A Medicina e o Futuro

A Medicina e o Futuro

Há muito sabemos que a Medicina é uma arte/ciência tão antiga quanto o homem. Desde que nos colocamos de pé e passamos a opor nossos polegares (característica exclusiva dos humanos), existem referências a curandeiros ou indivíduos preocupados com a preservação da saúde e vida de outros iguais.

Entretanto, nos últimos cento e cinquenta anos a Medicina deu um salto tecnológico. O que se viu ao longo desse século e meio supera todas as conquistas de que se tem notícia dentro da história (ou, pelo menos, das que restaram as referências e os conhecimentos transmitidos).

A pergunta que devemos fazer é: "porque é que isso ocorreu em tão pouco tempo"?

A resposta se inicia com a revolução industrial e se complementa diante do crescente investimento em inovações (novas tecnologias), especialmente nas áreas de tecnologia da informação e de comunicação, além do maior foco na prevenção das doenças, estratégias muito adotadas nestes tempos.

No campo da tecnologia da informação estamos vislumbrando o desenvolvimento de técnicas para o estudo mais detalhado das subpartículas atómicas (saúde quântica), bem como o avanço no uso de robôs como ferramentas de diagnose (em decorrência da possibilidade de armazenamento de dados e cruzamento de informações do paciente) e de tratamento (cirurgias ou procedimentos realizados por robótica e desenvolvimento de algoritmos que contribuem para a redução de erros médicos).

No entanto, tudo aquilo que é novidade, num primeiro momento, acaba por preocupar. Vários especialistas receiam que toda essa carga tecnológica possa vir a interferir na relação médico-paciente, a qual, desde os primórdios, é pautada no humanismo, respeito e acolhimento. No meu entender, todavia, os investimentos em tecnologia tendem a trazer menor carga operacional, o que, de modo geral, pode até contribuir para um atendimento mais humanizado e personalizado.

Tudo o que estamos presenciando na atualidade, especialmente nos últimos trinta anos, foi antecedido por outras inovações que, a princípio, também foram questionadas ou até rechaçadas, mas, "a posteriori", foram incorporadas à prática médica e tidas por revolucionárias, contribuindo para o aumento exponencial da expectativa de vida dos seres humanos. Entre elas cito cinco impactantes eventos:

A descoberta dos antibióticos.
O desenvolvimento das vacinas.
A descoberta do Raio X.
A realização dos transplantes de órgãos.
Os tratamentos envolvendo as células-tronco.

E o que podemos esperar para a medicina num futuro não muito distante?

A meu ver, o uso da Inteligência Artificial será algo rotineiro na medicina. Pela quantidade de informações coletadas, algoritmos poderão ser desenvolvidos para detetar doenças e, de conseguinte, indicar os melhores tratamentos. Ainda assim, penso que será necessária uma abordagem criteriosa e, "quiçá", complementada por exames e confirmação médica e diagnóstica convencional, ante a possibilidade de eventuais falhas desses algoritmos.

Outra inovação tecnológica com a qual temos convivido desde o início da pandemia trata-se da Telemedicina, recurso que proporciona aos médicos um ambiente digital para prestarem atendimento aos seus pacientes, por meio de teleconsulta e telediagnóstico. Na Telemedicina são utilizadas ferramentas de tecnologia da informação e comunicação, que permitem oferecer aos pacientes uma primeira ou segunda opinião médica, além da confeção de laudos à distância.

Já é de uso notório, igualmente, os Dispositivos “Wearables”, itens vestíveis que auxiliam leigos e profissionais, na medida em que captam e compartilham informações do paciente durante períodos de sono e vigília, tais como os ritmos do sono, detalhes sobre a frequência cardíaca, pressão arterial, entre outros.

Haveremos de chegar, ainda, ao uso rotineiro dos Minirrobôs, que, a depender do local de pesquisa ou tratamento, poderão ser introduzidos no corpo do paciente por via oral ou intravenosa, e, a partir daí, seguirão até o local exato da injúria, de sorte a permitir melhor avaliação da lesão em si, bem assim a realização, quando possível, de tratamento dirigido apenas aos tecidos doentes, preservando os tecidos normais. Esse tipo de tratamento, por certo, trará maior eficiência terapêutica, com menores sequelas e perdas funcionais.

Para finalizar, ressalto que a Medicina é uma ciência e, como tal, deve evoluir. Porém, é também uma arte: a arte de curar! Todas as ferramentas tecnológicas possíveis deverão ser incorporadas em benefício e comodidade do paciente, mas jamais poderão substituir a já consagrada relação médico-paciente, o calor humano, o acolhimento e a palavra amiga. Se isso acontecer, veremos a Medicina que conhecemos dar lugar a uma outra profissão!

Autor | André Luís de Castro - Médico com residência em Clínica Médica