Felicidade ou mera ilusão?

Felicidade ou mera ilusão?

Nem sempre fomos assim, mas claramente hoje somos!

A busca incessante da beleza está na génese das sociedades modernas, um fenómeno sociocultural que define muitas vidas e, a meu ver, para além de trazer escuridão intelectual, também vai esvaziando a alma, de uma forma lenta e progressiva.

A corpolatria pode ser definida como sendo “a doença” do século XXI, a preocupação permanente com o corpo, não no sentido de saúde, que seria considerada normal, mas sim na aparência. A minha beleza está no centro do universo, tudo o resto são pequenos e sombrios asteroides que orbitam à volta, invejando o meu narcisismo.

Ser mais bonito, mais magro e tonificado, enfim, o que preciso mesmo é de uma pele de bebé acoplada a uma cabeleira forte e saudável, não esquecendo nunca a isenção total de rugas. Os corpos transformam-se em busca de satisfação, a fonte de todas as alegrias, a única razão de viver.

Ao exibir corpos cada vez mais magros e perfeitos, a comunicação social apadrinhada pela indústria cinematográfica e pela alta-costura, alimenta a ditadura da beleza, da mesma forma que uma criança que partilha a sua sandes com os pombos num jardim perto de si. A verdadeira espetacularização do corpo cuja “selfie” se transformou num poderoso recurso de consolidação.

E os corpos que estão em contramão? Pergunta uma voz tímida. Coitados dizem eles… Ficam nas sombras a digerir a angústia enquanto sonham com os holofotes.

Os "Influencers" emergem na sociedade como ervas daninhas em clima tropical, o expoente máximo do capitalismo ao serviço de uma profissão. Uma forma de vida? Um sintoma do progresso, ou pelo contrário de que algo vai mal? Propaganda ao serviço do capitalismo? Será o corpo o verdadeiro caminho para a felicidade?

Perguntas difíceis de responder para um comum mortal, somos tantos e tão diferentes que é quase impossível encontrar uma fórmula única para a felicidade. Muitas vezes é preciso dar um passo atrás para podermos avançar dois. Na tentativa de dar resposta à grande questão:

O que preciso para ser feliz?

Aconselho o leitor a ler algumas das "dicas" dos grandes pensadores do passado:

Existe um local certo para viveres. — Ulisses de Homero

► É necessário procurar a sua própria excelência. A busca da excelência é a própria felicidade. — Aristóteles

► A entrega ao outro traz felicidade. Feliz aquele que consegue ver na alegria dos outros o resultado das suas ações. — Jesus Cristo

► Ter muita potência de agir, designada de alegria. Pensar que a alegria é eterna, desprepara a pessoa para a vida. A Perseguição da alegria é permanente e diária. — Baruch Spinoza

► A verdadeira felicidade pressupõe o uso adequado da liberdade. — Jean Jacques Rousseau

► Viver com ética, seja na relação com o outro ou no trabalho. Todas as suas atitudes devem respeitar os seus valores. — Jean Jacques Rousseau

► Amor tem de estar presente na sua vida, deve amar tanto o que não tem como o que tem. — Platão

Termino com um excerto de uma célebre canção de Jorge Palma que se relaciona com o tema do artigo… ou talvez não!

“A urgência de agarrar
Qualquer coisa para mostrar
Que afinal nós também temos mão na vida
Mesmo que seja à custa de a vivermos fingida
O estatuto para impressionar o mundo
Não precisa de ser mais profundo
Que o marasmo que nos atordoa”

Canção de Lisboa, Jorge Palma

 

Colaboração | BRSP

Fotografia | Ria Sopala