Fazer o Caminho em Ano Xacobeo
Património Cultural das rotas portuguesas a Santiago de Compostela
A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago
2022 é ano Xacobeo atípico. Declarada a extensão do ano jubilar pela Santa Sé devido à pandemia, Compostela enche-se de peregrinos e turistas para celebrarem o padroeiro de Espanha. A 25 de julho comemora-se o dia litúrgico do Apóstolo Santiago Maior.
Todos os anos, a cidade onde se conservam as relíquias do filho de Zebedeu, transborda na noite de 24 de julho para assistir aos “Fogos do Apóstolo”, uma tradição que remonta ao séc. IX, que procura evocar as luzes que o eremita Paio vislumbrou sobre o Monte Libredon, local onde estaria o mausoléu com os restos mortais do Apóstolo Santiago e dos seus dois discípulos Teodoro e Atanasio. Existem documentos que referem a expressão “Fuegos del Apóstol” datada de 1545, quando pela primeira vez a praça do Obradoiro é iluminada, desta feita, com recurso a candeias.
O dia 25 de julho é o dia mais importante na tradição jacobeia. A principal das três datas que celebram anualmente a vida do Apóstolo Santiago (as outras duas ocorrem a 30 de dezembro e 23 de maio) procura celebrar a trasladação dos restos mortais do Santo desde o porto de Jaffa, na Palestina, após o seu martírio (o primeiro de um apóstolo de Jesus), pela espada, às mãos de Herodes Agripa.
A Espanha inteira — assim como várias cidades da América Hispânica, mas também diversas localidades por essa Europa fora ligadas pelos Caminhos de Santiago — une-se para comemorar o seu patrono, com várias celebrações religiosas, onde se destacam a missa do peregrino e a “Ofrenda Nacional al Apóstol Santiago”, promovida pelo monarca de Espanha, desde que, em 1463, Filipe IV de Espanha (e que até 1640 acumulou o título de Filipe III de Portugal) decidiu instituir, anualmente, uma doação de “mil escudos de ouro”. De assinalar também as muitas iniciativas de caráter social e cultural, com a realização dos inúmeros concertos de música, exposições, mostras de artesanato, oportunidades de exultação da cultura galega, em particular, e da hispanidade (apesar desta ter um dia próprio, 12 de outubro, que coincide com as festividades de Nossa Senhora do Pilar, padroeira da Espanha e em que se recorda a chegada de Cristovão Colombo à América).
E se para um peregrino concluir o Caminho precisamente na noite (ou no dia) do Apóstolo reveste-se de especial simbolismo, que dizer então se for em ano Xacobeo ou Ano Santo Compostelano?
Em 1300 o papa Bonifácio III, institui o Ano Santo Romano, data em que qualquer cristão que rumasse ao lugar de Pedro e Paulo seria agraciado com a indulgência plenária, isto, um perdão pontifício que o absolvia de todos os pecados. É esta celebração que está na base do Xacobeo compostelano, apesar da tradição referir que o ano jubilar terá sido estabelecido pelo papa Calixto II, em 1122, coincidindo com a colocação da última pedra da construção da catedral de Santiago, justamente no dia 25 de julho desse ano, precisamente num domingo. A partir daí, sempre que o dia do Apóstolo calha no primeiro dia da semana, o que acontece com a regularidade de seis, cinco, seis e 11 anos. O último ano santo ocorreu em 2010 e foi um êxito estrondoso: nesse ano quase 270 mil pessoas solicitaram, junto da Oficina do Peregrino, a sua “Compostela”, documento que certifica a realização do Caminho de Santiago.
Mas nem sempre foi assim. A peste, a reforma protestante, as guerras que assolaram a Europa entre os séc. XVII e XIX e o movimento iluminista levaram a uma crise da rota jacobeia ao ponto de, em 1909, o cabido compostelano ter registado a presença de apenas 40 peregrinos que, após terem realizado o Caminho, estiveram presentes nas festividades litúrgicas jubilares de 25 de julho.
A pandemia surgida em 2020, e que ainda hoje se sentem os seus efeitos, levou a que o Papa Francisco estendesse as celebrações do ano jubiliar, originalmente de 2021, iniciado em dezembro desse ano, com a abertura simbólica da porta Santa da Catedral de Santiago de Compostela, até ao final de 2022, de forma a que todos aqueles que não tiveram a oportunidade de peregrinar até à Galiza, devido às mais diversas medidas de contenção impostas pelos países um pouco por todo o mundo, pudessem mesmo assim “gañar o Xubileo”, isto é, a indulgência plenária.
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