Não há maior romaria que a da Senhora da Agonia
Todos os anos Viana do Castelo celebra aquela que é já a maior romaria de Portugal, a Festa em honra da Senhora da Agonia, padroeira dos pescadores e da “Princesa do Lima”, entre procissões, tapetes, desfiles e trajes.
Não é, decerto, das festas religiosas mais antigas do nosso país, mas é, certamente, aquela que concentra a maior das multidões, unindo habitantes de Viana a todo um mundo composto por emigrantes, gentes do norte do Portugal e da Galiza e turistas das mais diversas proveniências. Em agosto, por alturas da celebração litúrgica da Senhora da Assunção (dia 15), as festas de Viana começam a ganhar corpo, com a colocação das iluminações, barracas de “comes e bebes” e de divertimentos pelo campo d’Agonia fora. Ultimam-se os tapetes de sal, convocam-se as senhoras que tomarão parte do desfile da mordomia para os últimos ensaios.
A capela-santuário da Senhora da Agonia é engalanada com os mais ricos ornamentos e arranjos florais, dignos de uma solenidade que remonta ao séc. XVIII, quando a antiga capela do Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário (construída em 1674 e que também teve evocação a Nossa Senhora da Soledade), tomou como orago a Senhora da Agonia. Os relatos históricos referem a origem da romaria na Via Sacra que as gentes de Viana, com os pescadores da Ribeira e as suas famílias “à cabeça”, realizavam desde o antigo convento franciscano de Santo António até ao Monte da Forca onde, desde o séc. XVI, se encontrava uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição da Rocha (que ainda hoje existe).
Neste monte, onde os criminosos enfrentavam a “agonia” da execução, hasteava-se (onde hoje se encontra instalado um farolim) uma bandeira que avisava os marinheiros de que a cidade se encontrava fustigada por um surto de peste. Já no séc. XVIII, documentos referem que, em 1772, pescadores vindos de toda a costa portuguesa mas também da Galiza inauguraram a romaria à Senhora da Agonia, que viria a ser oficializada 11 anos mais tarde, quando a instituição da Santa Sé para Congregação dos Ritos (atual Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos) autorizou que se realizasse missa solene a 20 de agosto, que passaria a ser o dia da Senhora da Agonia e, a partir de 1910, feriado municipal da antiga Viana da Foz do Lima (que adotou o atual nome, quando, a 20 de janeiro de 1848, por decreto de D. Maria II, foi elevada a cidade).
As festas, que duram cerca de quatro dias e que têm como ponto alto a “Procissão ao Mar”, com a imagem da Senhora da Agonia a ser transportada desde o santuário até à Ribeira, onde sobe a bordo de uma traineira para continuar a procissão no mar, entre preces e orações dos vários milhares de crentes que se acotovelam nas margens. Mas porque a romaria vai, atualmente, mais além da dimensão religiosa, a Senhora da Agonia é uma manifestação extraordinária da cultura e do património cultural imaterial minhoto, presente no Desfile da Mordomia, onde as mulheres de Viana (e não só) dão a conhecer a riqueza do traje vianense (desde as vestes de Mordoma às de Lavradeira, passando pelo traje de Geraz do Lima até ao traje de Noiva), adornado de colares e correntes de ouro, naquela que será, porventura, a maior mostra ao ar livre de ouro do mundo. Exemplo do respeito das gentes de Viana pela sua história e tradições, o Cortejo Histórico-Etnográfico é também um dos eventos fundamentais das festas, nascido em 1948, aquando da comemoração do primeiro centenário da elevação de Viana a cidade e cujas raízes remontam a 1908, quando, pelas ruas, as multidões assistiam à “parada agrícola”.
Por entre ritos de ancestralidade pagã e de folia mundana, também a música tradicional minhota (mas também da vizinha e amiga Galiza) marcam presença, com o Vira Minhoto, gigantones, bombos, as gaitas e as concertinas a fazerem-se ouvir pelas históricas ruas da “Princesa do Lima”.
Fotografias | Artur Filipe dos Santos
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