
Gilberto Gaspar e o Figurativismo Onírico
Texto do escritor Luís Filipe Sarmento
Gilberto Gaspar e o Figurativismo Onírico
Com cerca de quarenta anos de actividade artística, Gilberto Gaspar é essencialmente um capturador de instantes quotidianos que o seu gesto minucioso transforma, muitas vezes a partir de uma linguagem do absurdo, em objectos pictóricos que nos indagam e nos questionam para detalhes da nossa própria existência aos quais não concedemos a nossa atenção.
Nos seus estudos, Dabney Touwnsend afirma que «a estética nasce da tentativa de explicitar o papel que as sensações e as emoções desempenham no pensamento humano». Neste sentido, Gilberto Gaspar, pensa o seu discurso estético a partir da torrente dos dias, fazendo-o deflagrar em fragmentos narrativos que, no seu conjunto, nos apontam para um figurativismo onírico.
A sua pintura vem explanar, numa linguagem propositadamente caótica, ou aparentemente caótica, a memória da iconografia infantil, que marca a apreensão visual do ser condenado à arte, em que o artista, dentro das fronteiras do objecto pictórico, deixa trespassar a sua ideia arquivista de emoções e de sensações.
Gilberto Gaspar não quer argumentar com as suas razões filosóficas, estéticas e artísticas, que as tem, mas sim expor-se na sua totalidade enquanto observador dos lugares-comuns da realidade que o comovem e o levam a transformá-los em matéria artística.
Este é o seu programa. Um programa que provoca, que incendeia o olhar do observador e que o estimula na tentativa de descodificar na bidimensionalidade do quadro essa memória que a todos pertence seja no plano do real ou no plano onírico. Esta é uma viagem que nos convida a participar no seu universo secreto onde se pode perceber a relação que o artista mantém com a sua obra, esta com o observador e sobretudo o corpo constituído pelo artista e o seu público.
Viajemos sem pressas nestes Recortes que contam fragmentos de uma história que se mescla com a vivência do pintor.
Luís Filipe Sarmento
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