Na rota do património cultural italiano
Dia 3...
O terceiro dia por terras italianas leva-nos, pela manhã, de regresso à Praça de S. Pedro, para a habitual audiência papal das quartas-feiras. A tarde foi reservada para a última das basílicas maiores, a de S. Paulo Extramuros, terminando na nossa portuguesa Igreja de Santo António.
Ir a Roma e não ver o Papa não é crime, mas é, naturalmente, uma alínea fundamental em qualquer roteiro à Cidade-Eterna, sobretudo se se for católico.
Milhares de pessoas acotovelam-se para entrar no reduto vaticano da Praça de S. Pedro, para, às 9 horas da manhã, assistir à tradicional audiência papal. Filas e filas de fiéis deslocam-se para o altar maior da fé católica, em busca de uma palavra de conforto do Santo Padre. De cadeira de rodas, o Papa Francisco começa por dar as boas-vindas em muitas línguas, recordando, de seguida, o exemplo da santa sudanesa Josefina Bakhita como “fonte inspiradora” de solidariedade em tempo de guerra. Um dos momentos altos da audiência foi quando o Papa se dirigiu aos peregrinos de cada país que estava presente na cerimónia, agradecendo em bom português, a presença dos alunos da Universidade Sénior Contemporânea do Porto, levando os mais de 40 estudantes seniores ao rubro.
Fotografias de Artur Filipe dos Santos
Por entre músicas e sermões era possível observar, no recinto, um verdadeiro clima de festa, em contraste com a solenidade das eucaristias e outras cerimónias que têm lugar em “S. Pedro”. No final, porventura simples, a multidão dispersa-se em direção às filas que compõem a entrada para os museus do Vaticano e basílica de S. Pedro, por entre as muitas barracas de souvenirs de Roma e artigos religiosos. E assim se passou, num piscar de olhos, a manhã.
Pela tarde, oportunidade para rumar à única basílica maior de Roma que falta visitar, nada mais, nada menos, que a basílica de S. Paulo Extramuros, que, por ficar longe do centro histórico, não se encontra maculada pelo excesso de turistas.
Mandada construir pelo imperador Constantino no local onde, segundo a tradição cristã, S. Paulo foi decapitado, a basílica do séc. IV foi sendo modificada ao longo de vários séculos, com destaque para os acrescentos arquitetónicos promovidos pelo Papa São Gregório Magno (séc. VI). Após ter sobrevivido mais de 1000 anos, a 15 de julho de 1823, um terrível incêndio, provocado pela incúria de um operário, resultou na destruição, quase completa da basílica. O arquiteto italiano Luigi Poletti foi o responsável pelo restauro, conferindo à basílica uma traça neoclássica, utilizando materiais da anterior construção, como a antiga porta bizantina.
O seu interior é um regalo para os olhos de qualquer apreciador de arte. Apesar do foco principal ser o túmulo de S. Paulo, não passam despercebidos os tetos em estuque, as 80 colunas em mármore, nem sequer os medalhões que perpetuam a memória de todos os papas que sucederam a S. Pedro e que se espalham junto aos tetos de cada nave da basílica. Uma referência fundamental para o Arco Triunfal do altar-mor (dos poucos elementos que restaram da construção original), com destaque para os mosaicos, do séc. V, que descrevem cenas do Apocalipse de S. João. Refira-se que os mosaicos, colocados no tempo de Leão I, terão sido pagos por Gala Placídia, filha do imperador Teodósio (responsável por tornar o cristianismo a religião oficial do império) e cujo túmulo iremos conhecer em Ravena.
Fotografias de Artur Filipe dos Santos | Igreja de Santo António dos Portugueses e Artur Filipe dos Santos com os alunos da Universidade Sénior Contemporânea do Porto.
A tarde, apesar de soalheira, já começa a desaparecer. É tempo de rumar, novamente, ao coração de Roma, desta vez à Piazza dei Popolo (onde se encontra o obelisco Flamínio construído no tempo dos faraós Ramessés II e Merneptá, entre 1232-1220 a.C., trazido para Roma por Otávio César Augusto) e daí para a Piazza di Spagna, lugar onde todos os anos acontecem os principais desfiles da moda italiana. Mas, apesar, do lugar ser de enorme atratividade turística o destino é a Igreja de Santo António dos Portugueses.
Uma joia do barroco italiano, que, apesar das suas dimensões reduzidas, consegue deslumbrar logo a partir da sua fachada, ricamente adornada por elementos comuns ao seu estilo arquitetónico. A igreja passou por uma série de fases ao longo de sua história. Inicialmente projetada por Martino Longhi, o Jovem, em 1638, depois por Carlo Rainaldi em 1657, e finalmente por Cristoforo Schor em 1697, substituindo uma igreja anterior construída no século XV por iniciativa do cardeal Antão Martins de Chaves.
Os tetos são decorados com estuques de Pompeo Gentile e afrescos de Salvatore Nobili. O altar-mor exibe uma representação da "Aparição da Virgem". Na primeira capela, encontra-se um monumento neoclássico em homenagem a Alexandre de Sousa, esculpido por António Canova em 1808. Na segunda capela, estão as obras "Baptismo de Cristo", de Giacinto Calandrucci, e "Circuncisão de João Batista", de Nicolas Lorrain, juntamente com um monumento também criado por Giacinto Calandrucci.
Uma outra capela abriga um monumento fúnebre dedicado ao embaixador Manuel Pereira de Sampaio, esculpido por Pietro Bracci e datado de 1750.
A primeira capela do lado esquerdo exibe uma peça de altar representando a "Virgem com o Menino e os Santos António e Francisco", da autoria de Antoniazzo Romano. Finalmente, importa referir a lâmina de mármore que se encontra no chão, junto ao altar-mor, que faz referência aos “Almadas” da cidade do Porto, João de Almada e Melo (primo do Marquês de Pombal) e o seu filho, Francisco de Almada e Mendonça, importantes beneméritos deste cenóbio que representa um pouquinho de Portugal em terras romanas.