
A Arte de Saber Esperar
Dar tempo...
Vivemos na voracidade dos dias, vivemos na ânsia da sensação imediata, fugidia, rápida, eufórica, mas pesadamente fugaz. O prazer e o gosto que lhe sentimos rapidamente se esvaem no fumo do quotidiano. Teimamos em querer agarrar o momento feliz, ou pretensamente feliz, teimamos segurar quem está connosco, para que fique mais e mais. Queremos futuro, mas persistimos em congelar a experiência presente. O momento quer-se “movido”, solto, corrente. Não sabemos esperar.
Esperar é andar, podendo apanhar o que vem sem ficar aquém. Esperar não é inércia, apatia ou inatividade. A espera saudável é dinâmica, é aquela que espera sem deixar de caminhar.
Hoje testemunhamos a grande dificuldade das pessoas em se poderem demorar, a demora é algo a evitar, não nos demoramos nas conversas, permanecer num projeto profissional por mais de cinco anos já parece uma eternidade e no campo das relações afetivas os afetos são cada vez mais movediços e líquidos para usar a expressão de Bauman.
Acontece, que a vida só pode ser vivida quando entramos no ritmo do nosso íntimo, no compasso das relações, na demora dos sentidos. Sentir e aprender a vida, inevitavelmente, leva tempo.
As relações afetivas e amorosas precisam de tempo, do tempo comum, do tempo do encontro, do tempo da demora, pois quando boas, pedem-nos o doce deleite da demora do tempo próprio e necessário. E demorar não é perder tempo, demorar é acompanhar o tempo exclusivo, é estar presente sem os tropeços do passado e sem fugas do futuro. Quando ficamos no “antes é que era”, ou vamos para o “depois é que se será”, inevitavelmente algo se perdeu.
Como tão bem nos diz o Psicólogo e Psicoterapeuta João Augusto Pompeia: “tudo está em levar a termo (saber esperar) e depois, dar à luz. Deixar amadurecer inteiramente no âmago de si, nas trevas do indizível e do inconsciente […] e aguardar com profunda humildade e paciência a hora do parto, a hora de uma nova claridade”.
Levar a termo para dar à luz, deixar amadurecer a plenitude do aqui, do que corre, o que se vive, do agora, para tal como na natureza tudo seguir o misterioso processo da gesta, como as raízes de uma árvore que se fortificam na sombra da terra profunda. Trata-se de algo indizível, inconsciente, mas que gesta. A grande tarefa é saber aguardar.
Tudo está em saber guardar o tempo do vivido, guardar, acolhendo, guardar de mãos abertas. Dar abrigo ao tempo sem o reter para que ele, o tempo do vivido, nos toque. Para que o tempo nos toque de modo a que possamos estar a tempo de viver o que temos.
Acolher o que está é poder estar no seu lugar, no seu tempo, em si. E esse é o lugar certo, para acolhendo, poder vir a “sonhar o bom para diante” (Almada Negreiros).
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