Alpinista encontra tesouro com 47 anos
Alpinista encontra tesouro com 47 anos

Alpinista encontra tesouro com 47 anos

Ao contrário da maioria das histórias felizes, que normalmente acontecem num maravilhoso dia ameno, sol pujante sob um apaixonante céu azul, esta história é triste e começa num menos romântico dia de inverno. Estávamos na manhã de dia 24 de Janeiro de 1966, ou seja em pleno inverno e, como o leitor facilmente percebe, nessa altura do ano nada é quente nos Alpes Franceses. Quando se fala de um evento ocorrido há mais de 55 anos, certezas climáticas não existem, mas a julgar pelo presente, tudo indica que nesse dia as temperaturas estariam entre os -3ºC e 1ºC.

Nessa manhã, precisamente às oito horas (segundo os relógios franceses), o voo Air India 101, que tinha descolado do Sahar International Airport em Bombaim (Índia), e tinha como destino o aeroporto de heathrow em Londres, no Reino Unido, despenhou-se ao sobrevoar os Alpes.

Este voo regular de passageiros já tinha feito duas escalas, uma em Nova Deli e outra em Beirute, sendo que no momento do acidente estava a caminho da terceira escala programada, em Genebra (Suíça). Escusado será dizer que nunca lá chegou! Infelizmente não houve sobreviventes, os 106 passageiros e 11 tripulantes perderam a vida. Entre eles, estava o comissário indiano da energia atómica, Homi Jehangir Bhabha, conhecido como o "pai" do programa nuclear da Índia.

O acidente ocorreu na zona do Rochedo da Tournette, a uma altitude superior a 4.700 metros. O avião da Boeing era praticamente novo, tinha apenas 5 anos à data do acidente. O 707 foi o primeiro avião comercial a jato produzido em série pela Boeing. Embora não tenha sido o primeiro avião comercial a jato, o 707 foi um modelo de grande sucesso comercial e dominou o transporte aéreo de passageiros durante as décadas de 60 e o início da década de 70. Foi graças ao 707 que a Boeing se tornou a maior fabricante de aviões comerciais do mundo.

O que aconteceu?

Certezas ainda hoje não existem, mas é sabido que tudo decorria de forma normal, este voo seguia a um nível de cruzeiro de 190, ou seja, viajava a uma altitude de 19 mil pés (cerca de 5800m), sendo que a tripulação foi instruída a começar a descida (lenta e gradual) para o aeroporto internacional de Genebra assim que passasse o “Mont Blanc”.

O piloto, provavelmente um pouco ou tanto desorientado e, desde Beirute com um equipamento auxiliar de orientação avariado, pensava que já tinha passado (erradamente) a dita montanha e começou o processo de descida. O controlador de radar apercebeu-se que a aeronave estava numa posição diferente da esperada e recomendou ao comandante que mudasse, mas este, convicto que estava onde devia estar, não aceitou a recomendação e continuou a descida. Uma questão de ego? Nunca saberemos, mas custou muitas vidas…

Este acidente ocorreu quase no mesmo local onde outro voo também da Air India (voo 245) caiu em 1950 (coincidência?). Este acidente com uma aeronave Lockheed 749 Constellation ocorrido 16 anos antes, resultou na perda de 48 almas.

Devido ao difícil acesso e às condições climatéricas, tanto os destroços do voo Air India 245 como o 101 ficaram no local do acidente e, naturalmente ao longo dos anos, foram “engolidos” pela neve. Com o passar dos anos e certamente contando com a ajuda do aquecimento global, o degelo tem sido responsável por várias descobertas no local dos dois acidentes.

Em 2008, um alpinista encontrou alguns jornais indianos datados de 23 de janeiro de 1966, dada a data da publicação a origem só pode ser do voo 101. Também na mesma altura foi encontrado um motor do voo 245.

Quatro anos mais tarde, em 21 de agosto de 2012, um profissional de resgates em montanha encontrou um saco de correio diplomático com o carimbo do governo Indiano, ficou provado que seguia no voo 101 e foi devolvido à Índia.

Todos esses achados apesar de interessantes, não se comparam ao encontrado por um alpinista francês em setembro de 2013: uma caixa de metal com o logótipo da Air India que continha vários rubis, safiras e esmeraldas avaliadas em mais de 300 mil euros. As pedras preciosas estavam acondicionadas em pequenas saquetas de plástico e de início pensou-se que poderiam ser pensos médicos.

O mais incrível? A seriedade do alpinista, que entregou esse “tesouro” às autoridades locais, para que estas devolvessem as pedras preciosas aos legítimos proprietários. É caso para dizer que ainda existem pessoas sérias!

Certezas mais uma vez, não as há, mas tudo indica que as pedras preciosas seguiam a bordo do voo 101 com destino a Londres. As autoridades (seguindo a lei francesa) guardaram as preciosidades num cofre-forte durante 8 anos.

Apesar dos esforços desenvolvidos pelas autoridades, não foram encontrados os proprietários e, agora em dezembro de 2021 (mais de 55 anos após o acidente), as pedras preciosas voltaram a ver a luz do dia. A caixa foi aberta na presença de uma advogada do alpinista e, com a ajuda de um especialista, o tesouro foi dividido em partes iguais, metade para o município de Chamonix (localidade mais próxima do local do acidente) e a outra metade foi para o alpinista.

O alpinista, cujo nome não foi revelado, ficou com mais 150 mil euros na sua conta bancária, a outra metade do tesouro vai ficar exposta no Museu dos Cristais de Chamonix, que reabre ao público já no próximo dia 19 de dezembro.

Sem dúvida, um final feliz para uma história triste!

Co-autor | Zé Carlos Brito
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