Solstício: Une Crença e Ciência
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Solstício: Une Crença e Ciência

Solstício: Une Crença e Ciência

Solstício: a dança anual dos astros que une crença e ciência

Este ano o dia mais longo do ano ocorreu a 21 de junho. Entre estudos científicos sobre o impacto de uma maior exposição solar em plantas e animais, passando pelas celebrações neopagãs em Stonehenge, a chegada do verão às latitudes setentrionais do planeta é sinónimo de que as férias estão à porta.

A 21 de junho de 2021 o hemisfério norte vivenciou o dia mais longo do ano: 14 horas, 53 minutos e oito segundos. Por oposição, as nações acima da linha do Equador assistiram à noite mais curta, num movimento quase perpétuo que Terra e Sol descrevem há mais de quatro mil milhões de anos.

O Homem, cuja versão atual homo sapiens sapiens apenas habita este pequeno ponto azul há apenas 50 mil anos, sempre se indagou sobre a dança dos astros na esfera celeste. “Deuses”, pensaram os nossos primeiros avós, uma questão de astrofísica, sabemos agora.

Os primeiros povos que habitaram a Terra entregaram oferendas ao Sol para que este fortificasse as culturas e lhes proporcionasse uma abundante colheita antes da natureza se fechar novamente.

Círculos de pedra, como Stonehenge, na Inglaterra, os celtas edificaram, de forma a marcarem a passagem das estações, e assim reconhecerem qual o momento certo do ano para semear, qual a melhor a época do ano para colher.

Os cientistas reconhecem que o eixo de rotação (imaginário) da Terra não forma um ângulo reto, sabem que o mesmo regista uma inclinação axial de 23 graus, à medida que vai descrevendo um movimento à volta do Sol (translação), que totaliza 366,255 dias, tempo que a Terra demora a percorrer um ano sideral, conhecido como o período de revolução do nosso planeta face às estrelas do firmamento.

Mas o nosso calendário marca 365 dias. A essa contagem os astrónomos intitulam de ano tropical, período marcado pelo movimento aparente do sol nos quatro pontos que definem as estações do ano e a sua posição no céu ao longo do ano, definindo desta forma maior ou menor tempo de exposição solar.

“Midsummer” chamavam as tribos que nasceram da cultura de Hallstatt e se espalharam um pouco por toda a Europa, manuseando o ferro, edificando castros, fazendo a vida negra ao crescente império romano. Solstício é o que chamamos ao momento em que o sol atinge o pico de exposição no hemisfério norte, ao ponto de durante quatro meses, provocar dias ininterruptos nas regiões acima do Círculo Polar Ártico, num fenómeno que conhecemos como o Sol da Meia-Noite. Por seu turno, o Hemisfério Sul vive o inverno austral, com as noites no continente gelado da Antártida a prolongarem-se por quase quatro meses.

Celebração neocelta do Midsummer - fonte The Lodow

Fonte | "The Lodow" - Celebração Neocelta do Midsummer

Para celtas, aztecas, maias e incas o sol era considerado um deus, para os católicos antes de Copérnico, o maior de todos os astros girava, à semelhança de todas as esferas da abóbada visível, à volta da Terra, considerado naquela época o epicentro estático do Universo, morada dos filhos de Deus. “E pur si muove”, segredou Galileu Galilei, minutos depois de, obrigado pela inquisição, negar a teoria heliocêntrica.

Para qualquer um de nós, à exceção daqueles que acreditam que a Terra é plana, é trivial referir que o Sol é o centro do nosso sistema planetário, que por sua vez se encontra no braço de Orión, extensão exterior da nossa Via Láctea (também apelidada de “Estrada de Santiago”), uma das 54 galáxias que fazem parte do grupo local, um enxame de galáxias, umas em espiral, outras não, entre milhões que formam o chamado Superaglomerado da Virgem.

Podem parecer números astronómicos, distâncias inalcançáveis, teorias com milhões de equações ou simplesmente a crença de que é mais um ano que passou desde que tiramos aquelas férias de sonho e que agora só passam de uma feliz recordação, obrigando-nos a questionar, à medida que anos vão passando, quando virá, por fim, o nosso último verão.

Autor | Artur Filipe dos Santos, doutorado em Comunicação e Património pela Universidade de Vigo, é professor universitário e investigador no ISLA-Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia e membro do ICOMOS - International Council of Monuments and Sites. Especialista do património cultural e dos Caminhos de Santiago, é o autor do blogue “O Meu Caminho de Santiago” e autor de vários artigos e palestras sobre a tradição jacobeia.