Marta Caride: A surdez não faz diferença!
Marta Caride: A surdez não faz diferença!
Marta Caride: A surdez não faz diferença!
Marta Caride: A surdez não faz diferença!
Marta Caride: A surdez não faz diferença!

Marta Caride: A surdez não faz diferença!

No desporto encontramos mais de 100 modalidades diferentes, entre elas podemos mencionar as categorias: Atletismo, com cerca de 16 modalidades, desportos coletivos, entre eles está o futebol, andebol, basquetebol, entre outros, são mais de 70 opções. Temos os desportos motorizados, desportos náuticos e aquáticos, desportos militares, desportos individuais, artes marciais e lutas, categorias onde se inclui a Esgrima (individual e luta), a modalidade que vamos partilhar consigo neste artigo.

Para sabermos mais sobre a Esgrima, a Draft World Magazine esteve à conversa com a Marta Caride, uma jovem de 19 anos que começou a praticar Esgrima há 7 anos: “Aconteceu quando tinha 13 anos, foi uma descoberta muito gira e deu para perceber o meu ‘jeito’ para a modalidade porque tudo acontecia com bastante naturalidade! O facto de ter praticado dança e ténis jogou a meu favor.”, garante Marta.

“Comecei a praticar esgrima através do desporto escolar, na Escola Almeida Garrett, em Gaia – de onde sou natural -, no 7º ano, em 2014. Não sei se foi amor à primeira à vista, descreveria mais como uma amizade à primeira vista! No ano seguinte, federei-me e entrei para a secção de esgrima do Sport Clube do Porto.”

Marta Caride

Quem é a Marta Caride?

A Marta Caride, nasceu há 19 anos, em Vila Nova de Gaia, a 27 de julho de 2001. A jovem nasceu com surdez bilateral, dando-lhe 60% de incapacidade, o que podia ter sido uma entrave na vida e sucesso de Marta tornou-se numa oportunidade para vencer e ser uma jovem resiliente, dinâmica e dedicada. A atleta adaptou-se à sua condição, mas não fala língua gestual. Pelo contrário, a surdez nunca foi um obstáculo. Sempre foi uma aluna de mérito escolar, acabou o 12º ano com média de 18, e além da Esgrima, gosta de praticar outros desportos, como o basquetebol. Atualmente, está a frequentar 1º ano de Medicina, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

O que é a Esgrima?

Desporto de combate descendente de técnicas ancestrais de utilização de armas brancas desde que o homem se conhece, a esgrima é atualmente uma das modalidades integrantes dos Jogos Olímpicos da Era moderna desde a sua primeira edição (1896).

Disputada em três diferentes disciplinas, correspondentes às diferentes armas existentes na modalidade (Florete, Espada e Sabre) com regras próprias, na esgrima, cada assalto opõe dois adversários, frente-a-frente, sobre uma pista metálica com 14 metros de comprimento e 1,5 metros de largura.

Independentemente da arma utilizada, o objetivo da modalidade passa por tocar no adversário sem ser tocado, sendo que, o vencedor de um combate de eliminação direta será aquele que for capaz de conquistar 15 pontos (15 toques) antes do seu adversário ou de, chegado ao final do tempo regulamentar, ter mais toques que este.

Para além da vertente competitiva que tem nos Campeonatos de Mundo e nos Jogos Olímpicos o seu expoente máximo, a esgrima tem-se vindo a afirmar também como uma modalidade desportiva adaptada a todas as idades, podendo contribuir para a melhoria da coordenação motora, preparação física, capacidade de concentração e destreza técnica e mental de todos os seus praticantes.

A arma de Marta é a florete. Como ficamos a saber, na esgrima existe também o sabre e a espada.

“A regra básica é a de tocar sem ser tocado! É preciso uma grande capacidade de concentração, foco e de tomada de decisão rápida!”

Marta Caride

Vamos conhecer melhor cada uma das armas utilizadas na Esgrima 

Marta Caride com o Florete

Florete |

É a mais leve das três armas. O toque tem que ser efetuado com a ponta da arma, sendo que este apenas será válido na zona do tronco (barriga, peito e costas). Além disso, por ser uma arma convencional está condicionada pela regra que dá prioridade ao esgrimista que ataca.

Espada |

Tal como no florete, na espada, para o toque ser válido, deve ser efetuado com a ponta da arma. A zona válida corresponde a todo o corpo e não existe qualquer tipo de convenção, sendo o ponto atribuído ao esgrimista que tocar primeiro ou aos dois atletas caso o toque seja dado em simultâneo.

Sabre |

O toque tem que ser efetuado com ponta ou com o gume e contra-gume da arma, sendo que este será válido na zona do tronco, cabeça e braços. Tal como no florete, por ser uma arma convencional está condicionada pela regra que dá prioridade ao esgrimista que ataca.*1

A rotina dos treinos durante a Covid-19

Nesta fase de pandemia, a rotina da esgrimista sofreu alterações, os treinos têm sido inconstantes: “não foi propriamente fácil! Estive os dois anos de Júnior num vazio competitivo, por causa da pandemia. Procurei trabalhar a condição física geral, em casa – mas não há nada como um bom trabalho de pernas orientado na sala!”

Segundo a atleta, a prática de esgrima foi retomada mais consistentemente em abril, de 2021, na sequência da convocatória que a esgrimista recebeu para integrar a seleção nacional no Campeonato do Mundo juniores, no Cairo.

“Guio-me por objetivos e, talvez por isso, senti algumas dificuldades em estar motivada. Mas acredito que já passou!”

Marta Caride

Marta Caride nos Treinos de Esgrima

O desporto é uma atividade física sujeita a determinadas regras e que visa a competição. Embora a capacidade física seja o fator-chave para o resultado final da prática desportiva, existem outros fatores igualmente decisivos, como é o caso da destreza mental ou ainda do equipamento do desportista. Acima do seu lado competitivo, os desportos são uma forma de entretenimento quer para os praticantes, quer para os espetadores. *2

No vídeo, Marta Caride fala sobre a Esgrima, mostra o seu equipamento e partilha connosco algumas das regras deste desporto individual de luta

As Competições na Voz da Esgrimista

“Pratico esgrima há cerca de sete anos e guardo com especial carinho meia dúzia de competições!”, destaca Marta.

A prova do Circuito Internacional Cadetes de Budapeste, em 2017, foi incrível o 13º lugar! E foi incrível conseguir realizar as ações que me propunha e ver que estava a evoluir!

► O 4º lugar, na Marathon CIP Challenge - entre 172 atletas de todo o mundo, em 2018, Paris, foi muito importante. É uma prova incrível, que fascina esgrimas de todo o mundo.

► O Campeonato da Europa 2018, na Rússia, foi muito desafiante – as russas jogavam em casa e elas são muito fortes - consegui fazer 12º lugar! No ano seguinte, senti-me muito feliz na Polónia, com o 27º lugar no Campeonato do Mundo, quando me estreei como atleta Júnior!

► Em Portugal, o Campeonato Nacional de Seniores 2019 foi inesquecível - consegui(mos) os títulos de Campeã Nacional Individual e por Equipas e senti um imenso orgulho por todo o trabalho que tinha desenvolvido e, também, pelo espírito de equipa do Sport Club do Porto!

“Recebi uma educação baseada no querer-acreditar-trabalhar-sonhar-concretizar e, a verdade é que, ser surda nunca me impediu de sonhar!”

Marta Caride

A Surdez é um obstáculo?

Marta Caride foi diagnosticada com surdez bilateral aos dois anos de idade. Como a jovem atleta diz: “só me conheço nesta realidade, ou seja, uma Marta que acorda, põe os seus “Widex” [aparelhos auditivos] e realiza a vida normalmente. Disse há dias numa entrevista à Federação Portuguesa de Esgrima que recebi uma educação baseada no querer-acreditar-trabalhar-sonhar-concretizar e, a verdade é que, ser surda nunca me impediu de sonhar! Um seguidor comentou nas redes sociais: “...nunca impediu de sonhar e de concretizar!” Então é isso, vivo feliz com a minha realidade, vivo rodeada da família e de amigos que me ajudam com tudo o que é necessário! A surdez contribui para ter um foco e atenção muito peculiares.

O Futuro e os Apoios

A esgrimista tem como objetivo conciliar a esgrima com a vida académica: “Estou a estudar Medicina. O futuro vai ajudar-me a saber como!”, sublinha.

Marta Caride refere que as modalidades desportivas em Portugal precisam de mais apoios para os atletas e os clubes. A atleta fala sobre as dificuldades: “Há muito envolvimento das famílias! Consigo fazer a carreira internacional graças a patrocinadores. Tenho sempre de fazer um agradecimento à Associação Nascidos para Triunfar, às Balanças Marques, à Hiterland Architecture Studio e à Widex!”, sublinha.

Enquanto atleta de Alto Rendimento, Marta recebe uma bolsa do Instituto Português do Desporto e Juventude.

Marta Caride deixa uma mensagem e um desafio a todos aqueles que têm curiosidade em conhecer a Esgrima: “Procure um clube de esgrima, pegue num florete e aventure-se! E eu estou disponível nas redes sociais para dar umas dicas!”.

*1 Fonte | Federação Portuguesa de Esgrima

*2 Fonte | Conceito