O Dia do Fico e a Promessa com 200 anos

O Dia do Fico e a Promessa com 200 anos

A data de 9 de janeiro é celebrada no Brasil como o episódio fundamental na história do país. Há precisamente dois séculos D. Pedro promete permanecer na então colónia ultramarina portuguesa.

O ano é 1822. Década e meia depois de transferir a corte portuguesa de Lisboa para o Rio de Janeiro, deixando as tropas francesas de Napoleão literalmente a “ver navios”, D. João VI regressa à metrópole com a sua corte a 26 de abril de 1821, fragilizado pelas consequências da revolução liberal do Porto, ocorrida dois anos antes, a 24 de agosto, gerando um movimento contestatário que exigia o regresso do monarca. Antes de partir nomeou o seu filho, o infante D. Pedro como regente da então colónia.

Não teve vida fácil o futuro D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil. Primeiro teve de lidar com um motim que eclodiu nas tropas portuguesas estacionadas no território, com os oficiais a obrigarem o príncipe a jurar a constituição portuguesa que naquele momento estava a ser elaborada e que viria a ser aprovada em Lisboa a 23 de setembro de 1822. Depois enfrentou a crise gerada pela dissolução do governo central do Rio de Janeiro pelas Cortes já instaladas na capital, medida que foi vista como uma tentativa de ingerência nos destinos do Brasil, representando um retrocesso histórico, já que o território havia sido elevado a reino em 1815: o reino de Portugal, Brasil e dos Algarves, que conheceu apenas dois monarcas: D. Maria I e D. João VI. Ainda no rescaldo dessa dissolução, Pedro viu o seu regresso à Europa ser exigido pelas Cortes. Preocupados com um possível esvaziamento de poder com a partida do regente, membros da ala liberal mais radical da política brasileira unem-se para redigir uma petição que logrou obter mais de 8 mil assinaturas, implorando a D. Pedro para que não partisse, chegando o documento às mãos do regente precisamente no dia 9 de janeiro de 1822. Confrontado com a exigência do regresso a Lisboa e instado pela sociedade carioca a permanecer no território, D. Pedro terá proferido a seguinte frase:

“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.

Estava dado o mote certo em direção à futura independência do Brasil.

Decidido em permanecer no Rio de Janeiro, D. Pedro viu a sua popularidade subir em flecha junto do povo, ansioso por uma autonomia clara face à metrópole, olhando para o príncipe como um defensor do país e um eminente apoiante da independência. Se por um lado os comerciantes da colónia desejavam quebrar os laços com Portugal, com a intenção vincada de obter a liberdade comercial plena, livre do pagamento dos elevados impostos cobrados pela capital do império, por outro lado as figuras proeminentes dos movimentos liberais, que incluíam jornalistas, padres, estudantes, exigiam reformas profundas no plano social, a abolição da escravatura e a melhoria das condições de vida das populações, através do desenvolvimento de uma reforma agrária que possibilitasse uma distribuição equitativa dos terrenos de cultivo e de pastagens. É neste contexto marcadamente de cariz independentista que surge o primeiro partido da história da futura nação, o Partido Brasileiro.

A resposta do governo sediado em Lisboa não tardou, confrontando D. Pedro com a sua decisão em permanecer, levando a que este se afastasse cada vez mais da terra que o viu nascer e visse crescer dentro de si a simpatia pela causa brasileira.

Apoiado pela sua esposa, Leopoldina de Habsburgo, D. Pedro levou a cabo manobras que evitassem uma escalada militar no território, buscando apoios além-fronteiras, através de encontros diplomáticos levados a cabo por um dos seus homens fortes, José Bonifácio de Andrada e Silva, eternizado nos livros de história com o prosónimo de Patriarca da Independência.

No final de agosto desse ano, D. Pedro de Alcântara ruma a S. Paulo para obter o apoio da elite da cidade, enquanto que no Rio de Janeiro D. Leopoldina e os ministros do novo governo brasileiro assinam a declaração que torna oficial a separação da antiga colónia do império português.

O povo conta que, na tarde do dia 7 de setembro, D. Pedro encontrava-se junto ao rio Ipiranga (que significa “rio vermelho” na língua tupi) quando recebeu a declaração de separação. Ali, junto àquele pequeno ribeiro localizado mesmo no centro de S. Paulo, terá professado a célebre frase “independência ou morte”, imortalizada como o “grito do Ipiranga”.

E tudo começou a 9 de janeiro de há precisamente dois séculos, um dia que ficou para a história brasileira como o “Dia do Fico”.


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