De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central
De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central

De Rates a Barcelos, uma das mais icónicas etapas do Caminho Central

Em direção ao coração do Minho, o Caminho Central a partir de S. Pedro de Rates descobre uma atmosfera incomum, misto de religiosidade e história, natureza e património até alcançar Barcelos, uma das metas mais importantes das rotas portuguesas a Santiago de Compostela.

Caminho

Fotografia | Igreja de S. Pedro de Rates

Ainda de madrugada, os sinos da igreja românica de S. Pedro de Rates e da capela de Santo António levam o peregrino a sonhar com a jornada que lhe espera até Barcelos, porventura uma das mais curtas do Caminho Português: 17 quilómetros até alcançar a terra do Galo.

No terreiro do albergue de peregrinos de S. Pedro de Rates (inaugurado em 2004, cotando-se desta forma como um dos mais antigos albergues do caminho português, provavelmente o primeiro desta nova realidade jacobeia atual), uma estrutura em ferro, com a cruz de Santiago, recorda-nos a natureza da peregrinação e o destino final da aventura. Ao lado, os vestígios de um núcleo museológico dedicado ao linho persistem, depois da pandemia ter votado ao esquecimento um equipamento fundamental para a exploração da cultura destas terras e suas gentes.

Rumo ao Alto da Mulher Morta

Fotografia | Rumo ao Alto da Mulher Morta

Na fronteira entre o distrito do Porto e de Braga, o caminho leva-nos até ao enigmático lugar do Alto da Mulher Morta, em Macieira de Rates, já no concelho de Barcelos. Nesse lugar, uma lenda procura desvendar a sua toponímia macabra: há muito tempo, um incêndio terá levado a que os sinos das redondezas tocassem “a rebate”, alarmando as populações que logo acudiram para travar o ímpeto das chamas. Não foi fácil combater o fenómeno, apenas travado pelos campos agrícolas, pela noite húmida e a bravura dos aldeões. Na manhã seguinte, por entre a bruma provocada pelas últimas fumarolas, um habitante terá gritado o achamento de um corpo carbonizado, o de uma mulher. As autoridades procuraram nas aldeias e vilas à volta de Macieira por relatos da falta de alguém. Mas foi uma busca infrutífera. Ninguém sabia a quem pertencia aquele corpo consumido pelas chamas. Afinal, quem seria a “mulher morta”? Talvez uma peregrina vinda de uma paragem distante?

Alto da Mulher Morta

Fotografia | Alto da Mulher Morta

Outra lenda alude à passagem, pela calada da noite, de um homem acompanhado pelo seu filho no Alto da Mulher Morta e ao avistamento, por ambos, de um “carneiro preto”, que se esfumou no momento em que o homem proferiu a seguinte oração:

“Água benta de sete bicas
Água de sete fontes
Sangue de sete galinhas pretas
Terra de sete sepulturas
Padre Nosso. Avé Maria”

Histórias que este lugar ainda hoje conserva, conferindo uma aura ainda mais mística ao caminho. Adiante que ainda há mais uma lenda para contar.

Igreja de Santa Leocádia da Pedra Furada

Fotografia | Igreja de Santa Leocádia da Pedra Furada

A rota até Barcelos leva-nos a adentrar ainda mais pela freguesia de Macieira de Rates. Os símbolos jacobeus vão surgindo em catadupa e grande número, desde nichos e alminhas escavadas na pedra com esculturas de Santiago, marcos do caminho a lembrar-nos que ainda falta muito (e ainda bem) para alcançar Compostela. Não tarda e começamos a sentir o cheio a Galo Assado mas, antes, ainda há que rezar na igreja de Santa Leocádia da Pedra Furada e explorar a lenda que dá origem ao nome da paróquia. A tradição fala-nos de uma Santa Leocádia (não se sabe se a de Toledo ou de um outro lugar próximo ou longínquo) terá sido enterrada num buraco onde atualmente se encontra o cenóbio. Fechado por uma tampa de pedra, Santa Leocádia terá conseguido sobreviver ao furar a pedra até conseguir libertar-se. E como toda a lenda tem um fundo de verdade, junto à igreja encontra-se uma pedra furada que recorda a cada peregrino que por ali passa a história de uma santa que a freguesia ainda hoje celebra a 9 de dezembro de cada ano.

Galo Assado

Fotografia | Café Pedra Furada, Sr António Herculano amigo dos peregrinos e a D. Angelina.

Mais à frente é tempo de retemperar as forças e colocar as pernas cansadas debaixo da mesa de um dos mais famosos restaurantes da região, mas que é, ao mesmo tempo, um lugar de amizade peregrina: o restaurante “Pedra Furada”. À porta, o Sr. Herculano espera-nos para contar histórias dos milhares de peregrinos e que deixam o seu testemunho no livro que se encontra ao balcão, rodeado de bandeiras, galhardetes, cachecóis, e autocolantes provenientes de todo o mundo e que fazem conjunto, ao mesmo tempo, com ícones jacobeus mas também pequenas esculturas e quadros alusivos ao jazz, grande paixão do Sr. Herculano.

Na sala ao lado, vestida de rusticidade, espera-nos uma lareira a crepitar em tempos de invernia e um galo assado recheado, trinchado com mestria pela D. Angelina. Podemos passar horas a fio na Pedra Furada sem notarmos a passagem do tempo. É o melhor da hospitalidade minhota que podemos encontrar no Caminho.

Capela da Sra da Guia

Fotografia | Capela da Sra da Guia

E se o galo nos fez sede, então, no regresso à estrada podemos parar junto à bonita capela da Nossa Senhora da Guia, para beber de um pequeno chafariz que se encontra ao lado e cuja água contém, segundo a crença das gentes deste lugar, propriedades curativas.

Por entre caminho e estrada, alcançamos Barcelinhos. E antes de atravessarmos a célebre ponte sobre o rio Cávado, visitamos a igreja seiscentista de Santo André, lugar onde se encontrava o cruzeiro que evoca a lenda do Galo de Barcelos e que falaremos na próxima crónica. Paramos para um café no “Cantinho do Peregrino, uma casa de amizade onde somos sempre recordados que na igreja de Santo António, já em Barcelos, todos os dias, há uma missa de bênção do peregrino a cargo dos frades franciscanos capuchinhos.

Paredes-meias com a passagem para a outra margem encontra-se um dos monumentos mais queridos de Barcelos, a capela de Nossa Senhora da Ponte, erguida em 1328 e remodelada no séc. XVII. 

Pelourinho, paço, igreja e cruzeiro do Senhor do Galo

Fotografia | Pelourinho, paço, igreja e cruzeiro do Senhor do Galo.

A Cidade do Galo e do Figurado espera-nos e nela muita história para contar.


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