
Atletas Distinguidas no Dia da Mulher
Atletas que deram o exemplo no pós-carreira distinguidas no dia internacional da mulher
O Comité Olímpico de Portugal (COP) celebrou no Dia Internacional da Mulher as atletas olímpicas que, após a sua carreira desportiva ao mais alto nível, enveredaram pelo empreendedorismo e deram corpo a capacidades, porventura adquiridas durante o percurso desportivo, para construir projetos próprios.
Foram 14 as atletas participantes em Jogos Olímpicos, de Los Angeles 1984 ao Rio 2016, que no auditório do COP, em Lisboa, receberam o tributo de quem lhes reconhece serem um exemplo inspirador de transformação da experiência e da motivação colhidas no desporto em projetos profissionais bem-sucedidos numa nova fase das suas vidas:
Ana Dias
Atleta olímpica na prova de 5000 metros em Atlanta 1996, nos 10 mil metros em Sydney 2000 e da maratona em Atenas 2004 e Pequim 2008, fundou em março de 2015 uma loja de material de corrida para treino e competição, com as melhores marcas acessíveis a corredores de todos os níveis.
Ana Hormigo
Atleta olímpica na prova de Judo em Pequim 2008, formou em 2007 vários clubes no distrito de Castelo Branco e em 2012 oficializou um projeto próprio com a criação de uma associação sem fins lucrativos na área do desporto. A sua Escola de Judo tem apresentado resultados a nível nacional, com judocas integrados na Seleção Nacional e tem também no historial o apoio a crianças e jovens em risco de exclusão.
Catarina Fagundes
Atleta olímpica em Atlanta 1996 na prova de prancha à Vela, desenvolve no Funchal, desde 2004, atividades de observação de aves terrestres, à qual se juntou, em 2010, a observação de aves marinhas. Ganhou o prémio “João Borges 2010”, atribuído pela Câmara Municipal do Funchal, pelo contributo para a inovação e qualidade das atividades marítimo-turísticas na Madeira.
“Os valores e as qualidades que alcançamos no desporto se calhar temos de os pôr em dobro ou triplo na atividade profissional”
Diana Gomes
Atleta olímpica em Atenas 2004 e Pequim 2008, participando nas provas de 100 e 200 metros bruços, gere atualmente dois negócios, um espaço de restauração com conceito de proximidade, que existe desde 2014, e um atelier de arquitetura e design que desde 2017 presta serviços de arquitetura, interiores e consultoria.
“Tinha terminado o curso de Arquitetura e as portas pareciam não querer abrir-se, então eu abri uma janela. Deixei as piscinas em 2014, nas vésperas de abrir um estabelecimento de restauração com o pequeno pecúlio que tinha guardado dos meus tempos áureos dentro de água e atirei-me de cabeça. Dois anos mais tarde começaram a chegar os trabalhos de Arquitetura até que fez sentido juntar-me a uma grande amiga e abrir um atelier. Ser jovem e mulher foi um desafio, mas a garra que o desporto me deu não deixou que nada nem ninguém me tirasse a força ou o desejo de vingar.”
Dulce Félix
Atleta olímpica nas provas da maratona em Londres 2012 e Rio 2016, abriu recentemente a sua loja especializada em vestuário infantil, concretizando um desejo antigo.
“É um orgulho estar aqui. A minha empresa é muito recente, mas é um sonho de anos. Este último ciclo olímpico abriu-me os olhos e fez-me olhar para a vida de uma maneira diferente. Passei uma má fase por causa do Covid e pensei que tinha de dar outro rumo à vida. Juntei-me à minha irmã e abrimos a empresa. Agora é trabalhar. Vou arriscar e lutar, não sou de deitar a toalha, porque ainda não acabei a minha carreira, ainda tenho uma palavra a dar. O Comité Olímpico sempre me apoiou e não me esqueço que sempre me ligaram durante a pandemia a perguntar como estava a minha situação.”
Fernanda Ribeiro
Atleta olímpica nos 3000 metros em Seul 1988 e Barcelona 1992, competiu depois na prova dos 10 mil metros em Atlanta 1996 (campeã olímpica), Sydney 2000 (medalha de bronze) e Atenas 2004. Fundou uma academia de Atletismo que acompanha os atletas desde a iniciação ao alto rendimento e ainda nas vertentes de lazer, saúde e bem-estar.
Promove e dinamiza vários eventos competitivos da modalidade e ainda formação para técnicos e professores de Educação Física. “Comecei a minha carreira com 9 anos e acabei com 42, e sempre disse que queria continuar ligada a crianças, mas não como treinadora. Então resolvi abrir uma academia em 2014, que já tem muitas crianças e pessoas de idade. E agora aquelas crianças são as minhas medalhas.”
Filipa Cavalleri
Atleta olímpica nas provas de Judo em Barcelona 1992, Atlanta 1996 e Sydney 2000, criou uma academia de ensino da modalidade que procura o desenvolvimento físico, motor, sensorial, mental e social, visando o equilíbrio e a harmonia, ao mesmo tempo que oferece soluções para os que procuram o alto rendimento desportivo.
“Na véspera de Natal, com 15 anos, com toda a confusão própria de uma família numerosa, pois somos sete irmãos, o tema era o judo e a minha mãe verbalizou o que eu sentia: ‘Ainda haveremos de ver a Filipinha nos Jogos Olímpicos.’ Todos desataram a rir na minha cara, eu corei, tinha deixado de ser segredo, Construí os meus objetivos. Através dos valores olímpicos, Excelência, Amizade e Respeito, aprendi que temos de semear para colher. Dos sonhos nascem as vitórias, é isso que agora tento passar aos meus alunos.”
Helena Rodrigues
Atleta olímpica de Canoagem em Pequim 2008 e Londres 2012, detém um espaço de terapia manual, para correção de problemas biomecânicos e posturais, oferecendo uma abordagem integrada da saúde humana e combinando os conhecimentos base das ciências médicas e da saúde com os das terapias complementares, como a fisioterapia e a osteopatia.
Helena Rodrigues citou Saint-Éxupery, quando foi homenageada: “’Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.’ Eu deixei algo à minha modalidade, mas ela ter-me-á deixado mais. Ensinou-me a capacidade de superação. Eu sempre soube o que queria, ir aos Jogos Olímpicos e ter um gabinete de fisioterapia. Sempre fiz desporto, a Canoagem deu-me muito e aquilo que sou hoje devo-o a ela. O desporto torna-nos pessoas melhores, é isso que digo aos meus filhos. Quem passa por ele encara a vida de uma forma diferente.”
Mafalda Queiroz Pereira
Atleta olímpica nos Jogos Olímpicos de inverno Nagano 1998, participou na prova de esqui estilo livre. Tem estado envolvida no desenvolvimento de projetos no sector imobiliário, integrando também, a partir de 2018, o conselho de administração da Semapa e da Sonagi.
Margarida Carmo Manz
Atleta olímpica em Los Angeles 1984, em Ginástica rítmica, está atualmente à frente de um grupo que começou por ser de fitness e se expandiu depois para outras áreas de bem-estar e entretenimento, e tem atualmente uma oferta integrada de produtos e serviços que englobam também formação, eventos e até vinhos.
“Tive a grande sorte de falir o meu primeiro negócio. Aprendi que não sabia gerir um ginásio e que não devia fazer sociedade a não ser com o meu marido. Com alguma sorte e muito trabalho criámos uma escola de formação, fazemos eventos e mais recentemente temos um projeto de vinhos.”
Mariana Lobato
Atleta olímpica de Vela em Londres 2012, fundou em 2019 uma empresa de serviços técnicos, logísticos e de consultoria a empresas e entidades que operam no ramo marítimo. Faz ainda desenho, produção, comercialização e revenda de peças personalizadas, organização de eventos e comercialização de barcos e outro material náutico. “Em todos os projetos há sempre um não, vais fracassar, mas eu vou atrás e penso: vais conseguir. Vou sempre buscar a lembrança da qualificação olímpica.”
Marisa Barros
Atleta olímpica na prova da maratona em Pequim 2008 e Londres 2012, abriu em 2019 um gabinete de terapias manuais que disponibiliza serviços de tratamento e de massagem. “Esta homenagem é agridoce porque estou no pós-carreira, apesar de continuar a carreira. As dificuldades, as lesões deram-me estofo e ensinaram-mo o gosto pela minha profissão. Ser desportista deu-me a capacidade de lutar.”
Rita Borralho
Atleta olímpica em Los Angeles 1984, também na maratona, gere atualmente uma empresa de consultoria desportiva, que oferece também treino personalizado. “Uma doença gravíssima impossibilitou-me de continuar no Brasil, voltei, encontrei pessoas fabulosas que cuidaram de mim muito bem. Tinha poucas esperanças de vida, mas felizmente tive um deus que cuidou de mim. Em 2007, o meu oncologista disse-me: ‘Agora quero que te ocupes, não podes continuar sem fazer nada.’ O que é que eu vou fazer? – perguntei. Tu tens de fazer o que fazias no Brasil – respondi - e criei a assessoria desportiva.”
Rita Gonçalves
Atleta olímpica em Londres 2012, na modalidade de Vela, fundou em 2016 uma empresa de representação de material e equipamento náutico que inclui barcos, roupa e outros materiais. Desenvolve ainda estágios, enquadramento técnico e organização de eventos. “Tens de lutar, tens de continuar, tens de inovar, os atletas são assim, querem sempre acrescentar valor. As atletas têm o dom de equilibrar a atividade profissional com a vida pessoal. O medo faz-nos seguir. Sem medo não evoluímos.”
Na abertura da sessão, Carla Ribeiro, vogal da Comissão Executiva do COP, sublinhou que a celebração do Dia Internacional da Mulher visa dar “visibilidade à necessidade da paridade de géneros e empoderamento das mulheres. Com isto ganhamos todos.” E citou Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional: “A igualdade de género não é uma preocupação das mulheres, é uma preocupação da sociedade.”
Elisabete Jacinto, presidente da Comissão Mulheres e Desporto do COP, lembrou que a homenagem feita pelo COP às atletas olímpicas se trata de um “gesto simbólico” que “realça o valor do desporto na formação individual.” E atribuiu às homenageadas a imagem de “modelos inspiradores”, que provam “que o desporto não é uma atividade limitada. O desporto forma para a vida, as homenageadas provam isso.”
A apresentadora de rádio e consultora de comunicação, Carla Rocha, proferiu a conferência “Empreender é uma atitude – três barreiras a ultrapassar”. “Empreender é uma atitude, não chega ter uma ideia de negócio, implica testar”, defendeu Carla Rocha, elencando “três barreiras que conseguimos identificar e podem demover este espírito empreendedor.” Primeiro está a Sociedade, que é relutante ao risco, onde o fracasso é sobrevalorizado e existe o receio da falência. A solução é filtrar o que nos dizem, testar o negócio e repetir.
A segunda barreira: Nós. “Eu não sou suficiente”, existe o complexo de inferioridade. O melhor antídoto para aquilo a que chamou a “síndrome do impostor” é a preparação, a formação contínua, a mentoria. Finalmente, considerou que a barreira número três é o Crescimento. “Aqui podemos ter forças que nos dizem: vais perder qualidade se cresceres.
A solução é formar equipa, construir relações de confiança, delegar.” Carla Rocha deixou então cinco ideias-chave para empreender: tentar sem receio de falhar; começar pequeno mas pensar grande; nunca parar de aprender; rodear-se de pessoas geniais; e arriscar.
O presidente do COP, José Manuel Constantino, explicou que esta homenagem do Dia Internacional da Mulher teve um propósito: “Procurámos reconhecer o vosso exemplo, para outros atletas que, terminando a carreira, procuram ir à luta e construir o seu negócio. O vosso testemunho é um motivo que acrescenta valor”, defendeu.
A finalizar falou João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e Desporto: “Estes são exemplos inspiradores que temos de replicar. Esta causa dos direitos das mulheres infelizmente ainda continua muito atual.” E comparou a primeira participação de mulheres portuguesas em Jogos Olímpicos – três, em Helsínquia 1952 – com a de Tóquio 2020 – onde estiveram 36. “Estamos além de onde estivemos, mas estamos muito aquém de onde queremos verdadeiramente estar.”
Fonte | Comité Olímpico de Portugal
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