O Big Ben Ecoou pela primeira vez!
#LondHistoryDay celebra passado da capital britânica
Icónico, o som das badaladas do conhecido sino da torre do Parlamento não passa despercebido a londrinos e aos turistas que visitam a capital do país de Sua Majestade. Soou pela primeira vez a 31 de Maio, há precisamente 162 anos.
“Brexit’s” à parte, Londres é uma cidade notável. Na capital do Reino Unido ainda se consegue sentir a atmosfera de um império onde, até meados do séc. XX, “o Sol nunca se punha”. Caminhar pelo The Mall e dar de caras com o memorial da Rainha Vitória e esperar pelo render da Guarda no Palácio de Buckingham é como “ir a Roma e ver o Papa”. Mirar Lord Nelson no alto do seu pedestal em Trafalgar Square, ficar “cego” com os néons de Picaddily Circus, são experiências indispensáveis no roteiro de qualquer viajante e, para os bolsos mais endinheirados, um roundabout na Oxford Street, uma visita aos Armazéns Harrods e Selfridges se queremos levar um souvenir chique de uma das mecas económicas mais importantes da Europa.
Mas é junto ao Tamisa que a sensação de vivenciar Londres mais se faz sentir, quando passeamos por Victoria Embankment, ou atravessámos London Bridge, esperando que o fantasma de Jack “O Estripador” não se materialize para nos estragar a aventura.
Alcançada a margem de lá, em South Bank, a nossa objetiva reivindica por captar um “boneco” das “Houses of Parliament”, quando, de repente, é a audição que substitui a visão como sentido em alerta.
O Big Ben, o maior sino da Elizabeth Tower (originalmente conhecida como a Torre do Relógio, rebatizada em 2012 por alturas do jubileu de diamante da rainha Isabel II), a célebre torre do neogótico parlamento britânico, estrutura oitocentista que se destaca no horizonte da antiga Londinium romana, marca, de forma reconhecidamente audível, mais uma hora.
As suas badaladas não deixam locais ou turistas indiferentes, sobretudo ao meio-dia ou à meia-noite, quando os doze toques nos recordam as famosas passagens de ano e como o compasso do icástico som atesta a passagem do tempo.
Já são poucos os britânicos que recordam 1952, data em que o Big Ben, numa única e sentida oportunidade, tocou bem mais que 12 vezes, 56 no total, em sinal de luto pela morte do rei Jorge VI (pai da atual monarca), falecido com outros tantos anos de idade.
Em 1859, tanto a torre, como o relógio e, claro, o grande sino (acompanhado ainda por quatro sinos menores) de 14 toneladas e de 2,28m de altura, entravam ao serviço da sociedade inglesa, desesperada por chegar sempre pontualmente aos seus afazeres.
A origem do nome é discutível. Muitos atribuem-lhe o epíteto a Sir Benjamin Hall, ministro das obras públicas que, à época, supervisionou os trabalhos do arquiteto Augustus Pugin durante os 15 anos que levaram à conclusão das obras. Outros, provavelmente mais entusiastas do desporto, afirmam que a origem da designação residirá em Benjamin Caunt, campeão de boxe na categoria de peso pesado.
Finamente há quem defenda que o nome é uma homenagem ao relojoeiro Benjamin Lewis Vulliamy, autor do sempre preciso relógio da torre.
E a história da mesma, do relógio e dos seus sinos - conjunto classificado como Património da Humanidade em 1987 - é de tal forma impactante para a vida dos londrinos que, trinta anos depois da distinção da UNESCO, a edilidade e o governo decidiram que a 31 de maio (de 1858, quando o Big Ben se fez ouvir pela primeira vez) a cidade passaria a celebrar o "London History Day", no qual museus como o de Cera da Madame Tussaud’s, o Museu Britânico ou de História Natural, e ainda os palácios de Kensington, Whitehall e Clarence House, sem esquecer a Torre de Londres, dedicam um dia muito especial à história de uma cidade que, mais do que todas as suas atrações é, certamente, um verdadeiro ícone pop.
Autor | Artur Filipe dos Santos, doutorado em Comunicação e Património pela Universidade de Vigo, é professor universitário e investigador no ISLA-Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia e membro do ICOMOS - International Council of Monuments and Sites. Especialista do património cultural e dos Caminhos de Santiago, é o autor do blogue “O Meu Caminho de Santiago” e autor de vários artigos e palestras sobre a tradição jacobeia.
Fotografia de capa | Mary R Smith
Fotografia no texto | Rudy e Peter Skitterians