Descubra o Património Cultural Italiano
Dia 5...
Florença é todo um universo de história da arte e da arquitetura que extravasa as fronteiras transalpinas e ganha eco um pouco por todo o mundo. O quinto dia do roteiro por Itália foi dedicado exclusivamente à cidade-natal de Dante Alighieri.
A cidade recebe-nos, pela noite, acossada pelo vento relativamente fresco que sopra a partir dos Apeninos, a cordilheira montanhosa que cruza, de norte a sul, a península itálica. Nesse conjunto montanhoso nasce o Arno, rio que banha a cidade de Florença. Por alturas de outubro o seu curso é ainda tranquilo, mesmo de noite, proporcionando autênticos espelhos de água que fazem as delícias dos fotógrafos que esperam ver refletidas as míticas pontes Vecchio (com as antigas casas suspensas, onde agora se encontram joalharias e algumas das mais importantes e luxuosas marcas globais) ou de Santa Trinita.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Ponte Vecchio ao entardecer.
Diga-se, a bom da verdade, que a ponte Vecchio, mais do que uma travessia, é uma verdadeira autoestrada cultural. No seu tabuleiro de apenas 95 metros de comprimento, cabe toda uma multitude de nações, apertadas em apenas 30 metros de largura. Cruzando o Corridoio Vasariano alcançamos o claustro da Galeria degli Uffizi, inundada de artistas, que, debaixo do manto noturno, ligam os focos para as suas telas, à espera que os turistas comprem as reproduções de algumas das grandes obras que se podem descobrir naquele que é o mais importante museu de arte da cidade onde nasceu e trabalhou Sandro Botticelli, em conjunto com Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti e Rafael, personagens universais que deixaram a sua marca entre a Academia, a Piazza della Sgnoria até ao Palazzo Pitti. Mas porque a metade do dia que nos contempla de escuridão se afundava cada vez mais, estava na hora de deixar a genialidade para o dia seguinte.
A manhã volta a fazer-nos recordar que a cidade dos Medici está demasiado próxima da montanha para termos um céu claro às primeiras horas da manhã.
O bulício da cidade começa a tomar conta da praça junto à basílica de Santa Croce, tesouro franciscano de história, arte e arquitetura. Depois de nos surpreendermos pela sua fachada composta de azulejos (e uma enorme estrela de David que se encontra logo acima da rosácea, provavelmente referência à religião do arquiteto da basílica, Niccolo Matas, um dos mais importantes membros da comunidade judaica da cidade de Ancona) e um campanário neogótico construído em pietraforte (uma pedra arenítica), ao cruzar o nártice do templo, somos imediatamente envolvidos pela grandiosidade do seu interior. Construída no século XIII, a igreja é um testemunho da riqueza artística da Renascença italiana. As suas paredes abrigam obras-primas de mestres como Giotto, Cimabue e Donatello, com destaque para altos-relevos e frescos que contam histórias bíblicas, para além das muitas esculturas que transcendem o tempo. O verdadeiro fascínio da Basílica de Santa Croce, no entanto, ultrapassa as impressionantes características decorativas e arquitetónicas. A par da basílica de S Pedro, em Roma, será provavelmente uma das maiores igrejas-túmulo da cristandade, aqui encontrando morada final das mentes mais brilhantes da história universal, como Michelangelo, Galileo Galilei e Maquiavel.
Fotografias de Artur Filipe dos Santos | À esq.Túmulo de Galileu Galilei. À dir. Túmulo-cenotáfio de Dante, interior da basílica de Santa Croce. O autor da Divina Comédia está sepultado em Ravena.
A rua Borgo dei Greci e a Via dei Gondi conecta a Piazza de Santa Croce (com a sua impressionante escultura em homenagem a Dante) com a de Piazza dei Firenze e dali em poucos minutos até à Piazza della Signoria, onde conflui um mar de turistas em busca do Palazzo Vecchio, da Loggia dei Lanzi (com a sua coleção de gigantescas esculturas renascentistas) mas também da Fontana de Neptuno e da estátua de Cosme I de Medici. Dali parte-se em direção ao espantoso Duomo, construído entre 1296 e 1436. Atentos aos carteiristas que abundam pelas imediações em busca de visitantes perdulários, vale a pena destacar a cúpula (projeto de Filippo Brunelleschi) e os frescos de Giorgio Vasari e Federico Zuccari, este último autor do Juízo Final no interior da cúpula. Em frente à monumental catedral podemos contemplar o batistério de S. João, para muitos a mais antiga construção de Florença, provavelmente de origem romana e onde sobressaem as enormes portas de bronze e o teto inundado de ícones.
A caminho da estação de caminho-de-ferro, a poucos metros descobrimos Santa Maria Novella, outro portento da arte a arquitetura florentina, a primeira basílica construída na cidade, desta feita pelos dominicanos, finalizada em 1470. Aqui trabalharam Vasari, Giotto e Ghirlandaio.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Ponte Vecchio.
De regresso à Piazza della Signoria é tempo de enfrentar o “ mar revolto” de turistas que inundam a Ponte Vecchio e que retardam a chegada ao Palazzo Pitti, já na margem norte do Arno. As suas obras impressionam tanto pela enormidade do seu acervo como das maravilhas do génio humano na capacidade de gerar arte tão complexa como bela.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos
Depois de recordar o cosmopolitanismo do Mercato dei Porcellino (famoso pelas carteiras e malas em couro), o final da tarde chega com merecido tempo de descanso à volta da mesa, apreciando o tradicional pão focaccia, temperada pela frescura de um aperol.
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