Talibãs… ontem, hoje e amanhã!

Talibãs… ontem, hoje e amanhã!

A história de Mohammed Omar e os 40 estudantes

O Afeganistão representa para os Russos o mesmo que o Vietname para os americanos, uma guerra longa e cruel que exigiu uma enormidade de recursos, quer humanos quer financeiros. Milhares de vidas perdidas em prol de nada, a longa resistência dos afegãos e a topografia do país não podiam ser vencidas. Um exército medieval de mujahedins não deu margem à ambição soviética. Estes combatentes apenas tinham em comum um inimigo, a União Soviética e, uma amizade de circunstância, os Americanos, grandes fornecedores de armamento. Fora isso não concordavam em nada mais. Até Osama Bin Laden lucrou bastante com a amizade, claramente os americanos não perceberam que essa situação tinha tudo para correr mal (e correu).

Após o final da guerra contra os soviéticos em 1989 e consequente queda do regime comunista em 1992, o Afeganistão era um país devastado pela guerra, ou seja, a economia e a qualidade de vida dos seus habitantes andavam nas ruas da amargura. O número de fugitivos afegãos no Paquistão, e sobretudo no Irão, atingia a incrível fasquia de 3 milhões.

Os Afegãos são claramente um povo lutador, uma vez eliminada a ameaça comunista e, não conseguindo respirar um clima de paz por muito tempo, os mujahidine começaram quase de imediato a lutar entre si. Diferentes etnias com visões distintas para o futuro do país, divergências políticas misturadas com a ambição de dinheiro e poder, arrastam novamente o país para o conflito armado.

Será que a radicalização da população (movimento Talibã) poderá estar relacionado com o facto de o país não ter contacto com o oceano? Por não haver praia? Ou mesmo pela inexistente brisa do mar? Algo a ter em consideração.

Em 1994, o movimento dos talibãs, um grupo de cerca de 40 jovens muçulmanos sunitas que andaram a estudar teologia nas madrassas (escolas) do vizinho Paquistão, liderados por Mohammed Omar, regressa ao Afeganistão. Com eles veio a promessa de restabelecer a ordem e justiça no país, com um país virado do avesso, claro que as promessas desse calibre tiveram bastante sucesso no seio da população Afegã, conseguindo o movimento ter uma ascensão muito rápida. Foi nesta época que a milícia Talibã, incentivada pelo Paquistão e inicialmente também pelos Estados Unidos, começou a assumir o controlo do país. Não foi preciso muito tempo, em dois anos os talibãs já eram “os donos disto tudo”. Não fosse o 11 de setembro em 2001 nos EUA, provavelmente o “reinado” talibã não teria durado apenas cinco anos.

O que fizeram os talibãs nesses 5 anos de "reinado"?

Destituem o Presidente Burhanuddin Rabbani;

Espancaram e torturaram o ex-presidente comunista Najibullah, castraram-no, arrastaram-no atrás dum jipe pelas ruas acabando por matá-lo a tiro. O cadáver foi pendurado num poste na rua;

Implementam uma interpretação radical da lei islâmica;

Decretam uma série de proibições às mulheres: não podem trabalhar fora de casa, forçadas a usar burcas, impedidas de frequentar as escolas ou de ser vistas por médicos masculinos;

Lançaram o caos nos serviços de saúde e escolas do país (cuja maioria dos funcionários era do sexo feminino);

As viúvas de guerra foram impedidas de ganhar o seu sustento;

Em Mazar-E-Sharif foram executados cerca de dois mil prisioneiros, violaram mulheres e crianças e impediram por uma semana que se enterrasse os mortos;

Queimaram toda a coleção de 55 000 livros de uma das bibliotecas públicas mais bonitas do Afeganistão (por engano queimaram um exemplar do Alcorão com mil anos);

Destruíram os Budas de Bamiyan, Património da Humanidade com 1500 anos;

Destruíram com machados cerca de 2 750 obras de arte antigas no Museu Nacional de Cabul, porque retratavam seres vivos, o que para eles, ofendia o conceito de Alá.

O movimento Talibã, apesar do seu começo idealista, transformou-se em mais um bando de senhores da guerra, semelhante aos que tinha combatido.

E agora? Em 2021?

20 anos depois, aparentemente os Talibã “viram a luz”, estão diferentes, dizem estar mais maduros e tranquilos. Vejo o mesmo ódio e raiva no olhar, mas o discurso é mais meigo, fazem negociações e dão entrevistas em inglês. Prometem respeitar os direitos das mulheres, deixam-nas estudar ou trabalhar se quiserem. Dizem não querer inimigos, agora conseguem perdoar e amnistiar os opositores e a vingança deixou de fazer parte do seu “modus operandi”.

Estarão a representar? Ou mudaram mesmo?

Já há relatos de mulheres e crianças espancadas e chicoteadas quando tentavam chegar ao aeroporto, mas podem ser apenas “mitos urbanos” …Oxalá sejam!