Liberdade

Liberdade

Vir a ser

Liberdade,
Ai Liberdade
és modo de uso,
não abuso

Não és dada,
és para ser,
vir a ser,
e deixar ser

Liberdade és poder,
na pessoa és
um fazer proprietário
daquilo que se é,
és caminho aberto
para mim,
para o outro

Liberdade és dança,
és andança
e pujança

Liberdade és
e é bom que assim o sejas.

(Vítor Fragoso - 24 -04 – 2023)

Para o ser humano a liberdade relaciona-se com: a assunção do poder próprio, com a ação propriamente dita (destino do poder), e com realização, que é onde o poder ganha forma em atos e concretizações.

Tudo isto só se torna possível porque o Homem é um ser que não está completo e que se apercebe da abertura que a vida é (apresentam-se-lhe várias possibilidades).

O confronto com as diferentes possibilidades, e a condição de abertura apresenta ao Homem a alternativa de poder vir a ser aquilo que ainda não é. Segundo Danielle Pisani, somos abertos tanto para as coisas existentes no mundo, assim como para aquilo que ainda não existe: o futuro, os projetos e o sentido dos fatos vividos.

O mundo entra-nos adentro, ele é uma abertura de duplo sentido, dentro e fora. A nossa abertura inclui não apenas a possibilidade de ter a oportunidade, a escolha e a capacidade para agir no mundo, mas também a possibilidade de sonhar com o futuro e de escutar o sentido dos fatos da nossa história, a possibilidade de descobrir os modos em que esses fatos nos são revelados no fluxo do tempo presente, mudando desse modo a nossa perspetiva de vida e de futuro. O mundo dá forma ao que podemos vir a ser, mas ao mesmo tempo também dele somos construtores. Homem e Mundo cocriam-se em reciprocidade transformadora, moldam-se, criam-se e recriam-se.

Desta forma a Liberdade assume-se como um Poder, uma potência da qual nos vamos familiarizando e apropriando. Este contacto e posse apenas se dá na medida em que quem nos cuida, quem nos ajuda a dar os primeiros passos na vida nos vai dando a mão e estimulando o contacto, desimpedindo o caminho do gesto livre quando crianças.

Movimento livre este o da criança que perscruta o mundo dos afetos, das emoções, dos sentimentos e das coisas e que à medida que avança vai ganhando o seu colorido subjetivo próprio, o singular.
Neste sentido, conforme Danielle Pisani, temos necessidade de cuidar e conquistar recursos para a liberdade. A liberdade é um elemento fundante do Mundo, ela orienta a nossa existência. Ela não é a ausência de restrições ou limites, ela é a tomada progressiva de consciência de que não temos todas a possibilidades, e de que por essa via, necessariamente teremos que optar, escolher, decidir e assumir o comprometimento das nossas escolhas estejam elas certas ou erradas.

Estas restrições sinalizam o nosso contorno de ser e atuar no mundo e as relações que estabelecemos com este e com os outros, daqui decorre a consciência de que possuímos limites que nos marcam e demarcam. Estes sinalizam as fronteiras daquilo que somos, eles delimitam o espaço e tempo de vida que nos é dado a viver.

Possuímos os limites de fora e os de dentro. Appolloni refere que estes se enquadram numa esfera pessoal — o que consigo ou não — e os da esfera espacial, ou seja, do espaço de convivência, é dizer, quais as fronteiras que se estabelecem entre nós e o outro — o que quero ou não — e aquilo que me faz bem ou não.

Como ser relacionais que somos transitamos entre aquilo que é de dentro (interioridade) e o que é de fora (exterioridade). Neste trânsito marcamos limites, estabelecemos fronteiras, desse modo validamos os nossos limites pessoais, isto é, reconhecemos o que podemos ou não e o que conseguimos ou não fazer, procurando estar bem e em paz com isso. No fundo, quando assim é, honramos as nossas necessidades individuais, aceitamos as nossas limitações e definimos o nosso espaço íntimo e de convivência.

Esta é a fronteira que nos dá contorno e define o nosso ser, é ela que define o espaço da nossa individualidade e que nos proporciona o contacto com aquilo que temos de mais autêntico.

Liberdade não é dada, ela é conquista e construção conjunta. Somos livres na medida em que os outros também o são. É essa a medida da liberdade, o fluxo em livre-trânsito da relação, em que as regras são o respeito pela humanidade comum. A sua força é a amplitude do espaço existencial que se abre para que possamos viver em plenitude de vida, libertos do que nos oprime e amarra, sejam ideias, crenças, comportamentos ou políticas que se afastaram da vitalidade pulsante da vida na sua livre possibilidade de plenitude.

Liberdade Sempre.


Sugestões de Leitura |

Appolloni, R. (2019). Despertar, libertar, crescer. SELF.
Danielle Pisani de Freitas. Daseinsanálise e Liberdade. Revista Daseinsanalyse: Ed. Especial Números 15 E 16 (2011). Consultar  AQUI


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