O Famoso e Veloz “Clipper”
O Famoso e Veloz “Clipper”

O Famoso e Veloz “Clipper”

Cutty Sark: A incrível história de um veleiro que inspirou um uísque e que se chamou “Maria do Amparo”

Foi reconhecido como o mais rápido dos grandes veleiros. O “Cutty Sark” foi o mais importante clipper (veleiro mercante) britânico na corrida ao chá da China, tornando-se símbolo de uma era dourada. Construído na Escócia, foi vendido, em 1895, a um armador lisboeta que lhe viria a rebatizar com o nome de “Ferreira”, tendo ostentado, anos mais tarde, e por pouco tempo, a designação de “Maria do Amparo”. Cumprem-se, a 22 de julho, 127 anos desde que este marco da história da navegação passou a ostentar pavilhão português.

Corria o ano de 1869. A rainha Vitória ainda vivia enclausurada no castelo de Windsor, de luto pela morte prematura do seu consorte, o príncipe Saxe-Coburgo-Gota. Em Dumbarton, na Escócia, junto ao estuário do rio Clyde, os estaleiros Scott & Lindon acabavam de batizar um navio que lhes colocaria na frente da conhecida competição comercial conhecida como a corrida do chá do Chá da Índia: "Cutty Sark". Expressão em gaélico, que em português se traduz literalmente como “pequena camisola”, o nome é inspirado num poema do poeta nacional escocês Robert Burns (conhecido mundialmente pela letra da música de comemoração de Natal de Ano-Novo “Auld Lang Syne”), intitulado “Tam o'Shanter" e que falava de uma bruxa, Nannie Dee (cuja alcunha era precisamente de “Cutty Sark”), imortalizada na escultura que surge como figura de proa desta embarcação.

Cutty Sark

Construído em madeira de teca da índia e olmo americano (para a parte submersa do casco), media o total de 85 metros de comprimento e quase sete metros de altura, e pesava 911 toneladas). Construído num período ingrato para os grandes veleiros, que se debatiam com a concorrência dos navios a vapor e com a abertura do Canal do Suez, o “Cutty Sark” testemunhou o fim de uma era, com as suas velas a alcançarem velocidades dignas de registo, alcançando 32 quilómetros de velocidade, quebrando as ondas com o casco mais fino de todos os “clippers” transportadores de chá.

Tido como um dos mais rápidos, senão o cimeiro de todos, o “Cutty Sark” experienciou nove épocas (de 1870 a 1877) de corrida ao chá da China, que ocorria entre maio e junho e terminaria três meses depois. A mais rápida embarcação que chegasse a Londres com o primeiro carregamento de chá representava uma grande honra para o armador e a melhor safra financeira da época. Famosa foi a corrida do “Pequena Camisola” contra o “Termópilas”. Juntos, eram os mais rápidos “cortadores” (assim eram conhecidos os “clippers” que se dedicavam ao transporte do chá desde o “Império do Meio” até à Grã-Bretanha), daquele tempo e, em 1872, protagonizaram uma corrida épica: ambos partiram de Xangai a 18 de junho e, duas semanas volvidas, o “Cutty Sark” já levava 400 milhas náuticas de avanço (cerca de 740 quilómetros). Até que uma forte tempestade, no Estreito de Sunda (entre as ilhas de Java e Sumatra, na Indonésia), levaria o rápido veleiro a perder o leme, obrigando a reparações que o faria perder a corrida contra o “Termópilas”, alcançando Londres apenas em outubro, uma semana depois do seu concorrente. 

Em 1877 o "Cutty Sark" abandonaria o negócio do chá, agora entregue aos potentes navios a vapor, e dedicar-se-ia ao comércio da lã entre a Nova Gales do Sul, na Austrália, e a Inglaterra, detendo por cerca de 10 anos o recorde de tempo entre estes dois pontos, que foi de apenas 77 dias (um feito incrível para a época), chegando, numa das ocasiões, em 1889, a ultrapassar, em mar aberto, o moderno vapor SS Britannia, como ficou registado no diário de bordo deste navio de passageiros.

A aventura portuguesa do "Cutty Sark" começa no momento em que se vê novamente ultrapassado pelos “steamers” também no comércio da lã. Vendido em 1895 ao armador lisboeta Joaquim Antunes Ferreira, foi rebatizado precisamente com o nome do novo proprietário. Viajando por diversas vezes entre Portugal, Brasil, Estados unidos, Angola e, ainda, a Grã-Bretanha, o agora “Ferreira” (apesar da tripulação insistentemente o apelidar de “Pequena Camisola”, em analogia ao seu nome original) transportou diversos produtos, desde madeira, produtos manufaturados, entre outros, até que em 1914 sofreria graves danos que o levou a ser reparado na cidade do Cabo, apenas dois anos depois, por via da falta de materiais provocada pela Primeira Guerra Mundial. É nesta altura que o velho “Cutty”, agora convertido em escuna, é novamente vendido, regressa a Lisboa e ganha o nome de “Maria do Amparo”. 

Nesta altura é o último grande veleiro a cruzar os oceanos em atividade comercial. 

Porém, não durou muito como “Maria do Amparo”. O capitão Wilfred Dowman, que tinha avistado o “Ferreira” em 1922, no porto de Falmouth, logo o reconheceu como o original “Cutty Sark”. Instantaneamente brotou no oficial da marinha mercante o desejo de o adquirir, o que viria a acontecer, em 1923. O veleiro retoma o seu famoso nome, é novamente restaurado para a condição de “clipper” e a partir daí ganha novas funções: foi navio-escola, navio de recreio e competidor de regatas até que, em 1953, enceta uma última viagem pelos mares, para rumar a Greenwich, e transformar-se num navio-museu, condição que se mantém até aos dias de hoje.

Visitado por milhares de pessoas todos os anos, o veloz “clipper” foi motivo de filmes, documentários, obras de artistas plásticos e até a marca de um uísque escocês, cujo nome e rótulo (inspirado na obra de um artista sueco Carl Georg August Wallin, que se especializou no desenho e pintura de motivos náuticos) guarda ainda hoje a memória do “Cutty Sark”, que se chamou também de “Ferreira” e “Maria do Amparo”, e, de 1895 a 1923, sulcou os mares com pavilhão português.


Fotografia | Visit Greenwich

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