
36 Novos Sítios Classificados pela UNESCO
Em 1972 a UNESCO lança o programa de salvaguarda da herança cultural e natural universal
Há 36 novos sítios classificados como Património da Humanidade
A 44ª sessão do Comité para o Património Mundial aconteceu na cidade chinesa de Fuzhou, na China. Depois do interregno, em 2020, devido à pandemia, o mundo ficou a conhecer 36 novos bens classificados pelo organismo da UNESCO, desde a Turquia ao Peru, passando pela França ou Índia. Desta vez nenhum monumento ou paisagem portuguesa foi contemplada.
O ideal de preservação da herança cultural humana tem já uma longa história, à medida que as sociedades se vão construindo em torno de projetos que ficaram para história como símbolos de um povo, de uma época ou de um líder. Não é difícil recordarmo-nos de emblemáticos lugares que ainda hoje nos recordam as façanhas do génio humano como as pirâmides do Egito, a transposição do espírito e a transcendência da fé plasmados nos tetos da Capela Sistina ou a vontade de domar a natureza de acordo com as necessidades, como a paisagem dos socalcos das vinhas durienses.
Contudo, a ideia de criar uma organização internacional que “batalhasse” pela preservação da herança cultural, mas também do património natural apenas surgiria no início do séc. XX, no final da Primeira Guerra Mundial, por altura da Criação da Sociedade das Nações, organização que antecedeu a atual ONU (Organização das Nações Unidas). Apesar da vontade de vários estados-membros dessa extinta organização se sentirem sensibilizados para a criação de um organismo que tutelasse a preservação do património histórico-cultural universal, tal ideia não vingou, caindo no vazio do esquecimento.
O acontecimento que despertou o interesse internacional por esta problemática foi, de acordo com os registos da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a decisão de construir a barragem de Aswan, no Egito, o qual inundaria o vale que contém os templos de Abu Simbel, um tesouro inestimável da antiga civilização egípcia. Em 1959, após um apelo dos governos do Egito e do Sudão, a UNESCO, fundada a 16 de novembro de 1945, decidiu lançar uma campanha internacional de proteção. A pesquisa arqueológica nas áreas a serem inundadas foi acelerada e os templos de Abu Simbel e de Philae foram completamente desmontados, as pedras numeradas uma a uma, movidos para terra seca e remontados. Esta campanha custou, segundo os mesmos registos, 80 milhões de dólares americanos, com metade desta quantia a ser doada por cerca de 50 países.
O sucesso desta iniciativa levou a novas campanhas em Veneza (Itália), Moenjodaro (Paquistão) e Borobodur (Indonésia), entre outras, com o ideal de preservação do património a pegar literalmente de estaca, resultando em mais dois episódios fundamentais no esforço internacional de salvaguarda da herança natural e histórica humana: a criação do ICOMOS – international Council on Monuments and Sites (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) em 1964 e a assinatura da Convenção de Salvaguarda para o Património Mundial Cultural e Natural, em 1972, com o objetivo de “garantir, quanto possível, a adequada identificação, proteção, conservação e apresentação do património insubstituível do Mundo”, refere a UNESCO, no sítio do Centro para o Património Mundial na internet.
A partir dessa data, mas sobretudo na viragem para a década de 80, os países signatários da convenção (atualmente são 91, tendo Portugal ratificado o texto em 1980) têm-se reunido anualmente em assembleia, numa cidade de um Estado-membro, para decidir a classificação de novos sítios candidatos ao título de Património Mundial.
Este ano, depois de uma interrupção inédita em 2020, devido à pandemia, o Comité composto por 21 países, nomeados por sufrágio pelos Estados que assinaram a Convenção (para mandatos de seis anos, com Portugal a ter sido já eleito por duas vezes, entre 1999 e 2005 e ainda de 2013 a 2019, decidiram escolher 36 novos bens universais, entre eles encontram-se:
► Monte de Arslantepe (Turquia)
► Complexo arqueoastronómico de Chankillo
► Colónias de benevolência (classificação conjunta da Bélgica e Países Baixos)
► Farol de Cordouan e estância de inverno de Nice (França)
► Templo Kakatiya Rudreshwara e Dholavira (Índia)
► Mathildenhöhe Darmstadt e os sítios de Shum, Speyer, Worms e Mainz (Alemanha)
► Ciclos de Frescos de Pádua do século XIV e o conjunto dos Pórticos da cidade de Bolonha
► Paseo del Prado e Jardim do Retiro, Madrid (Espanha)
► Quanzhou (China)
► Paisagem de mineração Roșia Montană (Roménia)
► Paisagem de ardósia do noroeste do País de Gales (Reino Unido)
► Jardim Tropical de Roberto Burle Marx (Brasil)
► Grandes Cidades Termais da Europa (resultante da candidatura conjunta da Áustria, Bélgica, República Checa, França, Alemanha, Itália e Reino Unido)
► Igreja de Atlântida, de Eládio Dieste (Uruguai)
► Linha de Caminho de Ferro Transiraniana e Paisagem Cultural de Hawraman (Irão)
► Sítio Cultural de Himã (Arábia Saudita)
► Ilhas de Amami-Oshima
► Tokunoshima, Iriomote e parte norte da ilha de Okinawa e ainda os Sítios pré-históricos de Jomon (Japão)
► As Florestas tropicais e pântanos da Cólquida (Geórgia)
► Pântanos de Seocheon, Gochang, Shinan e Boseong-Suncheonhan (Coreia do Sul)
► Complexo Florestal Kaeng Krachan (Tailândia)
► Linhas Holandesas de defesa da Água (Países Baixos)
► Cidade de As-Salt (Jordânia)
► Fronteiras do Império Romano (Alemanha e Países Baixos)
► Petróglifos do Lago Onega e do Mar Branco (Rússia)
► Assentamento artificial e mumificação da cultura Chinchorro na região de Arica e Parinacota (Chile)
► Mesquitas de estilo sudanês (Costa do Marfim)
► Obras de Jože Plečnik em Ljubljana (Eslovénia)
► Parque Nacional de Ivindo (Gabão)
► Mosteiros de Popocatepetl do séc. XVI (México)
► As florestas de faias antigas e primitivas dos Cárpatos e de outras regiões da Europa (classificação distribuída por Albânia, Áustria, Bélgica, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, República Checa, França, Alemanha, Itália, Macedónia do Norte, Polónia, Roménia, Eslovénia, Espanha, Suíça e Ucrânia)
Desta vez Portugal não viu qualquer bem da sua lista indicativa (apresentada à UNESCO em 2016) ser votada pelo Comité. O nosso país, que conta já com 17 lugares classificados, assistiu, em 2019, à classificação do Bom Jesus do Monte, em Braga e ao Palácio-Convento e Tapada de Mafra.
A 44ª sessão do Comité, que este ano teve lugar em Fuzhou, na China, ficou ainda marcada pela decisão de retirar o estatuto de património mundial à cidade britânica de Liverpool, alcançado em 2004, votação que gerou uma forte contestação por parte das autoridades da cidade e do país, bem como da opinião pública. Segundo a UNESCO a responsabilidade da decisão deve-se a alterações urbanísticas levadas a cabo da zona de proteção e classificação do Património Mundial e da construção do novo estádio do segundo clube mais importante da cidade, o Everton.
Fotografia de capa | Jardim Tropical de Roberto Burle Marx (Brasil) - Halley Pacheco de Oliveira
[Em Atualização]