San Fermín”, encerrando as festividades com uma nota de saudade, com a esperança de que, para o ano que vem, a festa seja ainda mais épica.
Gostou do texto? Deixe abaixo a sua reação e comentário...
Ver também |
Euribor em Tendência de Descida
A Arte de Saber Esperar
Pronto para embarcar na próxima aventura? Garanta seu alojamento com o Selo Draft World Magazine e descubra o mundo connosco! ► Reserve agora