Lamego e a Senhora dos Remédios: Um Encontro entre Fé e Tradição
Todos os anos, a Festa de Nossa Senhora dos Remédios atrai a Lamego milhares de pessoas para participarem numa romaria com mais de quatro séculos de história, que tem o seu epicentro numa das mais importantes joias do património português, o santuário e escadório, obra-prima da arquitetura barroca.
No “querido” mês de agosto, cidades, vilas e aldeias enchem-se para celebrar o(a) padroeiro(a) das suas terras, exortando, em clima de festa, memórias num alegre regresso de emigrantes que agora se misturam com turistas das “sete partidas do mundo” (expressão idealizada pelo rei Afonso X, bisavô do nosso D. Dinis “o Lavrador”, um dos mais eruditos monarcas europeus, autor das célebres “Cantigas de Santa Maria”, referente fundamental da música e literatura medieval).
A festa de Nossa Senhora dos Remédios é uma dessas muitas celebrações que mistura religiosidade e profano, oração e folia, porventura uma das últimas da época estival, em mais de dez dias de funçanata que agora “invadem” o mês das vindimas. Mas não foi sempre assim. Em épocas mais remotas, a festa tinha lugar por volta de 5 de setembro, naquele tempo o dia dedicado a Nossa Senhora dos Remédios. Atualmente a data que os lamecenses dedicam à sua padroeira é 8 de setembro e as festas arrancam em agosto, para gáudio dos filhos pródigos que regressam à terra.
Pontos altos da festa são a Batalha das Flores (um dos momentos mais coloridos, que terá o seu princípio em 1914) o cortejo etnográfico, a “Marcha Luminosa” (manifestação nascida em 1924, que se inspira nas antigas marchas milanesas, caracterizada pelo desfile de carros alegóricos) e, finalmente, a Procissão do Triunfo, onde os andores são transportados por carros emparelhados com juntas de bois.
Não haveria, de todo, festa se o monte de Santo Estêvão não estivesse “decorado” com o extraordinário Santuário e escadório, uma das joias do património cultural religioso português, cuja edificação teve o seu início em 1750, sendo precisos mais de 150 anos para terminar esta obra magnífica.
A sua particular história leva-nos até 1361, quando, no lugar onde se encontra atualmente o santuário, foi erguida uma capela em honra a Santo Estêvão. No século XVI, quando o antigo templo começou a mostrar sinais de decadência, muito por culpa da diminuição da reverência do povo ao primeiro mártir do Cristianismo, foi decidido que o melhor caminho seria a sua demolição, que ocorreu em 1568. Movido pelo desejo de preservar a fé e a devoção, o bispado de Lamego tomou a iniciativa de erguer uma nova ermida no mesmo local, em evocação à Nossa Senhora. Foi na continuação das obras de santuário que, com grande reverência, que se colocou uma imagem da Virgem com o Menino, simbolizando a continuidade da devoção e da espiritualidade que ali florescia. Muitos começaram a rumar a este lugar em busca de alívio para as suas maleitas físicas, originando desta forma um culto fervoroso à iconografia de Nossa Senhora dos Remédios.
O santuário é um exemplo marcante do estilo barroco, com influências rococó, visíveis na riqueza dos detalhes decorativos. A fachada do santuário é ladeada por duas torres sineiras, construída em granito, conferindo-lhe uma generosa áurea de robusta imponência. No interior, o altar-mor abriga a imagem da Nossa Senhora dos Remédios, esculpida em madeira, e é complementado por vitrais que retratam figuras religiosas como Nossa Senhora da Conceição e o Sagrado Coração de Jesus. Nas paredes, os visitantes podem admirar painéis de azulejos que narram episódios da vida da Virgem Maria.
O escadório monumental que conduz ao santuário é composto por 686 degraus, distribuídos em nove lanços. Cada patamar é ricamente ornamentado com capelas, estátuas, fontes e obeliscos, sendo o "Pátio dos Reis" uma das secções mais notáveis, com estátuas que representam os reis de Israel, ancestrais de Maria. Este escadório é não apenas um desafio físico, mas também uma jornada espiritual para muitos peregrinos.
Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1984, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios é um local de profunda devoção, especialmente durante os dias da sua romaria. O santuário e a sua envolvente, incluindo o parque arborizado que o rodeia, oferecem uma combinação única de espiritualidade, natureza e património, enquadrando Lamego como eixo vital na compreensão da história, das tradições e das dinâmicas arquitetónicas do interior de Portugal.
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