O Misterioso Caso do Senhor Roubado: O Crime Que Marcou Odivelas
O Misterioso Caso do Senhor Roubado: O Crime Que Marcou Odivelas

O Misterioso Caso do Senhor Roubado: O Crime Que Marcou Odivelas

O estranho caso do Senhor Roubado de Odivelas...

Em 1671, a igreja matriz de Odivelas foi alvo de um acontecimento tanto invulgar como insólito, que resultou na mais importante “caça ao homem” do séc. XVII. Um delito que ficaria conhecido como o caso do “Senhor Roubado”.

Lisboa e os seus arredores concentram 27% da população de Portugal (quase três milhões de habitantes, de um total de pouco mais de 10 milhões), de acordo com os últimos censos, realizados em 2021. Destes 27%, cerca de dois milhões trabalham na capital, originando imensos fluxos de trânsito nas horas de ponta.

Quase todos os dias, quem faz do rádio o seu fiel companheiro de viagem da casa para o emprego, ouve falar, nos momentos dedicados à informação de trânsito, da rotunda do “Senhor Roubado” como um dos mais difíceis pontos de ligação entre a cidade de Odivelas (um dos maiores dormitórios da maior cidade do país) e Lisboa, no que diz respeito à conexão rodoviária. Um nome que tem gerado curiosidade nos automobilistas, mas que poucos sabem a origem desta singular toponímia.

Na manhã de 11 de maio de 1671, a pacata vila de Odivelas acordou em sobressalto. Na igreja matriz, onde os fiéis se recolhiam em oração e onde o sagrado parecia intocável, tinham sido profanados, durante o escuro véu noturno, os mais preciosos tesouros deste cenóbio: cálices sagrados, hóstias consagradas, imagens devocionais do Menino Jesus, de Nossa Senhora do Rosário e ainda de Nossa Senhora do Egipto. Até os santos, despojados das suas ricas vestes, pareciam partilhar o desamparo dos crentes.

Portugal, assim como a restante Europa de cariz latino, vivia o tempo impiedoso do Santo Ofício, com o sacro furto a ascender velozmente para um caso de Estado e de fé. As suspeitas caíram de imediato sobre os cristãos-novos, judeus convertidos à força ao catolicismo, alvos fáceis de acusações infundadas (a história recordará para sempre o massacre conhecido como a “Matança da Páscoa”, ocorrida em 1506, no interior da igreja do mosteiro de S. Domingos, e que resultou na morte de mais de 4.000 judeus). As autoridades vasculharam as casas de Odivelas e Lisboa, com o fervor inquisitorial a estender-se a todo o país, chegando mesmo a cruzar fronteiras para a vizinha Espanha. O próprio Papa Inocêncio XI teve de intervir para conter os excessos violentos dos católicos contra os neófitos, suspendendo por três anos os tribunais religiosos. O mistério persistia: quem teria ousado roubar o Senhor?

Meses e muitas preces depois, o mistério resolver-se-ia, por um mero acaso do destino, e contra a maioria das expectativas. A 16 de outubro, um humilde habitante de Odivelas, António Ferreira, já referenciado como autor de furtos de pouca monta, foi surpreendido a roubar galinhas no Mosteiro de São Dinis. Sem família, passado ou qualquer fortuna, foi capturado portando consigo pequenos objetos que, pouco tempo depois, o ligariam, sem sombra de dúvidas, ao martelo da justiça eclesiástica, como autor do furto da igreja. A descoberta foi suficiente para selar o seu destino.

Perante a pressão dos seus carcereiros, António confessou de imediato. Junto a um silvado — que mais tarde daria nome ao largo do “Senhor Roubado” — foram encontrados quase todos os objetos roubados da atual igreja matriz de Odivelas, igualmente conhecida como Igreja do Santíssimo Nome de Jesus e do Sagrado Coração de Jesus.

Mas a revelação e o achamento da santa “mercadoria” não apaziguaram a ira dos acusadores. Foi torturado, julgado e condenado à morte por enforcamento a 23 de novembro, tendo o seu corpo sido queimado posteriormente.

Azulejos Sr Roubado

Anos mais tarde, em 1744, ergueu-se o Padrão que dá nome ao largo e ao difícil obstáculo viário que é a rotunda do Senhor Roubado. Envolvendo o espaço onde se encontra o padrão, um conjunto de azulejos azuis e brancos narram o caso em doze quadros, cuja estética é influenciada pela decoração barroca. Em 2018, o bloco azulejar foi substituído por réplicas, proporcionando a perpetuação da memória do estranho caso do Senhor Roubado.


Gostou da crónica? Deixe abaixo a sua reação e comentário... smiley


Ver também |

O Destino Secreto Que Vais Querer Conhecer

O Destino Secreto Que Vais Querer Conhecer

As Guerras e a Crise Climática

As Guerras e a Crise Climática

Pronto para a próxima aventura? Escolhe alojamentos com o Selo Draft World Magazine e viaja com confiança! ✈️ Reserva já!